Idail Cia foi “pé quente” e presenciou a primeira vitória da equipe corinthiana no retorno da temporada
Neste domingo (14) a Central do Timão acompanhou, além de uma vitoria alvinegra aos 33 do segundo tempo, uma história emocionante que marcou o retorno da temporada.
A CAMISA 12, uma das organizadas do Corinthians, realizou uma ação em prol de uma torcedora fanática de 75 anos. Além de receber calorosamente em sua quadra a “dona Gordinha” – como foi carinhosamente apelidada – deu a ela a oportunidade de realizar um sonho: assistir ao Corinthians na Arena.
Idail Cia é uma senhora de cabelos brancos e olhos azuis, neta de italianos. Ela nasceu no dia 4 de janeiro de 1944, em Limeira, interior de São Paulo. Há seis meses, passou a morar em uma casa de repouso em Americana, que fica a 25km da antiga cidade.
Dos oito irmãos que Idail teve, os cinco homens faleceram e restaram apenas as três mulheres. Perguntei a ela sobre sua vida. Ela conta que foi casada durante 34 anos e está viúva há 12. “Faz 12 anos que eu não beijo na boca”, brincou.
Quando questionei sobre o motivo da morte do marido, ela respondeu com às seguintes palavras: “ele morreu de tanto fumar e beber”. Desde então, ela ficou morando sozinha. Preocupada, Lair Cia, irmã mais velha de Idail, levou-a para morar no Benaiah.
Da esquerda para a direita: Tupã, dona Idail, Leticia e André em frente à casa de repouso.
Foto: Arquivo pessoal
“Eu gosto de ficar lá. Em cada quarto são duas pessoas. Tem TV, telefone e eu faço 6 refeições por dia”, relata.
Na mesma casa, mora também a irmã mais nova de dona Idail. Ela está lá há mais tempo, seis anos. Os quartos são para duas pessoas, contudo, elas não ficam juntas. Suponho que não daria certo mesmo, já que a irmã é palmeirense.
Dona Idail disse que a irmã sempre quis convencê-la a torcer para o rival, mas ela jamais aceitou. “Em primeiro lugar na minha vida é Deus. Em segundo é o Corinthians”, afirma.
Quanto ao esposo, ela relembra que, quando era vivo, eles torciam juntos para o Corinthians. “Teve uma vez que ele chegou muito cansado do trabalho e foi deitar. O Corinthians estava jogando e eu fiquei na sala assistindo. Cada gol que saía, ele levantava”, comenta. Perguntei à ela de onde veio essa paixão pelo clube e a resposta foi surpreendente. Naquela época, 40 anos atrás, o Timão já conquistava o coração dos torcedores.
Dona Idail conta que trabalhou como tecelã durante muitos anos em uma fábrica. O patrão era assinante da Folha de São Paulo e todos os dias deixava um exemplar na mesa das funcionárias. Ganhando ou perdendo, por várias vezes o Corinthians era o destaque das manchetes.
“Era Corinthians isso, Corinthians aquilo… eu gostava muito de ver as notícias sobre o Corinthians. Fui pegando gosto e ninguém mais tirou da minha cabeça”, revela a idosa. Dos ídolos alvinegros que passaram pelo clube paulista, ela se recorda de nomes como Vampeta, Marcelinho Carioca e o Edilson Capetinha. Já no elenco atual, o maior ídolo de dona Idail é o gigante da Fiel, o goleiro Cássio.
A história dela chegou aos dirigentes da CAMISA 12 por meio de Letícia Aparecida Sarro, 20 anos. Ela é estudante de enfermagem e conheceu a dona Idail quando fez estágio na casa de repouso. “Um dos campos de estágio era o asilo. Nós ficamos em torno de duas semanas lá”, disse. Quando ficou sabendo que dona Idail era corinthiana, a aproximação foi ainda maior. Mesmo após o término do estágio, Letícia permaneceu indo à casa de repouso para visitar a idosa.
Em uma das visitas, além de declarar seu amor ao Corinthians, dona Idail revelou que sonhava em conhecer a casa do Timão. Letícia então contou para um amigo que frequenta a sub sede da CAMISA 12 em Americana, André Farias de Araújo, 29 anos. Ele passou o recado para os demais, e a partir de então, começaram a se organizar para realizar o sonho de dona Idail e, consequentemente, de Letícia, que também nunca havia pisado em solo sagrado.
