- Por Larissa Beppler | Redação da Central do Timão
Nesta segunda-feira, 26, o Conselho Deliberativo (CD) do Corinthians se reunirá no Parque São Jorge para dar continuidade à votação do pedido de impeachment do presidente Augusto Melo. No último dia 20 de janeiro, o órgão aprovou a admissibilidade das acusações contra o dirigente, com 126 votos a favor e 114 contra. No entanto, devido ao avançado da hora e a um acordo entre os órgãos do clube e a defesa do mandatário, a reunião foi suspensa com base no artigo 85 do estatuto, o que a mantém permanentemente aberta e permite sua conclusão na noite de hoje.
A acusação aponta para irregularidades cometidas pela gestão, especialmente no caso envolvendo a VaideBet, patrocinadora máster do clube entre janeiro e junho de 2024. O presidente do Corinthians responde por sua conduta nas negociações e pelo contexto da rescisão do contrato, encerrado de forma unilateral pela casa de apostas após a revelação de um escândalo: a comissão destinada à intermediária indicada pela diretoria foi desviada para contas de empresas de fachada ligadas ao crime organizado.

O assunto tem agitado os bastidores do Corinthians há meses e despertado dúvidas entre os torcedores. Para ajudar a esclarecer essas questões, a Central do Timão preparou uma explicação detalhada sobre o processo de destituição do mandatário.
Pedido de impeachment
O pedido de impeachment do presidente Augusto Melo foi formalizado em agosto do ano passado, após a rescisão do contrato com a VaideBet. A casa de apostas acionou uma cláusula anticorrupção, alegando danos à sua imagem após a revelação de um escândalo envolvendo uma empresa de fachada na intermediação do acordo. Com a ruptura, o Corinthians deixou de receber mais de R$ 300 milhões pelo patrocínio, que seria válido até 2026, totalizando R$ 370 milhões, o maior contrato do futebol brasileiro até então.
Cerca de 85 conselheiros do clube assinaram o requerimento de destituição do presidente, que foi anexado ao processo disciplinar aberto pela Comissão de Ética e Disciplina. A medida foi recomendada pela Comissão de Justiça do Conselho Deliberativo após uma investigação interna sobre o contrato de patrocínio com a casa de apostas e seus desdobramentos.
Requisitos estatutários
O estatuto do clube determina que são motivos para requerer a destituição do presidente da diretoria:
“a) ter praticado crime infamante, com trânsito em julgado da sentença condenatória; b) ter acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians; c) não terem sido aprovadas as contas da sua gestão; d) ter infringido, por ação ou omissão, expressa norma estatutária; e) prática de ato de gestão irregular ou temerária.”
Os signatários do pedido sustentam que, em razão da atuação e omissão de Augusto Melo, a imagem da instituição foi lançada em um contexto de notícias degradantes, além de alegarem que ele também teria violado o estatuto e a Lei Geral do Esporte.
Parecer da Comissão de Ética e Disciplina
Após analisar o caso e ouvir a defesa do dirigente, o comitê disciplinar do clube emitiu um parecer ao Conselho Deliberativo recomendando a suspensão do processo até a conclusão do inquérito policial que estava em andamento.
Cabe pontuar que a Comissão de Ética não possui poder deliberativo, sendo responsabilidade do Conselho Deliberativo decidir se acata ou não suas recomendações. Diante disso, o presidente do CD Romeu Tuma Júnior, no uso de suas atribuições estatutárias, determinou que o processo fosse levado à votação no plenário do órgão.
Quem vota?
Na reunião desta segunda-feira, a votação caberá aos membros do Conselho Deliberativo, composto por cerca de 300 conselheiros – sendo 200 trienais, eleitos no último pleito para representar os associados até 2026, e 100 vitalícios. Na primeira parte da sessão, iniciada em 20 de janeiro e ainda oficialmente aberta, 240 conselheiros estiveram presentes e analisaram o mérito das acusações.
A defesa do presidente Augusto Melo argumenta que apenas os conselheiros que participaram daquela ocasião estejam habilitados a votar nesta segunda, além de sustentar que os signatários do pedido de impeachment não deveriam ter direito a voto. No entanto, o presidente do Conselho Deliberativo ainda não se pronunciou sobre essas questões.
Como será a votação?
De acordo com o edital de convocação e conforme determina o estatuto do clube, Roberson de Medeiros, presidente da Comissão de Ética e Disciplina, fará uma apresentação de até 30 minutos. O presidente Augusto Melo, ou um representante designado por ele, também terá até 30 minutos para apresentar sua defesa aos conselheiros.
