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Pressões por favorecimento e conflito de interesse ameaçam independência do Conselho Fiscal no Corinthians

  • Por Daniel Keppler / Redação da Central do Timão

Dentro da estrutura administrativa do Corinthians, um dos órgãos mais importantes na fiscalização do trabalho da diretoria é o Conselho Fiscal, composto no clube por três conselheiros eleitos a cada triênio. Quem confere essa importância ao CF, porém, não é apenas o estatuto alvinegro, mas também a legislação, principalmente a Lei Pelé (lei 9.615/1998) e a Lei Geral do Esporte (lei 14.597/2023).

As normas deixam clara a importância de que as entidades desportivas não apenas mantenham um Conselho Fiscal, mas também assegurem a esse órgão total autonomia em seu trabalho, livre de qualquer tipo de pressão política. No entanto, essa independência vem sendo ameaçada no Parque São Jorge, com tentativas da gestão de persuadir os membros do órgão a decidirem favoravelmente aos dirigentes em temas sensíveis, como as finanças do Corinthians.

Aproximação indevida

A informação foi obtida pela Central do Timão por meio de fontes ligadas ao clube, com trânsito livre no Parque São Jorge. A apuração indica que, nos últimos meses, os membros do Conselho Fiscal do Corinthians vêm sendo sistematicamente pressionados a se posicionar de forma alinhada à agenda da atual gestão.

Esse cenário teria se intensificado a partir de abril, quando cresceu a tendência de reprovação das contas de 2024, o que acabou ocorrendo no final daquele mês, e a subsequente tentativa da diretoria de reverter o quadro, ao propor a reabertura do balanço de 2023 para atribuir R$ 191,2 milhões em contingências àquele exercício e, assim, transformar o déficit de R$ 181,7 milhões registrado no ano passado em um superávit de R$ 9,5 milhões.

Segundo as fontes ouvidas pela Central do Timão, o principal interlocutor da diretoria no Conselho Fiscal é o presidente do órgão, Haroldo Dantas, que apoiou a candidatura do presidente Augusto Melo e que se candidatou a conselheiro trienal em 2023 pela Chapa 83 (Valores Corinthianos). Teria sido ele, por exemplo, o responsável por pautar o debate no CF que culminou no ofício em que o órgão aceita a reabertura das contas de 2023 do clube, mediante o cumprimento de determinadas condições.

Outro ponto sensível na relação entre o Conselho Fiscal e a diretoria, segundo as fontes ouvidas, diz respeito a encontros dos quais os membros do órgão teriam participado, ao longo dos últimos meses, na residência do então diretor financeiro Pedro Silveira, onde seriam debatidos assuntos relativos às finanças do Corinthians.

Tais encontros representariam uma quebra da imparcialidade do CF diante da gestão, comprometendo a independência exigida por lei. “(O Conselho Fiscal) foi alertado sobre esta aproximação. O órgão precisa ter absoluta independência, nenhuma ligação com a diretoria. Não pode haver nenhum tipo de dependência”, afirmou uma das fontes.

Possível conflito de interesses

Por fim, outra questão relativa a esse tema diz respeito a Josué Lopes de Souza, auditor fiscal do Corinthians. A Central do Timão recebeu sete atas de reuniões do Conselho Fiscal, ocorridas entre abril e outubro de 2024, nas quais Josué atua como “assessor técnico” do órgão. A função não está prevista nem no estatuto do Corinthians nem nos regimentos internos dos órgãos do clube.

Oficialmente, Josué deixou de assessorar o CF no final de outubro e, no mês seguinte, passou a atuar como auditor fiscal do departamento financeiro do Corinthians, um cargo remunerado – a primeira nota fiscal emitida em seu nome data de 16 de dezembro. No entanto, segundo fontes ouvidas pela redação, há suspeitas de que sua colaboração com o setor financeiro do clube já vinha ocorrendo pelo menos três meses antes desta data.

Ainda segundo estas fontes, há suspeitas de que Josué, que é da mesma chapa que o presidente do CF, teria sido indicado por este para integrar o time financeiro da gestão, comandado à época por Pedro Silveira, também integrante da mesma chapa. A intenção seria fortalecer a agenda do departamento em defesa da atual diretoria.

A Central do Timão apurou ainda que o Conselho de Orientação (CORI) vem tentando, nos últimos meses, acessar o contrato firmado entre o Corinthians e o auditor fiscal. No entanto, o clube ainda não atendeu aos pedidos do órgão fiscalizador, que não pôde analisar o documento.

