- Por Redação da Central do Timão
Na tarde desta terça-feira, 1º, o presidente do Conselho Deliberativo (CD) do Corinthians Romeu Tuma Júnior falou à imprensa sobre as polêmicas e investigações envolvendo o clube nos últimos meses, incluindo o processo de impeachment de Augusto Melo, seu próprio afastamento do cargo, e a investigação sobre as gestões passadas, realizada pela EY, ex-consultora do clube.
Tuma revelou que entregou nesta terça-feira, 1º de abril, sua defesa no processo que pede seu afastamento. Segundo apurou a Central do Timão, o dirigente precisou se manifestar apenas nos requerimentos impetrados pelo presidente Augusto Melo e pelo conselheiro Roberto Willian Miguel, o Libanês, já que outros dois, assinados por sócios e conselheiros do clube, foram arquivados de ofício pela Comissão de Ética e Disciplina (CED) por “falta de justa causa”.

“Pedido descabido”
O presidente do CD afirmou que fez sua defesa em respeito à instituição Corinthians, mas que entende que o pedido feito é “descabido”: “Na minha opinião, o estatuto não tem previsão legal para pedir suspensão, afastamento preventivo, liminar, de conselheiro e de presidente do conselho. O estatuto é muito claro. Não cabe isso. Você tem que dar direito à ampla defesa. Aliás isso é tudo aquilo que as pessoas tem reclamado (no processo de Augusto Melo): direito à ampla defesa, devido processo legal. E eu acho que também tenho que ter esse direito.”
Tuma prosseguiu o pensamento. “Eu, antes de ser presidente do Conselho, eleito pelos meus pares, sempre fui em oposição. Lutei muitas vezes para que o estatuto fosse respeitado. Eu não poderia, como presidente do conselho, desrespeitar o estatuto ou permitir que alguém desrespeitasse. Então, eu não acho que caiba suspensão liminar, sem julgamento, sem direito de se defender. Quais são as acusações que pesam contra mim? Porque eu faço cumprir o estatuto? Porque eu peço para as pessoas cumprirem o Estatuto? É minha obrigação legal e estatutária”, afirmou.
O dirigente reforçou, na sequência, que o pedido de impeachment de Augusto Melo não partiu dele, e lembrou que o mandatário alvinegro foi eleito com seu apoio: “Eu sempre fui parceiro do presidente Augusto. Na eleição nós ficávamos juntos. Agora, eu não posso, quando vem um pedido de impedimento, fazer diferente do que o estatuto determina. No começo, a oposição falava que eu estava protegendo o presidente. Depois, quando começou a andar o processo e foi a julgamento, os partidários do presidente começaram a falar que eu estava acelerando.”
Para Tuma, o fato de ter sido atacado por apoiadores e opositores de Augusto Melo durante o processo de impeachment do presidente é um sinal de que sua atuação como “juiz” do caso está correta. Ele lembrou, ainda, que em um passado recente existia uma reclamação contínua entre torcedores sobre a falta de ação dos órgãos fiscalizadores do Corinthians sobre possíveis irregularidades de gestões passadas, e que suas atitudes como dirigente vem no sentido de não repetir essa omissão.
“Eu era um que reclamava. Por que eu fui eleito presidente do Conselho? Justamente para fazer cumprir o que está no estatuto, doa a quem doer, até a mim, injustamente. Mas eu, respeitando o estatuto, respeitando o Corinthians, respeitando os conselheiros, vim apresentar minha defesa, ainda que eu ache que seja arbitrário o que estão fazendo. Ainda que eu entenda que não tem nenhum amparo jurídico, estatutário. Está tudo bem. É melhor a democracia com justiça do que uma ditadura. É muito melhor.”
O dirigente ainda questionou as motivações dos ataques aos quais vem respondendo: “Esse movimento talvez não seja contra mim. Talvez seja justamente contra os órgãos de fiscalização. Talvez seja aquilo que as pessoas não querem que sejam fiscalizadas. A gente reclamou tanto, na época da Renovação & Transparência, eu era um árduo cobrador das coisas que aconteciam. E por que a gente não pode cobrar hoje?”
