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EPÍSTOLA CORINTHIANA: 109 anos de Timão

Em carta, pai deixa heranças de caráter sentimental para filho que está para nascer

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Enfim, chegou o dia 1° de setembro e, com ele, o nascimento do filho de Gabriel está prestes a nascer. Como bom corinthiano, o Fiel não poderia deixar de mostrar ao filho um pouco mais sobre um dos motivos de sua existência, como forma de herança eterna, plantada no coração de seu pequeno Danilo, nome escolhido a dedo, em homenagem ao decisivo meia que atuou pelo Time do Povo de 2010 à 2018.

Em um baú preto com listras brancas, alusivas à camisa mais icônica do Alvinegro, com vários ítens raros, junto com uma carta, que explica o significado de cada peça do baú. 

“Filho, sei que será corinthiano, que esta será a maior herança possível, então preciso lhe passar parte da história do nosso Timão.

Guardei para você uma camisa histórica, de 1914, quando o tio Neco e amigos dele ganharam o primeiro título da nossa história, o Paulistão. Você vai aprender que “o Corinthians é o time do povo e o povo é quem vai fazer o time”, como disse o tio Miguel Battaglia, quando o Corinthians foi fundado, lá em 1910, quando nem mesmo o vovô havia nascido.

Corinthians no álbum Balas Futebol de 1953: Gylmar, Homero, Olavo, Idário, Goiano, Roberto, Claudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Souzinha

Nesta caixa branca tem uma camisa de quando ganhamos do nosso rival, o Palmeiras, fora de casa pela primeira vez, uma faixa de campeão do IV Centenário e uma foto do time que foi campeão da Pequena Taça do Mundo, em 1953. Neste ano, sim, o seu avô já tinha nascido, tinha dez anos, a idade que comecei a escrever sobre o Coringão. Inclusive, foi ele que preencheu esse álbum de figurinhas que vinham nas balas antigamente. Tem vários craques nessas páginas, como o Luizinho, que tinha a altura da sua mãe, o Cláudio, que o vovô chamava de Gerente e do Baltazar, que só fazia gol de cabeça. 

Numa caixa com o número 77, deixei tudo que seu avô me deu sobre o Paulista de 1977, há muito tempo. Nesta época, o nosso Timão estava sem ganhar esse campeonato há mais de 20 anos e essa camisa que tá guardada é igual a que o tio Basílio usou na noite em que fomos campeões.

Foto: Blogdovini

Olha essa miniatura, filho! É do Sócrates, um dos maiores ídolos da história do Corinthians. Ele se juntou à outros jogadores para fazer o bem às pessoas, na chamada Democracia Corinthiana, na década de 80. Tinha o Casagrande, o Wladimir, que eu conheci pessoalmente, o Biro-Biro e outros jogadores muito bons na época. 

Um pouquinho embaixo, tem os jornais que eu guardei para um dia te mostrar, da época em que ganhamos o título Brasileiro pela primeira vez, em 1990, um pouco antes de o papai nascer. Esse na capa é o Neto, melhor jogador do time na época. Os outros jornais são de quando o Timão venceu o Brasileiro duas vezes seguidas e o Mundial pela primeira vez. Era um time fantástico, meu filho. Eu tinha apenas quatro anos nessa época, mas seu avô acompanhava tudo.

Olha isso, Danilo. É uma miniatura do Ronaldo, o meu maior ídolo. Ele jogou no Corinthians quando eu tinha 13 anos e eu até raspei a cabeça em sua homenagem, como a sua quando você nascer. Ele ganhou tudo pelo mundo todo, mas foi aqui que ele se sentiu abraçado depois que se machucou e virou corinthiano que nem a gente.

Foto: Divulgação

Essa camisa que tá junto é de 2019, quando o time homenageou o craque, dez anos depois que ele começou a jogar pelo nosso time.

Foto: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Deixei a melhor parte pro final: esse kit tem até mesmo a origem do seu nome. Eu e sua mãe, a Lu, escolhemos seu nome porque teve um jogador que vestiu a camisa do Corinthians como poucos e ganhou tudo: Brasileiros, Libertadores, Mundial, Recopa, Paulistas, tudo sob o comando do tio Adenor, que a gente chamava de Tite, que foi um técnico sensacional que passou pelo Corinthians. O Danilo jogava muito bem, sabia? Tinha uma habilidade que surpreendia a gente quando íamos pro estádio. 

Foto: Divulgação/Agência Corinthians

Nesta sacolinha com São Jorge desenhado, tem várias lembranças de quando conheci sua mãe, lá em agosto de 2017, quando nosso primeiro encontro foi em um jogo do Timão. Naquele ano, ganhamos o Paulista e o Brasileirão, na nossa Arena Corinthians, que recebeu Copa do Mundo e Olimpíadas. Foi lá que o Timão jogou depois de muitos anos jogando no Pacaembu e no Parque São Jorge.

Foto: Bruno Teixeira Rolo/Agência Corinthians

Para finalizar, deixei essa faixa que diz ‘Respeita as minas’, porque futebol é, sim, coisa de menina. Sabia que o time das meninas do Corinthians ganhou mais de 30 jogos seguidos em 2019? Elas bateram até um recorde mundial na época. Quando você entrar na escola, pode brincar com seus amiguinhos falando que até as vitórias das meninas do Corinthians tem Mundial e o Palmeiras, não.

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Meu pequeno, deixo tudo que foi do seu avô e meu relacionado ao Corinthians para você, como herança. Mas não esquece que a sua verdadeira essência corinthiana estará no melhor lugar possível: dentro do seu coraçãozinho de louco do Bando.”

Por Gabriel Salvati