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BLOG DO RAFA GIL: O racista

Certa vez um amigo Corinthiano me contou uma experiência que trouxe imensa e profunda reflexão sobre a vida. Contava que seu filho pequeno o estava atormentando para que o levasse ao Pacaembu. 

Infelizmente por motivos de excesso de trabalho não estava conseguindo conciliar as datas, mas com tanta insistência da criança, enfrentou a fila para comprar os ingressos e assim realizar tão especial desejo.

Créditos Imagem: FielGopro

A criança era o espelho da alegria. Passou noites em claro aguardando tão sonhado momento. Apenas falava disso, contava a seus amiguinhos de escola ansioso e demonstrava uma emoção comovente. 

Quando chegou o domingo do jogo, vendo tão efusivo comportamento, o pai se dedicou a dar um dia perfeito e inesquecível ao rebento. Saiu logo pela manhã para curtir o dia de sol na Praça Charles Miller, em frente ao estádio.

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Era uma experiência completa. A festa começava cedo. As torcidas organizadas da Fiel se reuniam e presenteavam a todos com um lindo espetáculo de bandeiras gigantes tremulantes e cânticos entoados ao ritmo de retumbantes instrumentos.

O menino não se conteve em lágrimas. O espírito Corinthiano estava vivo e latente. Um sentimento inexplicável de admiração e felicidade que fazia o coração alvinegro bater forte e acelerado. O pai, vendo semelhante cena, pela primeira vez teve um enorme orgulho da criação que havia dado ao seu filho.

Ao entrar no estádio, se dirigiram à arquibancada central do Pacaembu. Embora faltando bastante tempo para o início do jogo, já haviam poucos lugares disponíveis. Acontecia um jogo preliminar de aspirantes e muitos acompanhavam para ver um o outro atleta que poderia ser aproveitado no time principal. 

Acharam dois lugares disponíveis e se sentaram. Ao olhar para o lado, o pai ficou deveras incomodado. Estavam junto de um rapaz negro, típico estereótipo: forte, alto e espadaúdo. Confessou que, como estava com a criança, temeu pela segurança do pequeno e de possíveis brigas. Porém, como já se havia se acomodado, não se levantou, embora um pouco contrariado.

O jogo começou e com ele toda profusão de sentimentos e de sofrimento típico do Corinthiano. Os olhos da criança brilhavam. Aquele pingo de gente gritava, cantava e vivia o jogo como se não houvesse amanhã.

Eis que algumas cadeiras ao lado, dois torcedores Corinthianos se desentenderam por causa de uma cornetada a um atleta. Os ânimos acirrados fizeram ambos perderem a cabeça e partiram para as vias de fato. Houve uma pretensa correria e um momento de tensão, tudo em meio a um mundaréu de gente.

Foi muito rápido, não havia tempo para pensar. Bateu enorme desespero no pai que olhou imediatamente para baixo para proteger seu filho, mas não o viu. O pequeno Corinthiano estava nos braços daquele rapaz negro, que por puro ato de humanidade o coloca junto de si e olhando para o pai proferiu: “Tranquilo chefia, no pequeno ninguém encosta”.

O pai me contou com os olhos marejados, que ficou profundamente envergonhado. Se sentiu um lixo de gente. Aquele rapaz por quem tinha nutrido tão desprezível preconceito, havia se dedicado a proteger o seu filho como se fora este sangue de seu sangue.

Refletiu depois, que toda aquela criação de que se orgulhava ter dado a seu filho, nada valia se apoiada em valores tão execráveis como o racismo e o preconceito. Sentiu na pele o quanto tinha que melhorar como pessoa e quantas vezes fazia coisas erradas sem sentido. 

Porém aprendeu uma lição para a vida. Disse que a partir daquele momento encarava todos como iguais. Não apenas no discurso, mas nas atitudes. Ainda se dedicou a ensinar, para o pequeno, esses valores verdadeiros, virtudes de compõe o caráter.

Sentaria muitas vezes ainda ao lado daquele irmão negro Corinthiano, que sem dúvida era um ser humano sensacional. As lindas tardes do Pacaembu tinham muitos mais significados e eram muito mais do que apenas um jogo de futebol. 