Relatório da EY
Tuma usou o caso do relatório da EY como exemplo de algo que vem sendo cobrado de Augusto Melo pelo CD. “O presidente falou que mandou investigar, e a gente viu que tem um contrato que mandou investigar as gestões passadas. O que eu quero? Quero que apresentem o que tem contra as gestões passadas para a gente tomar providência se houver alguma coisa. Se não houver, nós temos que falar que não tem nada. Porque a nossa torcida, os leitores de vocês, ficam atacando, por que não fez isso na gestão do Duílio, do Andrés. Se eles (atual diretoria) foram investigar, tem que apresentar o resultado.”
Ele lembrou que, em 2024, o próprio CD investigou cinco contratos da gestão Duílio, entregando os resultados da análise ainda no primeiro semestre daquele ano. “Foi apurado, o resultado foi apresentado no Conselho, e eu nunca sentei em cima de nada. Tudo que é pedida apuração dentro do estatuto, dentro das regras, a gente faz. O que a gente tem de questões, de cobranças, de documentos, a gente apura. Essa é a vida democrática do clube. Agora, o que eu não posso ver é isso se virar contra mim, porque eu mando cumprir o estatuto”, protestou.
Tuma afirmou que já consultou a EY sobre a possibilidade de receber uma cópia dos resultados, mas a consultora nega, respondendo que já os entregou à diretoria – informação confirmada em apuração pela Central do Timão. Segundo a EY, pendências em relação ao pagamento pelos serviços prestados impedem a empresa de fornecer o laudo da investigação, cujos resultados preliminares foram entregues à diretoria no primeiro semestre de 2024. O Conselho Deliberativo segue pedindo à gestão que compartilhe as informações com os conselheiros.
“Eu não protejo ninguém. Eu protejo o Estatuto do Corinthians. As coisas aqui têm que ser passadas a limpo. Agora, eu virei o alvo. Não acho que é por que sou eu, o Romeu Tuma Júnior. É porque a gente está tomando decisões de investigar tudo. Tudo aquilo que é denúncia, a gente investiga. É nosso papel.
(Continua após o vídeo)
Lei Geral do Esporte
Na sequência, Tuma afirmou que seus posicionamentos à frente do CD também tem como motivação o cumprimento da Lei Geral do Esporte, instituída em 2023 e que determina a responsabilidade solidária de membros de órgãos fiscalizadores frente a irregularidades cometidas em instituições desportivas que não são investigadas internamente e geram prejuízos financeiros.
“Aquele que é parte de um órgão de fiscalização, que recebe uma denúncia e não dá andamento, não manda apurar, ele passa a ser responsável pelos danos sofridos pela instituição. Então, a gente se associa à questão financeira. Se houve prejuízo, eu recebi uma denúncia e não mandei investigar, não mandei apurar, eu entro com meus bens para pagar a conta. Então, assim, não é só (questão de) querer (investigar). A gente é obrigado a fazer isso. Senão, você vira solidário a qualquer prejuízo que o Corinthians sofra.”
Esse foi um dos motivos, inclusive, pelo qual Tuma reuniu denúncias de corinthianos membros do Fiel Torcedor, recebidas de várias formas pelo clube, e encaminhou à Polícia Civil para abertura do inquérito que tramita na Divisão de Crimes Cibernéticos (DCCIBER) do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) desde novembro do ano passado, em segredo de Justiça. O dirigente observou que, mesmo com mais de 50 boletins de ocorrência abertos por torcedores em 2024, a atual gestão do clube jamais levou os casos às autoridades.
“Eu, como presidente do CD, demandado por conselheiros, associados do clube, associados do Fiel Torcedor, vendo todas aquelas notícias, recebendo denúncias, não poderia ficar calado. Se não tinha resposta da diretoria aos ofícios do conselho, descumprindo o estatuto, eu não podia acumular denúncias e prevaricar. Eu procurei a polícia, notifiquei os fatos, e a polícia instalou um inquérito, que está tramitando sob segredo de justiça, e eu não posso entrar em detalhes. Tudo que está sendo investigado foi por conta de providências tomadas pelo Conselho Deliberativo, para proteger a instituição Corinthians.”
