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Qual foi a Seleção do Corinthians na década de 70? Blog Dr. Cesar

Já começa a facilitar, não é mesmo?

É uma época com maior riqueza de imagens. É a década de uma das derrotas mais doloridas da história do Corinthians, em 22.12.1974, que culminou na saída do ídolo Rivellino.

É a década da invasão no Maracanã na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976.

É a década da redenção. Do gol salvador de Basílio. Do fim da fila de 22 anos, 8 meses e 7 dias.

É a década do título paulista de 1979. Do gol de canela de Biro-Biro contra o rival favorito. De Sócrates. De Palhinha. Da normalidade restaurada.

Corinthians 1979 - Reprodução internet
Corinthians 1979 – Reprodução internet

É um período feliz em nossa história. O período em que a torcida do Corinthians protagonizou feitos gigantescos provando, na prática, que a vitória é apenas um detalhe. O importante sempre foi o Corinthians.

Com base em pesquisas no Almanaque do Timão, do Celso Unzelte, e leitura de jornais da época, especialmente a Folha de São Paulo, estatísticas, gols, partidas disputadas, títulos, relevância e importância história, montei uma seleção muito forte.

Na década de 70, o esquema tático predominante no futebol brasileiro era o 4-3-3, quatro zagueiros, 3 meio-campistas, um volante, um meia e um ponta de lança e três atacantes, sendo um ponta-direita, um centroavante e um ponta-esquerda.

Na década de 70, o Corinthians conquistou dois títulos paulistas em 1977 e 1979 e foi vice-campeão brasileiro em 1976.

Corinthians 1977 - Reprodução Revista Placar
Corinthians 1977 – Reprodução Revista Placar

Vamos lá.

Goleiro: Tobias. Goleiro campeão paulista de 1977 e personagem principal da grande vitória do Corinthians sobre o Fluminense, na semifinal do Brasileiro de 1976, ao defender dois pênaltis, um de Carlos Alberto Torres e outro de Rodrigues Neto. Fez 125 jogos e sofreu 95 gols entre 1975-1978.

Lateral Direito: Zé Maria, o Super Zé. É uma unanimidade. Zé Maria foi o lateral do Corinthians durante toda a década de 70. Jogou a Copa de 74 na Alemanha. Só não foi a Copa de 78 na Argentina por contusão. Campeão Paulista em 1977 e 1979, Zé Maria bateu a falta que originou o gol salvador de Basílio. É um Deus da Raça, que tem a icônica imagem com a camisa ensanguentada na final do Campeonato Paulista de 1979. Na década de 70, Zé Maria fez 514 jogos, sendo o segundo jogador que mais vestiu a camisa do clube durante o período. No geral, Zé Maria fez 598 jogos entre 1970-1983 com 17 gols.

Zagueiro Central: Moisés. Foi uma escolha difícil. O Corinthians não dava muita sorte com zagueiros centrais. Até Brito, tricampeão do mundo em 1970, não deixou saudades na fiel, especialmente na final de 1974 ao perder a bola no alto para Leivinha, que ajeitou para Ronaldo, o primo do Tostão, fazer o gol do título alviverde em 1974. O nome escolhido foi Moisés, o Xerife. Ele veio para acabar com a inocência da zaga corinthiana trazendo a malandragem necessária para tirar o clube da incômoda fila, que já durava 22 anos. Deu certo. Moisés dizia que “zagueiro que se preza não ganha o Troféu Belfort Duarte”, foi o zagueiro titular na histórica noite de 13.10.1977. No Corinthians, fez 122 jogos entre 1976-1978.

Quarto-Zagueiro: Amaral. Titular da Copa de 1978, já negociado com o Corinthians, trouxe refinamento técnico para a zaga alvinegra. Fez duas temporadas excepcionais em 1978-1979, sendo campeão paulista em 1979 ao lado de Mauro. Na década de 70, Amaral fez 120 jogos pelo Corinthians. No geral, fez 133 jogos e um gol entre 1978-1981.

Lateral Esquerdo: Wladimir. Unanimidade. O jogador que mais vestiu a camisa do Corinthians com 806 jogos e 32 gols marcados. Foram 15 anos de Corinthians entre 1972-1985 e 1987. Revelado pelo clube, Wladimir foi um exemplo de técnica, tática e espírito de luta. Grande jogador. Poderia ter jogado duas Copas do Mundo, em 1978 e 1986, mas foi preterido por Edinho, zagueiro improvisado, e Rodrigues Neto em 1978, bem como por Pedrinho, à época no Vasco, em 1982. Na década de 70, Wladimir fez 454 jogos, sendo figura de destaque nos títulos de 1977, onde teve a chance de fazer o gol do título, e 1979.