Ouvimos dois advogados para compreender melhor a situação, e ambos afirmaram que a rápida migração do profissional do Conselho Fiscal para o setor financeiro da diretoria configura um conflito de interesses que, em tese, prejudica a autonomia do órgão fiscalizador. Um deles chamou atenção para a falta de algo como uma “quarentena”, que é um período de impedimento para que autoridades públicas, após deixarem seus cargos, exerçam atividades no setor privado.

A prática, prevista na lei 12.813/2013, visa justamente evitar situações que possam gerar conflitos de interesses, impedindo que ex-funcionários utilizem seu conhecimento ou influência para obter vantagens pessoais no setor privado, em detrimento do interesse público. No Corinthians, este conflito estaria posto na medida em que Josué, como auditor, passou a defender os interesses da gestão que, antes, estava ajudando a fiscalizar, estando ciente de todos os debates internos promovidos no CF.

Um dos advogados ouvidos pela Central do Timão completou: “É uma posição de estrita moralidade, né. Em empresas grandes e sérias de auditoria e compliance, isso é afastado (a troca repentina de funções). Não há nenhum crime, nada ilegal, mas ofende alguns princípios básicos da integridade”, disse.

As respostas dos citados

A Central do Timão procurou os membros do Conselho Fiscal para se manifestarem a respeitos dos temas levantados nesta matéria. O presidente Haroldo Dantas não retornou ao chamado da redação, e caso o faça a resposta será incluída aqui. Paulo Schmidt Pimentel declarou que não pode responder pelo CF. Já Claudio Luiz Senise, secretário do CF, solicitou que as perguntas fossem encaminhadas ao e-mail institucional do órgão, e havendo retorno o texto será atualizado.

O auditor fiscal Josué também foi questionado e respondeu por meio da assessoria do presidente Augusto Melo. Ele confirmou sua passagem pelo CF como assessor, afirmando que deixou a função “devido a compromissos profissionais”. Negou ainda ter sido indicado por Haroldo Dantas para a gestão, afirmando que o convite partiu diretamente do ex-diretor Pedro Silveira.

O auditor afirmou ainda que o início de seu vínculo com o Corinthians se deu em 16 de novembro de 2024, válido até 31 de dezembro de 2026. Por fim, negou que a troca de funções represente um conflito de interesses, ressaltando a recomendação do Conselho Fiscal de reprovar as contas do clube.

“Esse fato (participação prévia no CF antes de integrar o financeiro corinthiano) não alterou a opinião do parecer do órgão, tendo em vista que o balanço 2024 foi reprovado pelos mesmos. (…) Meu relacionamento com o CF é ótimo e a viabilização dos questionamentos é facilitada pelo fato de eu entender a necessidade de compreensão do trabalho.”

Nota da redação: a matéria foi alterada em 29 de maio de 2025 para incluir a data de início do vínculo entre Josué Lopes e o Corinthians.

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Conselho Fiscal aceita reanalisar balanços de 2023 e 2024 do Corinthians, mas impõe condições à diretoria

  • Por Daniel Keppler e Larissa Beppler | Redação da Central do Timão

Os bastidores do Parque São Jorge foram movimentados nesta quarta-feira, 21, por mais posicionamentos da diretoria e dos órgãos fiscalizadores do Corinthians em relação ao imbróglio envolvendo as contas reprovadas do clube, em especial sobre a pretensão da gestão de atribuir R$ 191 milhões em contingências registradas no balanço 2024 ao exercício de 2023, o último da gestão Duilio Monteiro Alves.

Logo cedo, um documento denominado “Nota Técnica sobre os questionamentos acerca das demonstrações financeiras referentes ao exercício findo em 31 dezembro de 2024” começou a circular na imprensa, assinado pelo departamento financeiro do Corinthians. No texto, de 13 páginas, a diretoria resume suas ideias sobre as contas do último exercício, reforçando a tese de que, sem as citadas contingências, o clube obteve superávit de R$ 9,5 milhões no ano passado.

Trecho da nota técnica sobre as demonstrações financeiras de 2024. Foto: Reprodução

Segundo apurado pela Central do Timão, o documento não foi entregue a nenhum órgão fiscalizador do clube como o Conselho Deliberativo (CD). De fato, a nota técnica não está datada, nem é endereçada a nenhum órgão específico, embora cite em sua introdução não apenas o CD, como os Conselhos Fiscal (CF) e de Orientação (CORI).

Poucas horas depois, foi a vez de o Conselho Fiscal se manifestar, por meio de um ofício assinado pelo presidente Haroldo José Dantas da Silva. Nele, o conselheiro confirma que o financeiro corinthiano respondeu ao ofício anterior do órgão, que tratava da pretensão da diretoria de reapresentar as contas de 2023, e confirma que o CF poderá reanalisar os números dos balanços de 2023 e 2024.

