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BLOG DO RICARDO RIBEIRO: Oswaldo Brandão, o Libertador

A Fiel carrega Oswaldo nos braços (imagem do livro “Oswaldo Brandão” de Maurício Noriega)

Na última segunda-feira, completaram-se 36 anos que ilustríssimo técnico e vitorioso Oswaldo Brandão fez a última partida comandando o Corinthians. Brandão sempre com muita sabedoria soube extrair muito dos nossos jogadores e tinha muito respeito e carisma com a fiel torcida.

Sua forma de agir, de conduzir o grupo e o que os próprios jogadores diziam sobre ele, o fez ser mais e mais respeitado por todos. Sempre muito austero, exigente e profissional ao extremo. Já em 1954, era conhecido pela sua capacidade de mudanças das partidas e a facilidade em manter o grupo todo coeso no objetivo proposto.

Aliás, foi ele que nos deu o título do IV Centenário e retornou para nos fazer acreditar que o título de 77 era possível e nós acreditamos até o apito final naquela quinta-feira, 13/10/77. Ao todo o amado Oswaldo Brandão dirigiu o Corinthians por 435 jogos intercalados por cinco passagens: De 1954 a 1957, 1964 a 1966, 1968, 1977 a 1978 e 1980 a 1981.

Dia 15 de julho de 1983, numa partida contra o Juventus, foi a despedida do ídolo.

Transcrevo, para os mais jovens, a narrativa brilhante do jornalista cronista esportivo Maurício Noriega, uma das que mais me faz voltar àquele dia 13 de outubro de 1977, uma passagem do livro “Oswaldo Brandão – Libertador Corinthiano, Herói Palmeirense” :

“13/10/1977

Uma multidão invadiu o gramado do estádio do Morumbi. Fazia apenas alguns segundos que o Corinthians tinha sido campeão paulista, após vinte e dois anos e alguns meses de jejum. Histeria coletiva, choro, gente percorrendo de joelhos o campo de jogo, pagando promessas.

O repórter Carlos Eduardo Leite, o Dudu, da TV Cultura de São Paulo, aproxima-se de José de Souza Teixeira, auxiliar técnico do Corinthians. Microfone em riste, ele percebe Teixeira inabalável, apenas observando.

Não vai comemorar, Teixeira?” – pergunta.

“Eu sabia que seríamos campeões” – respondeu, com o olhar fixo em uma cena em particular.

A poucos metros dali, um senhor algo grisalho, de sorriso e bigode fartos, era carregado por uma procissão. Parecia que o povo conduzia o altar de um santo, agradecendo uma graça recebida.

Aquela imagem do Brandão sendo carregado pelo povo está na minha memória. Eu fiquei em pé, em cima da cobertura do banco de reservas, olhando tudo aquilo. Os policiais tinham levado o troféu embora, esconderam dos torcedores.

“Mas eles não queriam o troféu, queriam o Brandão” – recorda Teixeira.

Naquela noite fria de 13 de outubro de 1977, Oswaldo Brandão estava cumprindo sua maior missão. Espírita kardecista, ele ainda demoraria 12 anos para desencarnar, como dizem os adeptos da doutrina.

“Eu me guardo. Choro pra dentro” – dizia aos repórteres.

Mas, naquela noite, milhões viram Brandão chorar, ao vivo e pela TV. Um paletó azul-escuro que cobria um suéter azul celeste sobre uma camisa social branca se destacava no mar de gente que escondia o verde do gramado. Parecia flutuar acima deles. Todos queriam tocá-lo. Vestindo o paletó estava Brandão.

E ele chorava. (…) Embora colecionasse títulos de torneios mais importantes, Brandão passaria a ser lembrado para sempre, a partir daquela noite, como o técnico que tinha libertado o povo corintiano da escravidão de gozações e humilhações dos adversários.”