Fagner – a cada passo, uma superação
A história de pessoas vencedoras sempre despertou minha curiosidade. Até porque sei que o acaso não faz vencedores. Para chegar lá é preciso mais que sorte, mais que sina de campeão. Só acreditam em sorte aqueles que não tiveram a curiosidade de olhar a história por trás do sucesso. Quem a vê, descobre a quantidade de trabalho, sofrimento, solidão e superação que a pessoa precisou enfrentar. A história de Fagner é assim. Ele me encanta. Assisti um programa na tv uma vez (não me lembro qual), onde sua esposa dizia que o que mais gosta nele é o seu coração, e finalizava: “Ele é muito bonzinho… ele é bonzinho demais.”
Dias de luta, de solidão. Criado no Jardim Capelinha, um bairro simples na Zona Sul de São Paulo, aos seis anos viveu o primeiro baque. Após a separação dos pais, teve a ausência de uma das coisas mais importantes na vida de uma criança: a mãe. Ele e o irmão foram criados pelo pai. Brincando, chocou-se contra uma porta de vidro, entrou em risco de morte ou amputação do braço esquerdo. Socorrido em um hospital público, uma cirurgia errada (nos ligamentos rompidos) quase lhe fez amputar o braço. Se recuperou depois, em outro hospital, e o pai vendeu o carro para pagar a cirurgia. Por isso, já adulto, para cobrir a cicatriz, passou a fazer tatuagens.
Moleque talentoso, foi descoberto em 1999, numa escolinha de sua região. Com apenas 9 anos pegava três conduções (trem e ônibus), num trajeto de quase três horas e ia sozinho para o treino no Parque São Jorge. O pai tinha que trabalhar, e não podia levá-lo. Começou como atacante, foi volante, meia, zagueiro e quando faltou um lateral direito, o técnico pediu para ele treinar, ali ele se fixou. Mas um outro técnico quis mandá-lo embora por ser muito baixo. A diretoria o bancou.
Um dia não foi relacionado para um campeonato. Não se conformou. Pediu autorização para jogar por uma escolinha de Santo Amaro. Se inscreveu na quinta-feira e no sábado já jogou a competição. Brilhou. Conseguiu ajudar o time a chegar às semifinais e jogar contra o Corinthians. A partida terminou em 2 x 2, e ele foi o melhor em campo, fazendo um gol e dando o passe para o segundo. O time da escolinha perdeu nos pênaltis para o Timão. Naquele dia, provou seu valor. Acabou premiado como o melhor jogador do campeonato. A partir dali se firmou no Timãozinho e, em pouco tempo, já era titular e capitão. No Corinthians ganhou títulos em todas as categorias até o sub-17, ganhou bolsa de estudos e costuma dizer que também formou seu caráter.
Em 2006, novamente, faltava um lateral direito para um jogo. Dessa vez, no time profissional. O Timão. O técnico Emerson Leão chamou o menino do sub-17 para jogar a partida contra o Fortaleza. Começou ali sua carreira. No fim do ano, foi vendido para o PSV, e foi para a Holanda. Com apenas 17 anos, sozinho e sem ser aproveitado (depois da mudança de técnico, nunca mais jogou), pensou em largar o futebol. Prometeram apartamento, mas ficou morando na casa de um casal e sem receber salário.
Voltou desempregado. Casou jovem (19 anos) com a prima de um amigo de infância. Partiu do Vasco da Gama a oportunidade de voltar a jogar (seria Éderson apenas uma desculpa que os flamenguistas usam para odiar tanto o Fagner? Me parece que o verdadeiro motivo é ele ter brilhado no rival Vasco).
De lá para cá, nós já sabemos. Eu sinto um orgulho danado quando vejo histórias assim. Exemplo para tantos que desistem antes de começar.
Determinado, disciplinado, focado, família, feliz. Jogador do Corinthians e da Seleção Brasileira. Ele lutou muito para isso. Dias de glória.
Você pode me seguir nas redes sociais:
Twitter/ @nagelagaia
Instagram/nagelagaia
Facebook/nagelamvalmeida