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MAIS QUE UMA TORCIDA: “Tá vendo aquela Arena, moço? Ajudei a levantar…”

Edimar trabalhou na fase final da construção da Arena Corinthians. Mas, somente no último sábado (21), cinco anos depois, ele pode realizar seu sonho

Ele esperou cinco anos para ver o Corinthians jogar na casa que ele ajudou a construir (Foto: acervo pessoal)

No último sábado (21), nossa redação acompanhou, além de uma vitória do Corinthians sobre o Bahia, uma história de espera de quem nunca perdeu a esperança e que marca o retorno do Timão aos campos do Campeonato Brasileiro. Uma história que deve levar à reflexão todo corinthiano.

O título da matéria passa pela música “Cidadão” de Lúcio Barbosa, gravada por Zé Ramalho, cujos versos retratam a realidade de muitos trabalhadores da construção civil, corinthianos ou não.

Edimar e família (Foto: acervo pessoal)


Edimar da Silva Firmino tem 30 anos, é casado, pai de dois filhos, o Luan de 7 anos e a Manuela, de 7 meses) e apesar das dificuldades da vida, é uma pessoa feliz. Mora em Campinas/SP. Pintor predial, trabalha nas alturas pintando fachadas de prédios. Em 2014 era empregado em uma pequena empresa de Campinas que foi terceirizada para fazer o trabalho de pintura da Arena Corinthians. Numa sexta-feira foi com seu patrão conhecer o trabalho que deveria fazer no estádio mais belo do mundo. O coração corinthiano de Edimar não cabia em si de tanta felicidade.

“- Quando cheguei, que vi o estádio de longe, me arrepiei inteiro. Não acreditava que deixaria a marca das minhas mãos no estádio do meu Corinthians!”

Começou numa segunda-feira faltando pouco mais de dois meses para a inauguração da Arena. Saía de Campinas às 5 horas da manhã, na segunda-feira e só voltava no sábado à noite para passar o domingo com a família. O trabalho estava atrasado devido ao acidente que havia acontecido. Começava o trabalho às 8 horas da manhã e ia até tarde da noite, às vezes até meia-noite. Foi contratado para fazer a pintura das arquibancadas móveis e tudo o que se relacionava a elas: banheiros, lanchonetes, chão, ferragens. Lá mesmo começaram a aparecer outros trabalhos. Pintar a parte de baixo das arquibancadas norte e sul, banheiros, o chão, lanchonetes, ferragens dos camarotes e estruturas, rejuntar aqueles pilares que tem as pastilhas.

Edimar postava, em suas redes sociais, o orgulho de fazer parte da história da Arena do seu time do coração. (Imagem: acervo pessoal de Edimar)

Foram dois meses de trabalho deixando o coração nas paredes. Só parava na hora das refeições, porque o trabalho estava atrasado, a Copa do Mundo estava chegando e o Corinthians não podia fazer feio. Dormia em um motel próximo ao estádio, passava só os domingos em casa com a família.

“- Eu me orgulho muito de ter trabalhado lá, o meu filho sabe que eu trabalhei lá, meus amigos sabem, a Manuela quando crescer vai saber que eu trabalhei lá, quando eu tiver neto eu vou contar pra ele, eu me orgulho muito”, a voz de Edimar transmite emoção.

Um punhadinho da primeira grama da Arena Corinthians guardada na carteira (Foto: acervo pessoal)

Edimar acompanhou um dos primeiros treinos do Timão na Arena. Tem orgulho de mostrar que realizou um sonho que é sonhado por milhares de corinthianos: guarda, na carteira, um punhadinho da primeira grama da Arena. É sagrado.

Perguntado sobre nunca ter ido assistir a um jogo na Arena, Edimar explica sobre problemas financeiros.

“- Sempre paguei aluguel, estive uma época desempregado, minha esposa bancou a despesa da casa, depois outra época foi ela que ficou desempregada… e sempre moramos de aluguel. Agora construí dois cômodos no terreno da casa da minha mãe, então me livrei do aluguel, acabou sobrando um dinheirinho e eu consegui realizar meu sonho, graças a Deus”, diz, orgulhoso.

Para conseguir ingresso e passagem mais baratos, Edimar se cadastrou à torcida organizada Estopim da Fiel e foi em caravana para a Arena. Pelo whatsapp nos transmitia sua emoção.

“Tô muito empolgado pra amanhã. Dessa vez vou sozinho, mas da próxima vai a família inteira.” “Dormi nada. Adrenalina está a mil por hora.” “Vamos sair de Campinas 15:30. Ansiedade está daquele jeito.”

Às 18:49h chega a mensagem esperada: “Cheguei. Emoção a flor da pele”

Demorou para acontecer. Cinco anos. Mas valeu a pena esperar. Edimar foi da melhor maneira, daquela maneira que todo torcedor sonha: no setor Norte, onde a partida tem muito mais que 90 minutos, pois a torcida canta e pula antes, durante e depois do jogo, com um amor ao Timão que invade o campo, faz tremer os adversários e dita o ritmo do estádio.

Edimar no setor Norte da Arena Corinthians, no sábado, 21/09/2019 (Foto: acervo pessoal)

Edimar conta que cada vez que chegava mais perto do estádio, seu coração acelerava mais e mais, numa emoção que só ele era capaz de sentir.

“- Não tenho como descrever estar na Arena. Foi uma coisa mágica, inesquecível, vai ficar marcada pra sempre na minha vida. Estar no meio da nossa torcida, abraçar um desconhecido na hora do gol, gritar até perder a voz não tem preço. E ainda sair com uma vitória do Timão!”, vibra o torcedor.


Talvez Edimar tenha passado a mão pelas paredes. Não perguntamos.

Cinco anos. Mas, o que são cinco anos para um Fiel corinthiano? É como dizem: e aqueles que esperaram 23 anos?…

O coração desse pintor de prédios, acostumado a lidar com as cores nas alturas, é cheio desse amor em preto e branco que estampa o sorriso e enche de fé e esperança uma torcida sem igual. Nem melhor, nem pior que nenhuma outra. Impossível comparar. Simplesmente mais que uma torcida. Fiel.

Por Nágela Gaia

Se você quer conhecer melhor o Edimar, ele está no Twitter com o perfil @edimar___


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