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A arquibancada muito ensina. Lá somos todos iguais. Não importa se somos negros ou brancos, ricos ou pobres, crianças ou idosos, mulheres ou homens, gays ou héteros, de direita ou de esquerda. Importante, apenas, é a paixão incondicional que une toda a nação Fiel, um amor imensurável e inexplicável pelo Corinthians. 

Saudações alvinegras e Saravá São Jorge Fiel! Vai Corinthians!

MAIS QUE UMA TORCIDA: De férias com o Timão

De férias nos Estados Unidos, corinthiano rodou mais de 3.500 km com o bandeirão do Timão no capô do carro

Arrumando a mala para a viagem

Ele transformou em estilo de vida a frase repetida por todo fiel torcedor: “Corinthians, minha vida, Corinthians, minha história, Corinthians, meu amor”. Não sabe viver um só dia, sem usar qualquer coisa que mostre ao mundo o seu amor pelo Timão.

Rodrigo Egídio é empresário em São Paulo e sempre que tira férias, viaja com a família. Esse ano o destino foi os Estados Unidos, onde durante 22 dias, visitou várias cidades. Uma mala foi só para o Corinthians: bandeira, bandeirão para o capô do carro, bonés, faixas e, claro, camisas. Vinte e cinco camisas, uma para cada dia da viagem, e mais três de reserva.

Com Neto, ídolo e vizinho

Natural de Santos e criado no interior de São Paulo, na década de 90 ficou completamente maluco pelo Corinthians. Foi um derby em São José do Rio Preto, seu primeiro jogo do Timão em estádio. Aos 13 anos, acompanhando o irmão mais velho, palmeirense, viu o rival abrir 2×0 no placar (do meio da torcida deles), e o Timão empatar no finalzinho. Era tão apaixonado por Neto e Ronaldo Giovanelli, que chorava quando os via dando entrevista na tv. Por ironia do destino, atualmente é vizinho do ídolo Neto, e de vez em quando, jogam bola juntos.

Na festa de 15 anos da filha/No casamento do sobrinho

Quando garoto, tinha apenas uma camisa do Timão, que usava todos os dias e só ganhava outra quando essa estava muito gasta. Hoje possui mais de 50 peças. À nossa redação, Rodrigo contou que no aniversário de 15 anos da filha, além do tradicional anel, presenteou-a com uma camisa do Corinthians. Quando o sobrinho casou, improvisou um broche para colocar no terno, e Caio, o noivo, também fanático, usou abotoaduras com o escudo do clube.

Sobre a viagem para os Estados Unidos, Rodrigo conta que, já no aeroporto de Los Angeles havia muitos brasileiros, no saguão estavam uns 50 adolescentes e ao verem sua camisa, só se ouvia “Vai Corinthians” pelo aeroporto todo. Em Chicago, um garotinho se aproximou todo sorridente, o cumprimentou, e o pai que o acompanhava, disse “Você viu aqui também tem Corinthians?”

O carro, alugado por Rodrigo, com o bandeirão do Corinthians

Rodrigo alugou um carro e colocou o bandeirão no capô. Rodou mais de 3.500 km pelas estradas dos Estados Unidos. Por onde passava, percebia os olhares, os risos e ouvia gritos de “Vai Corinthians”. “Costumo dizer que nós, corinthianos, somos iguais aos pardais, estamos no mundo inteiro”, afirma Rodrigo, rindo orgulhoso.

Outra curiosidade, é que ao se hospedar em qualquer hotel, Rodrigo põe a bandeira do Timão na janela do quarto “É território corinthiano!”, diz.

A janela do quarto do hotel em Chicago, onde Rodrigo estava hospedado

“Em Nova York estava na ponte do Brooklin tirando foto e ouço um grito “Eu quero, eu quero!” me viro e vem uma brasileira correndo com a filha e pediu pra tirar foto comigo e com a faixa. Um fato legal foi estar no Central Park e de longe ouço um “Vai Corinthians” com uma voz bem fraquinha, me viro e vejo uma senhora bem idosa em uma cadeira de rodas, sorrindo pra mim. Outro me parou em Los Angeles, na rua, pra tirar foto do carro, parei o trânsito e ele tirou um monte de foto” contou Rodrigo quando lhe pedimos episódios engraçados ou emocionantes da viagem.