Na sequência, será realizada a votação, que ocorrerá de forma sigilosa, com o uso de cédulas de papel. Embora alguns conselheiros tenham solicitado que o processo fosse nominal, o pedido foi recusado, pois o estatuto do clube determina o sigilo em situações como esta. A apuração dos votos será feita imediatamente após a votação, com a proclamação do resultado.
Também não está descartada a possibilidade de a votação ser adiada, caso o presidente do Corinthians consiga uma nova liminar para suspender a reunião, como já ocorreu antes, embora a decisão tenha sido derrubada posteriormente. Em entrevista coletiva, a defesa de Augusto Melo admitiu que há dois movimentos processuais em andamento em nome do mandatário: um tramita no Tribunal de Justiça e o outro está sendo encaminhado ao Supremo Tribunal Federal.
Possíveis cenários após a votação
Se o impeachment não for aprovado no plenário do Conselho Deliberativo, o processo será arquivado. No entanto, se houver maioria a favor da destituição de Augusto Melo, ele será afastado imediatamente do cargo, sendo substituído pelo primeiro vice-presidente, Osmar Stábile.
Contudo, o afastamento definitivo de Augusto dependerá da ratificação dessa decisão pelos sócios do clube. O presidente do Conselho terá até cinco dias para convocar uma assembleia geral dos associados, sem um prazo definido para a votação, que, espera-se, aconteça dentro de trinta dias.
Caso os sócios rejeitem o impeachment, Augusto Melo retoma a presidência e o processo é arquivado. Contudo, se a destituição for aprovada pelos sócios, o Conselho Deliberativo será convocado para escolher o novo presidente do clube por meio de eleição indireta, na qual somente os membros do órgão poderão concorrer e votar.
Vale lembrar que, além do atual processo de impeachment, há outros procedimentos em andamento contra o presidente dentro do clube, incluindo um pedido de afastamento imediato, elaborado pela Comissão de Justiça após a reprovação das contas de 2024, que o acusa de gestão temerária com base na Lei Geral do Esporte.
Estágio do inquérito policial
Após um ano de investigações, a Polícia Civil de São Paulo concluiu o inquérito sobre o caso VaideBet com o indiciamento de quatro pessoas pelos crimes de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Entre os indiciados está o presidente do Corinthians, Augusto Melo. Também foram indiciados Sérgio Moura, ex-superintendente de marketing, Marcelo Mariano, ex-diretor administrativo, e Alex Cassundé, indicado pelo clube como intermediário no acordo com a casa de apostas.
A investigação, conduzida pelo delegado Tiago Fernando Correia, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), conseguiu rastrear o caminho do montante pago pelo Corinthians à suposta intermediária do contrato. Segundo a polícia, os valores foram desviados por meio de uma complexa rede de transferências bancárias – descrita no inquérito como um “percurso maquiavélico” – que terminou na empresa UJ Football Talent Intermediação. Essa empresa foi apontada por Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), como parte das operações do grupo criminoso no mundo do futebol.
Agora, o caso será encaminhado ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que analisará as conclusões do delegado e todas as evidências reunidas pela investigação desde maio do ano passado. Vale lembrar que um promotor do MP acompanhou de perto o trabalho da Polícia Civil ao longo do inquérito, participando inclusive das oitivas – uma prática comum, que busca dar mais agilidade e eficácia aos procedimentos investigativos.
O MP-SP tem total autonomia para decidir os próximos passos em relação à investigação conduzida pela Polícia Civil. A promotoria pode acatar integral ou parcialmente as recomendações de indiciamento, modificar alguma das acusações, incluindo crimes não apontados pela polícia, ou até mesmo rejeitar as conclusões do inquérito e solicitar seu arquivamento.
Nesta nova etapa, o Ministério Público pode solicitar novas diligências ou depoimentos, caso considere necessário para esclarecer os fatos. No entanto, também é possível que a decisão seja tomada com base apenas na análise dos autos do inquérito. Com isso, existe a possibilidade de que o presidente Augusto Melo nem chegue a ser ouvido pelos promotores.
Se o MP-SP decidir pela continuidade do inquérito, seja mantendo as acusações da polícia ou alterando-as, ele apresentará a denúncia dos envolvidos à Justiça, que deverá analisá-la e decidir sobre seu recebimento. Caso a denúncia seja aceita, será instaurado um processo na primeira instância, tornando os acusados, oficialmente, réus.
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