Volante: Confesso que tive dificuldades na escolha. Sei que não é uma escolha unânime, mas é preciso escolher e argumentar. Eu poderia escolher Tião, o parceiro de Rivelino. Formado nas categorias de base do clube, Tião formou dupla com Rivelino entre 1968-1974. Diferentemente do companheiro, Tião permaneceu no clube até fevereiro de 1977 quando foi negociado com o Juventus. Fez um histórico gol num Derby de 1971 em que o Corinthians venceu o Palmeiras por 4×3. No geral, Tião fez 13 gols em 367 jogos entre 1967-1977. Na década de 70, fez 13 gols em 295 jogos. Entretanto, não há como não escolher um jogador que atuava em todas as posições do meio de campo e que veio para substituir o Reizinho do Parque. Basílio, o pé de anjo, o eleito, o salvador, o escolhido. São tantos adjetivos cabíveis em Basílio que faltam palavras para descrevê-lo. Eu prefiro chamá-lo simplesmente de herói. O homem que salvou uma nação. O gol que tirou o grito da garganta do corinthiano após 22 anos, oito meses e sete dias. Na década de 70, Basílio fez 27 gols em 242 jogos. No geral, fez 29 gols em 253 jogos entre 1975-1981.

Meia-Esquerda: Rivelino. O maior jogador da história do clube no aspecto técnico. Tricampeão Mundial no México em 1970, apelidado de “A patada atômica” pela força dos seus chutes com a sua canhota. Mesmo sendo considerado o grande responsável pela derrota para o Palmeiras em 1974, Rivelino tem lugar cativo em qualquer Seleção do Corinthians. Na década de 1970, Rivelino fez 53 gols em 175 jogos. No geral, fez 144 gols em 474 jogos entre 1965-1974.

Ponta de lança: Vanderley Eustáquio de Oliveira, o Palhinha, melhor jogador do time campeão paulista de 1977. Fez o gol com a cara e com a coragem no jogo 1 da decisão de 1977. Contundido, não participou do jogo decisivo, sendo substituído por Luciano. Permaneceu no clube até 1980, a tempo de fazer uma dupla inesquecível ao lado de Sócrates. A dupla foi protagonista do título paulista de 1979. Palhinha fez 44 gols em 148 jogos entre 1977-1980.

Ponta-Direita: Vaguinho. Unanimidade. Foi o maior artilheiro do Corinthians na década de 70 com 108 gols e o jogador que mais vestiu a camisa do clube no período com 539 jogos. Campeão Paulista em 1977 e 1979, Vaguinho reinou desde 1971 na Ponta-Direita do Corinthians. Unanimidade. No geral, Vaguinho fez 110 gols em 551 jogos pelo Corinthians entre 1971-1981.

Centroavante: Confesso que Geraldão merece todas as reverências do mundo pelos seus 91 gols em 280 jogos pelo Corinthians entre 1975 e 1981, bem como por ser o carrasco de Waldir Peres e do São Paulo FC, mas o centroavante, aliás, o falso centroavante da década de 70, assim como Geraldo, também veio do Botafogo de Ribeirão Preto. Sócrates. Na década de 70, o Doutor fez 67 gols em 128 jogos, uma média de 0,52 gols por partida. Campeão do 1º turno do Campeonato Paulista de 1978, e Campeão Paulista em 1979, Sócrates veio dar o toque de refinamento que faltava para o corinthiano ser mais feliz. Sócrates se tornou a mola propulsora para a transformação, dentro de campo, de um Corinthians aguerrido para um Corinthians mais técnico. Gênio da bola. No geral, Sócrates fez 172 gols em 298 jogos entre 1978-1984.

Ponta-esquerda: Romeu Cambalhota. Titular absoluto do Corinthians entre 1976-1979, Romeu é uma unanimidade na posição. Foi figura importante, especialmente nas campanhas do vice-campeonato brasileiro de 1976 e do título paulista de 1977. Fez 34 gols em 220 jogos entre 1976-1980.

Tobias, Zé Maria, Moisés, Amaral e Wladimir.

Basílio, Rivelino e Palhinha.

Vaguinho, Sócrates e Romeu.