Uma camisa e uma faixa para cada dia

Ele não sabe explicar, mas não consegue ficar um dia sem “se sentir Corinthians”. Diz que “deve ser a loucura do Corinthianismo mesmo“, só usa uma camisa “normal” se for obrigado, e leva a bandeira do clube para onde for. Também mandou confeccionar faixas com “Corinthians”, “Vai Corinthians”, “Aqui é Corinthians” e “Bi-Mundial” e tira fotos com elas em pontos turísticos de suas viagens.

“Não sou mais corinthiano que ninguém, todos temos esse fanatismo que nos difere das demais torcidas, mas acho que sou apenas um pouco mais doido que os demais, pois onde você me vir, e for possível estar com algo do Corinthians, eu estarei. Uns falam que sou maluco, doente, mas como são “antis”, eu nem ligo…”

Créditos: Fotos e vídeos cedidos e autorizados pelo entrevistado
Twitter do Rodrigo Egídio: @Rodrigo2210

Por Redação da Central do Timão

BLOG DA NÁGELA GAIA: O Corinthianismo de cada um

Eu torço. Tu torces. Ele torce. Nós torcemos. Vós torceis. Eles torcem.
É Corinthians! É verbo!

Fui de setor Norte no jogo contra o Ceará pela Copa do Brasil e vivi uma experiência que mexeu com minha emoção e me fez pensar muito nesse tema. Em pé, à minha frente, um jovem senhorzinho franzino com uma camisa Kalunga, de 1985, muito surrada e cheia de bolinhas.

Cabeça erguida, pulando, cantando, esfregando as mãos, os olhos brilhando de felicidade por estar ali com sua camisa de 34 anos molhada pelo suor da história. A cada jogada eu sentia com clareza seus pensamentos. Seus gestos e olhares valiam mais que mil palavras. Ele socava o ar, fechava os punhos com força empurrando o time, gritava com toda a sua alma e se sentia importante por estar ali ajudando o Corinthians.

Meu coração se encheu de respeito e carinho por ele, eu ali pequeninha diante da grandeza dele, já não prestava mais atenção ao jogo, fascinada, hipnotizada por aquele corinthiano, ele sim, maloqueiro sofredor.

Meu pensamento voava. Que sacrifícios ele teria feito para estar ali? Quanto custou, para ele, pagar 28 reais no ingresso? Mais 14 reais de metrô?… Será que ele vem sempre ou raramente pode?… Pelas roupas, parecia tão carente de bens materiais… Mas, olha a felicidade dele! Quanta história as bolinhas dessa camisa viveram e contam? Quantas vezes essa camisa enxugou as lágrimas dele ou ensopou de suor de tanta felicidade?… Que vontade de abraçá-lo! Não me passou pela cabeça “Nossa! será que a camisa é pirata?”… “em quem será que ele votou nas últimas eleições?”… (Oi?!)

Me apresentei e perguntei se podia fotografá-lo pra um site. Sorridente, ele permitiu e me disse se chamar Luciano. Expliquei que escreveria sobre “ninguém é mais corinthiano que ninguém” e gostaria de conversar com ele a respeito disso. Orgulhoso, ele disse “Claro! Ninguém é mais corinthiano que ninguém, porque só eu sei a felicidade que estou sentindo.“ Combinamos de conversar no intervalo do jogo, mas, ao fim do primeiro tempo, veio o poropopó e ele desapareceu na multidão. Frustração. Não o vi mais.

Eu tinha tanto a aprender com ele!… Queria muito que o Corinthians tivesse feito um gol, para comemorarmos juntos, abraçados, coração com coração…

Fiquei pensando em que categoria os “senhores da fiel” incluiriam o sr Luciano. Pois, hoje, muito se discute o corinthianismo de cada um, e é comum vermos ditadores de regra tentando dividir a Fiel em:

fiel direita/fiel esquerda
fiel camisa pirata/fiel camisa original
fiel torcedor/ fiel sofá
fiel corneta/fiel foca
fiel organizada/ fiel sei lá o que…

Enfim, todo tipo de divisão, tudo sempre carregado de muito preconceito e tentativa de imposição.

Oras… como diz o grande corinthiano Rafa Gil, “Na hora do gol, quando eu abraço o irmão que está ao meu lado, não pergunto nada sobre ele, só quero saber que ele é corinthiano, que está tão feliz quanto estou e isso basta.” Outro Rafa que admiro muito, o Rafael Castilho, diz que não existe corinthiano sozinho. “O corinthiano compartilha com os seus iguais esta experiência existencial. Não pode haver Corinthians sem comunhão.” Torcer para o Corinthians é íntimo e tem a ver com religião, com fé.