“Nós estávamos planejando desde abril. Esperamos pelo momento certo para não levá-la em jogos mais expressivos, hoje era o dia perfeito”, contou André enquanto estávamos a caminho da Arena.
Durante a manhã, a CAMISA 12 organizou a recepção de dona Idail em sua quadra, na Zona Norte de Sao Paulo. André e Tupã, integrantes da 12 ficaram responsáveis por buscá-la na casa de repouso. Jhony, com quem conversei e combinei minha chegada antecipada à dela, também prestou toda a assistência necessária.
“A torcida entende que esse sentimento do corinthianismo é agregador, desde a fundação do clube. Os fundadores tinham algumas características comuns e outras incomuns, também eram pessoas distintas, diferentes… mas unidas pelo mesmo ideal. A Camisa 12 carrega isso, de agregar. Seja branco, rico, preto ou pobre.” disse Jhony.
Johny, diretor social da organizada reuniu os integrantes para celebrar o momento ao lado de dona Idail
“O papel social da torcida como um todo tem muito viva essa veia, de levar felicidade, alegria. Seja por meio de um agasalho, de um ovo de páscoa, ou levando uma pessoa pra ver o Corinthians pela primeira vez. O que aconteceu neste final de semana nada mais é do que a extensão do nosso corinthianismo, a expansão do sentimento que carregamos como ideal da nossa existência. Receber a dona Idail na quadra, prestar uma singela homenagem, poder abraçá-la e cantar o hino do Corinthians ao seu lado, é algo impagável.” completou o Diretor de Relações Públicas da CAMISA 12.
Dona Gordinha teve um dia de celebridade. Chegavam várias pessoas cumprimenta-la com abraços e sorrisos. Além disso, ela também foi presenteada com uma camisa da organizada e um anel que caiu muito bem em suas mãos.
Dona Idail na quadra da Torcida Jovem Camisa 12 já com a camisa que ganhou de presente.
Foto: Amanda Koiv/Central do Timão
Antes de partirmos em direção à Itaquera, dona Idail foi chamada para uma última foto em frente à quadra
Foto: Amanda Koiv/Central do Timão
Por volta das duas da tarde, partimos para a Arena Corinthians. O jogo começaria às quatro. Quando passamos ao lado do monumental estádio de Itaquera, dona Idail dizia emocionada “Hoje eu vou ver o Corinthians. Eu amo o Corinthians”.
Ficamos uns minutos do lado de fora aguardando o Tupã, que nos deixou o mais perto possível da entrada ao lado do setor norte, para que dona Idail não precisasse andar tanto. Enquanto esperávamos que ele voltasse com os ingressos, ficava nítida a ansiedade de dona Idail para adentrar os portões.
No caminho até a arquibancada, dona Idail caminhava a passos lentos, sentia as pernas cansadas e reclamava da distância. No entanto, continuou até o final e quando estávamos chegando peto das catracas, disse “se eu morrer hoje, morro feliz porque vi o Corinthians”. Eu tive que me conter pra não demonstrar o quanto aquilo me tocou.
A entrada no estádio foi emocionante. Não só para dona Idail, mas para Letícia também. As duas se abraçaram e começaram a chorar ao ver o campo.
Logo que chegou, ela foi recebida pelo padre da Fiel, que deu as boas-vindas e parabenizou à organizada pela ação.
Foto: Amanda Koiv/Central do Timão
Depois, dona Idail sentou-se e ficou atenta ao que acontecia. Antes do início da partida, ficou impressionada ao ver Cássio fazendo um aquecimento no gol. Chamava por seu nome, como se ele pudesse ouvi-la.
Durante a execução do hino do Timão, ela cantava, com os olhos fixados no gramado. Sorria muito e não perdia um segundo sequer daquela experiência. A estrutura da Arena Corinthians também é um ponto a ser elogiado. O local onde dona Idail ficou, bem no alto da arquibancada, possibilitava uma visão ampla do gramado.
Para Letícia, foi uma emoção muito grande. “Quando eu soube da história dela, percebi que tínhamos o mesmo sonho. Porém, pensei que, para mim, com 20 anos, não seria tão difícil para chegar a esse momento. Ainda teria tempo de realizar esse sonho. Mas quando eu pensei em dona Idail, com 75 anos, me perguntei como isso seria possível”, expõe.
E foi. Todo o esforço realizado pelos integrantes da CAMISA 12 para que esse sonho se realizasse valeu a pena. E é por esse e outros tantos motivos que a Fiel é mais que uma torcida e o Corinthians é mais que um clube.
Por Redação Central do Timão