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Por Daniel Keppler / Redação da Central do Timão

Na última sexta-feira, 27, o ex-diretor jurídico do Corinthians Vinícius Cascone concedeu entrevista para o podcast Deu Zebra Cast, onde falou por cerca de 1h40 abordando diversos temas sobre o clube e também sobre sua passagem pelo Parque São Jorge. Um dos assuntos discutidos foi a sua proposta de mudança do modelo associativo do Alvinegro, onde o futebol teria autonomia administrativa.

Segundo Cascone, qualquer ideia de reforma administrativa do Corinthians precisa ter em conta que, para ser aprovada, precisa ser bem recebida pelos sócios do Parque São Jorge, pois são estes que detém o poder de aprovar ou vetar tal reforma. Assim, o ex-diretor procurou, dentro de sua proposta, atender a parte dos principais interesses destes sócios, que giram em torno, sobretudo, da manutenção e melhoria do clube social.

“Eu tenho que fazer uma construção que eu engaje todas as pessoas. Eu tenho que respeitar os direitos do clube associativo. Eu sei que a torcida fala que ‘chega disso’, mas eu preciso construir algo, até porque são eles (sócios) que têm que aprovar qualquer mudança estatutária. Então, se não tiver uma proposta que eu sinalize para o associativo que eu também vou melhorar a vida dele, nada vai passar.”

Cascone afirmou que uma reforma com potencial de aprovação no Parque São Jorge precisa prever não apenas a profissionalização do futebol do Corinthians como também a do próprio clube social. “A torcida precisa entender que qualquer proposta de fato amplie a participação, tanto para votar e ser votado, (que promova) a profissionalização do clube, eu também garantir algumas coisas para o associativo, porque é ele que vai decidir a alteração estatutária”, argumentou.

A partir deste raciocínio, o ex-dirigente alvinegro iniciou, há pouco mais de um ano, segundo ele, a elaboração de um modelo de reforma administrativa para o Corinthians, inspirado sobretudo pelo modelo de gestão do Green Bay Packers, equipe de futebol americano que atuou na Neo Química Arena em 2024 pela NFL. Ele descreveu sua proposta, de forma resumida.

“Dentro do estatuto, se daria autonomia ao futebol, com um CNPJ filial, por exemplo. Aí, se criaria uma nova modalidade de associado, o associado do futebol, que não poderia frequentar o Parque São Jorge – porque esse é um outro gargalo que a gente tem (a superlotação do clube social). Então, preservamos o clube (social), certo? Para o associativo ficar tranquilo. E esse associado do futebol poderia participar da vida política do clube apenas no futebol, não no associativo.”

Dessa forma, segundo a proposta de Cascone, o futebol masculino, feminino e de base ficariam a cargo desta nova estrutura, dedicada à modalidade a partir de um CNPJ filial, enquanto as outras modalidades administradas pelo Corinthians, como futsal e basquete, ficariam a cargo do clube social. Ele continuou desenvolvendo a ideia:

“O futebol seria um departamento autônomo, dentro do estatuto. A estrutura do clube social continuaria, o Conselho Deliberativo, com os vitalícios, trienais, com o presidente, o CORI (Conselho de Orientação), todo mundo. Mas apenas para discutir o associativo. No futebol, eu ia ter um modelo de gestão diferente.”

Este “modelo de gestão diferente” que cuidaria do futebol seria formado por uma estrutura profissional, segundo o projeto de Cascone. Seria criado um Conselho de Administração do Futebol, com 21 membros, sendo 11 eleitos pelo clube social em eleições separadas da diretoria executiva, e outros dez, eleitos pelos associados do futebol. Mas como o torcedor faria para se tornar um destes associados?

“Seria criada uma segunda modalidade de associado, onde ele compraria um título patrimonial do futebol, no mesmo valor do clube social, R$ 2 mil. Só que com uma anuidade diferente, de R$ 120 por ano, o equivalente a R$ 10 por mês. Seria uma injeção de dinheiro importante no clube, e que seria destinado exclusivamente para o pagamento da dívida. Então, 100 mil pessoas nessa cota do futebol seriam R$ 200 milhões que entrariam, automaticamente, para você abater a dívida do clube.”

Cascone ressalvou que o número de 21 membros para o Conselho de Administração é uma sugestão, mas pode mudar. Então, este órgão, após definido, escolheria três de seus membros para compor um Comitê Executivo. “(Este grupo) Teria a responsabilidade de organizar o trabalho diário do futebol, com executivos profissionais. Futebol masculino, futebol feminino, base, marketing, comunicação, jurídico, tudo separado do clube associativo. Uma estrutura enxuta, mas profissionalizada”, explicou.

Este Comitê Executivo seria responsável por implementar métodos de governança no futebol corinthiano, com a obrigação de prestar contas aos associados através de relatórios mensais das atividades, da mesma forma que empresas de capital aberto devem fazer com seus acionistas. Além disso, segundo a proposta, os trabalhos deste comitê seriam auditados, com a produção de relatórios independentes, a fim de garantir transparência nos atos de gestão.

O “gatilho” da proposta do ex-diretor para que os associados do clube social apoiem a ideia é, sobretudo, financeiro. Isso pois o modelo prevê que 10% das receitas do futebol sejam destinados ao Parque São Jorge, a título de remuneração pelo uso da marca Corinthians. Isso representaria, em 2024, algo em torno de R$ 111,5 milhões (ou aproximadamente R$ 9,3 milhões por mês).

“Seria como se fosse um pagamento de royalties. Então, o associativo teria mais dinheiro do que tem hoje e (poderia) investir nas demais modalidades, e turbiná-las, inclusive. Porque se a gente consegue resolver o problema da nossa dívida fiscal, a gente tira a CND (Certidão Negativa de Débitos). E tirando a CND, eu vou ter (acesso a) projetos incentivados. O Flamengo arrecadou R$ 97 milhões assim para suas modalidades. Veja só, o potencial que a gente tem para investir nas demais modalidades do clube.”

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