Como ousam discutir a fé de cada um? Mas temos visto dedos apontados e sentenças proferidas como se fosse um tribunal onde a condenação é rápida e curta: “Você não é corinthiano!”.

E o corinthiano, acuado, feito “réu”, é obrigado a ouvir, calado, as instruções, se “regenerar” e se juntar aos “bons”, sob pena de calar-se eternamente através do block, não antes de receber um rótulo ao bel prazer do “senhor juiz”.

Arrogância. Insolência. Intolerância. A causa é uma só: Corinthians.
É incrível como pessoas que se reuniram pela mesma causa, o Corinthians, e pelo mesmo sentimento de corinthianismo, conseguem transformar algo tão lindo em um campo de guerra. Sinto tristeza. Já tentei entender os argumentos de todos, juro! Mas não consigo ver lógica na arrogância.

Cada um torce de um jeito e não existe régua para se medir o amor do outro. Cada um tem uma régua que só consegue medir a própria vida, os próprios sentimentos. Até porque o verbo “torcer” não significa apenas apoiar, mas, também, mudar o sentido ou a direção de algo, assim como você torce a roupa lavada. Também quer dizer curvar-se, render-se, ceder, contrair-se, contorcer-se, sentir inquietação, raiva, insatisfação, mostrar desagrado, envolver, enrolar, enroscar…

Será que tem gente que acha que o cara que compra a camisa no camelô não sonha em ter uma original? Considero impossível um corinthiano não se sensibilizar pelo fiel que mora fora de São Paulo e só pode acompanhar o Corinthians pela televisão. Você consegue se colocar no lugar dele na hora do jogo?

O que dizer do ditador, o que se considera o “porta-voz da fiel”, que usa dos mais estapafúrdios argumentos preconceituosos, se apossa e se utiliza de nossos ídolos, usando-os como justificativa para sua empáfia, dividindo a fiel entre os que votam em fulano ou em sicrano?! Se você vota como eu voto, você é corinthiano. Se você vota diferente, você nem corinthiano é. Então você está condenado a rótulos, e pronto, acabou!

E os “cornetas” que exigem que os “focas” se manifestem e apoiem suas críticas, muitas legítimas, outras estapafúrdias, resultado da grande paixão… E, onde existe lógica na paixão?… E os “focas” que exigem que os “cornetas” se calem, porque não é possível que sejam corinthianos, tem que apoiar em tudo!… “Eu respeito a sua opinião, mas…” Mas, mas, mas… Respeita nada!

Impressiona ver como existem pessoas que se acham inteligentes (muitas até o são!) mas querem ser melhores que as outras e humilham de forma intencional e agem com tanta arrogância e nenhuma empatia. São os que se acham “mais corinthianos que os outros”. No íntimo, pensam que são formadores de opinião, se consideram os donos da fiel, donos da verdade. São os que tem rótulos prontos para os que pensam diferente deles.

Respeitar o semelhante é respeitar a si próprio, e isso, sim, é ser inteligente! Ser humilde, valorizar o sentimento puro, independente de cor da pele, da escolaridade, da aparência, da raça, do dinheiro, se mora longe ou se mora perto. Conversar sobre o que pensamos, discutir pontos de vista, mas que seja sem outros interesses e preconceitos, aprender com o outro, fortalecer seu CORINTHIANISMO, isso, sim, é tão lindo, é tão Corinthians!

E já que você chegou até aqui, quero lhe dizer que não importa em quantos jogos você foi desde que nasceu. Não interessa a ninguém a quantidade de camisas do Corinthians que você tem, se são originais ou piratas. Ninguém é mais corinthiano que ninguém. Nem quem vai à Arena domingo ver o Corinthians jogar, nem a maioria que vai assistir pela TV, ou até os que nem poderão assistir.

O Corinthians aceita você como você é. Eu, você, e todos os 34 milhões de loucos, somos todos corinthianos. Não permita que ninguém lhe diga o contrário e, se disser, deixe-o falando sozinho. Não vale a pena contribuir pra esse debate inútil.

Vai Corinthians!

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