Antes de adentrarmos especificamente ao tema, necessário se faz um preâmbulo.
Seis de maio de 1984, domingo de sol com céu azul, Morumbi lotado. Neste dia, o Corinthians fez uma das maiores partidas de sua história ao golear o Flamengo por 4×1 diante de 123 mil pessoas, sendo 115 mil pagantes e oito mil não pagantes. Trata-se do jogo que detém o recorde de maior público da história do Campeonato Brasileiro no Morumbi.
Foi um dos dias mais felizes de minha vida.
A empolgação foi natural e, claro, era unanimidade na maioria da torcida que o Campeonato Brasileiro, finalmente, seria do Corinthians, afinal eliminou o maior time do Brasil à época, que fora campeão brasileiro em 1980, 1982 e 1983.
Dos quatro semifinalistas, o Corinthians era o melhor tecnicamente. Tinha um grande goleiro Carlos, dois ótimos laterais, Edson e Wladimir. Um meio de campo com Biro-Biro, Sócrates e Zenon. E o jovem Casagrande no ataque. Vasco, Grêmio e o Fluminense, o nosso adversário, eram inferiores tecnicamente. E dentre os quatro times, só havia um gênio: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.
O Fluminense tinha Romerito como seu maior expoente. O Vasco tinha a dupla Arthurzinho e Roberto Dinamite. E o Grêmio tinha Renato Gaúcho e o jovem Valdo.
Mas o futebol é coisa do diabo. Não existe decreto nem já ganhou. A euforia vira decepção de quarta a domingo, ou de domingo a domingo, como foi o caso. São 11 contra 11. Um jogo diferente do outro. E mais: O futebol não é só técnica. E também tático, físico e emocional.
Treze de maio de 1984, domingo chuvoso com céu cinza e frio. Foi um Dia das Mães estranho. Era o jogo de ida da semifinal do Campeonato Brasileiro, no mesmo Morumbi. Corinthians 0 x 2 Fluminense. Uma das partidas mais apáticas da história do clube. Nem a torcida ajudou. Em certos momentos, o Morumbi estava absolutamente silencioso.
Em suma, o Corinthians tomou um dos maiores bailes táticos da história. Não criou nada. Foi completamente anulado pelo esquema tático implantado pelo Fluminense de Carlos Alberto Parreira, que fez uma partida quase perfeita.
Um torcedor japonês do meu lado disse que o “time que jogou contra o Flamengo não existia mais”.
Naquele dia, após o apito final, mais de 90 mil corinthianos saíram frustrados do Morumbi. Muitos saíram dizendo que o “Corinthians jamais ganharia o Campeonato Brasileiro”.
Do meu lado, um senhor de cabelos brancos, cabelo igual do “Veio Zuza”, como ele se autodenominava, óculos e com olhos lacrimejando, disse:
“Não liga para essas bobagens, Cesinha. São pessimistas. Jamais escute os pessimistas. Um dia o Corinthians ganhará o Campeonato Brasileiro, escreve aí”.
Eu, ainda, com oito anos, perguntei: “Será?”
E o senhor emendou: “Eu já menti alguma vez para você?”
O senhor de cabelos brancos, óculos e com olhos lacrimejando era o meu avô Raul, o homem que me apresentou o Sport Club Corinthians Paulista. Por ironia do destino e vontade de Deus, ele partiu em 1987, no momento em que o Corinthians reagia de forma espetacular no Campeonato Paulista daquele ano.
Hoje, após sete títulos Brasileiros e na condição de maior campeão da competição, vejo que o meu avô tinha plena razão.
Ele nunca mentiu para mim.
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