O documento, porém, faz uma ressalva, ao deixar claro que tal reanálise só ocorrerá caso os números sejam reapresentados no mesmo padrão que vêm sendo utilizado até agora, e estejam acompanhados dos documentos que comprovem a reclassificação das despesas em debate. Além disso, condicionou a reanálise ao envio, por parte da gestão, dos mesmos materiais ao CORI e ao CD.

Parte do ofício do Conselho Fiscal sobre a reapresentação das contas do clube. Foto: Reprodução

Na noite desta quarta-feira, o Conselho de Orientação se manifestou sobre o tema. Por meio de um comunicado assinado pelo presidente Miguel Marques e Silva, o órgão diz que ainda não recebeu quaisquer informações sobre a reanálise de demonstrações financeiras. O documento diz ainda que a reanálise, caso ocorra, deverá ser objeto de uma “avaliação técnica rigorosa”, tendo em vista as normas contábeis envolvidas.

O presidente do Conselho Deliberativo Romeu Tuma Júnior também se manifestou por meio de um comunicado à imprensa, posicionando-se contra a reabertura das contas de 2023 e 2024. Segundo ele, “o único órgão que julga contas da Diretoria é o Conselho Deliberativo”. Em relação às contas de 2024, Tuma esclareceu que elas já foram analisadas e reprovadas, com base em parecer do Cori que apontou gestão temerária.

O dirigente ainda informou que a presidência do conselho já comunicou à gestão a intenção de encaminhar um ofício ao Conselho Regional de Contabilidade (CRC), solicitando a apuração da atuação dos profissionais de contabilidade vinculados ao clube, assim como das empresas responsáveis pela auditoria e contabilidade. No entanto, o envio do ofício aguarda uma resposta da diretoria, que, segundo ele, ainda não forneceu as informações requisitadas há mais de uma semana.

Já a antiga administração do Corinthians se pronunciou por meio de Wesley Melo, ex-diretor financeiro na gestão Duilio. Em nota encaminhada à Central do Timão, ele afirmou que não recebeu qualquer notificação do Conselho Fiscal a respeito do tema e destacou que as contas da gestão anterior foram aprovadas por três anos consecutivos e que o balanço de 2023 já foi encerrado e apresentado pela atual diretoria, motivo pelo qual, em suas palavras, “não há mais o que dizer sobre os nossos balanços”.

Não temos qualquer informação oficial e tomamos conhecimento dessa disposição do Conselho Fiscal pela imprensa. Entendemos que a atual diretoria tem dificuldade de explicar seus números de 2024 e procura narrativas para desviar a atenção. Talvez tenham descoberto agora, com as contas reprovadas, que as normas contábeis são claras e exigem atenção rigorosa. Aprovamos contas em todos os órgãos por três anos consecutivos usando esse rigor, sendo que as contas de 2023 foram fechadas e apresentadas pela atual gestão por isso não há mais o que dizer sobre os nossos balanços”, afirmou.

A expectativa da gestão alvinegra é de que, sendo bem sucedida na reclassificação das contingências de R$ 191 milhões, transferindo-as para o balanço de 2023, possa ter suas contas de 2024 reanalisadas pelos órgãos fiscalizadores do Corinthians, desta vez apresentando um superávit e, portanto, sendo passíveis de aprovação. Membros da gestão passada já afirmaram que questionarão a estratégia, podendo levar o caso aos órgãos de classe da contabilidade ou mesmo à Justiça, se necessário.

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Notícias do Corinthians

Conselho Fiscal do Corinthians aprova nova previsão orçamentária superavitária

Entidade Fiscal recebeu explicações da Diretoria Financeira do Corinthians e sinalizou positivamente

Foto: Divulgação Corinthians

No último dia 6, o Conselho Fiscal do Corinthians aprovou, por unanimidade de votos, a nova previsão orçamentária para o ano de 2020, que prevê superávit. A primeira previsão, encaminhada em dezembro de 2019, apontava um déficit de R$ 21 milhões.

A Central do Timão apurou que, além disso, um representante da Diretoria Financeira do Corinthians respondeu a 17 questionamentos feitos pelo Conselho Fiscal, tendo sido as explicações apresentadas aceitas pelos conselheiros.

Assim, a nova previsão orçamentária conta com parecer favorável do Conselho Fiscal, sendo que tal documento falta ser aprovado pelo Conselho Deliberativo do clube, que tem reunião marcada para a próxima quinta-feria (13).

O Conselho Fiscal ainda ajustou que convocará gestores do clube caso ocorram variações para mais ou para menos na previsão orçamentária deste ano, no sentido de entender o porquê de tais eventuais mudanças.

Por Redação Central do Timão

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