Renovação & Transparência
Desde que decidiu dar andamento ao processo de impeachment de Augusto Melo, o presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians tem sido acusado de articulação política com o grupo Renovação e Transferência, que comandou o clube entre 2007 e 2023. Tuma rechaçou as acusações e afirmou que sempre tentou combater irregularidades do grupo, lembrando que muitos conselheiros já foram parte da RT, incluindo o presidente Augusto Melo.
“Olha, eu fui vice-presidente de futebol em 1994 e 1995 na gestão do Alberto Dualib. Desde lá, eu sempre fui opositor no Corinthians. E eu sempre falei que eu era um opositor com responsabilidade, não às pessoas, mas ao sistema de administração. E talvez hoje, de todo o conselho do Corinthians, eu seja o opositor mais antigo. Eu só não fui oposição ao Augusto. Eu me elegi apoiando o Augusto.”
Ele lembrou algumas das ações citadas anteriormente. “No impeachment do Roberto (de Andrade), eu fui um dos autores, ele assinou contratos antes de ser presidente. O Andres (Sanchez), nós reprovamos as contas dele. Ele já não era mais presidente. E a gente pediu a cassação dele do presidente do conselho. O presidente do conselho à época (Alexandre Husni, aliado da RT) entendia que não era pertinente”, disse.
Tuma ainda revelou que chegou a ir à Justiça para buscar a cassação de Andres, mesmo após a recusa do CD na época, mas precisou recuar por questões financeiras: “Eu fui sozinho na Justiça. Só que o valor da causa era exorbitante e eu não tinha como arcar com meus recursos. Eu pago meu advogado do meu bolso, não uso o Corinthians para pagar meu advogado.”
Tuma afirmou que viu com surpresa as acusações veiculadas sobre “advogar em causa própria” nos pedidos de Augusto Melo para barrar o impeachment na Justiça. “As ações que entraram contra mim, erroneamente, entraram contra o Romeu Tuma Júnior, não contra o presidente do Conselho Deliberativo. Então eu tinha que fazer minha defesa”, explicou, completando que, no caso de sua defesa perante a Comissão de Ética e Disciplina do Corinthians, optou por contratar um advogado.
“Eu também assinei, mas contratei advogado, até para não ficar me confrontando com a CED, que é um órgão subordinado ao Conselho Deliberativo. Seria até muito chato eu ficar debatendo com meus companheiros, que são conselheiros, que estão abaixo da presidência. Poderiam falar que eu estaria usando do meu poder. Então eu vou pagar do meu bolso, vou ter um prejuízo por isso, em uma causa que eu acho que é até irregular, mas tudo bem. Estou respeitando a instituição.”
Tuma ainda lamentou as acusações e ataques vindas de conselheiros que, segundo ele, não agiram da mesma forma ao fiscalizar gestões anteriores do Corinthians: “Eu sempre cobrei a RT, e até me traz uma grande amargura, (porque) eu era um conselheiro sozinho, combatendo a RT. E quando eu viro presidente do Conselho, eu sou atacado pelos meus pares antigos, que na hora de atacar a RT se escondiam. Respeito todos, (mas) preciso deixar claro também, nunca sofri nenhum tipo de constrangimento no Corinthians quando era ferrenho opositor da RT. Hoje eu sofro. E naquela época eu não sofria.”
Próximos passos
Tuma evitou projetar o futuro do processo contra si na CED, afirmando que as próximas etapas cabem ao presidente do órgão, Roberson Medeiros. E por fim, deixou claro que sua defesa, entregue nesta terça-feira, faz parte de uma “questão administrativa”, interna do Corinthians, que não exclui outras providências que poderão ser tomadas pelo dirigente no futuro.
“As consequências disso (processo na CED), as providências que eu vou tomar fora do clube, é uma questão que eu estou estudando com calma e serenidade, e no momento oportuno vocês vão saber.”
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