Abaixo os números do Corinthians na década de 70:

Jogos: 702

Vitórias: 329 (46,87%)

Empates: 221 (31,48%)

Derrotas: 152 (21,65%)

Gols pró: 929 (1,32 por jogo)

Gols contra: 573 (0,81 por jogo)

Saldo de gols: 356

Apenas para efeitos de comparação, seguem abaixo os números do Corinthians nas décadas de 50 e 60:

Década de 50

Jogos: 639

Vitórias: 397 (62,13%)

Empates: 123 (19,25%)

Derrotas: 119 (18,62%)

Gols pró: 1561 (2,44 por jogo)

Gols contra: 893 (1,39 por jogo)

Saldo de gols: 668

Década de 60

Jogos: 599

Vitórias: 312 (52,09%)

Empates: 142 (23,70%)

Derrotas: 145 (24,21%)

Gols pró: 1165 (1,94 por jogo)

Gols contra: 731 (1,22 por jogo)

Saldo de gols: 434

Os números foram pesquisados no Almanaque do Timão de Celso Unzelte.

No próximo texto, a Seleção da Década de 80 com base no esquema 4-4-2.

Sócrates, Biro-Biro, Zenon, Casagrande e mais 7.

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Notícias do Corinthians

13.05.1984 – O Corinthians x Fluminense da minha vida – Blog do Dr. César

Antes de adentrarmos especificamente ao tema, necessário se faz um preâmbulo.

Seis de maio de 1984, domingo de sol com céu azul, Morumbi lotado. Neste dia, o Corinthians fez uma das maiores partidas de sua história ao golear o Flamengo por 4×1 diante de 123 mil pessoas, sendo 115 mil pagantes e oito mil não pagantes. Trata-se do jogo que detém o recorde de maior público da história do Campeonato Brasileiro no Morumbi.

Foi um dos dias mais felizes de minha vida.

Foto: ReproduçãoJornal O Globo

A empolgação foi natural e, claro, era unanimidade na maioria da torcida que o Campeonato Brasileiro, finalmente, seria do Corinthians, afinal eliminou o maior time do Brasil à época, que fora campeão brasileiro em 1980, 1982 e 1983.

Dos quatro semifinalistas, o Corinthians era o melhor tecnicamente. Tinha um grande goleiro Carlos, dois ótimos laterais, Edson e Wladimir. Um meio de campo com Biro-Biro, Sócrates e Zenon. E o jovem Casagrande no ataque. Vasco, Grêmio e o Fluminense, o nosso adversário, eram inferiores tecnicamente. E dentre os quatro times, só havia um gênio: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.

O Fluminense tinha Romerito como seu maior expoente. O Vasco tinha a dupla Arthurzinho e Roberto Dinamite. E o Grêmio tinha Renato Gaúcho e o jovem Valdo.

Mas o futebol é coisa do diabo. Não existe decreto nem já ganhou. A euforia vira decepção de quarta a domingo, ou de domingo a domingo, como foi o caso. São 11 contra 11. Um jogo diferente do outro. E mais: O futebol não é só técnica. E também tático, físico e emocional.

Treze de maio de 1984, domingo chuvoso com céu cinza e frio. Foi um Dia das Mães estranho. Era o jogo de ida da semifinal do Campeonato Brasileiro, no mesmo Morumbi. Corinthians 0 x 2 Fluminense. Uma das partidas mais apáticas da história do clube. Nem a torcida ajudou. Em certos momentos, o Morumbi estava absolutamente silencioso.

Foto: Reprodução Jornal O Globo

Em suma, o Corinthians tomou um dos maiores bailes táticos da história. Não criou nada. Foi completamente anulado pelo esquema tático implantado pelo Fluminense de Carlos Alberto Parreira, que fez uma partida quase perfeita.

Um torcedor japonês do meu lado disse que o “time que jogou contra o Flamengo não existia mais”.

Naquele dia, após o apito final, mais de 90 mil corinthianos saíram frustrados do Morumbi. Muitos saíram dizendo que o “Corinthians jamais ganharia o Campeonato Brasileiro”.

Do meu lado, um senhor de cabelos brancos, cabelo igual do “Veio Zuza”, como ele se autodenominava, óculos e com olhos lacrimejando, disse:

Não liga para essas bobagens, Cesinha. São pessimistas. Jamais escute os pessimistas. Um dia o Corinthians ganhará o Campeonato Brasileiro, escreve aí”.

Eu, ainda, com oito anos, perguntei: “Será?”

E o senhor emendou: “Eu já menti alguma vez para você?”

O senhor de cabelos brancos, óculos e com olhos lacrimejando era o meu avô Raul, o homem que me apresentou o Sport Club Corinthians Paulista. Por ironia do destino e vontade de Deus, ele partiu em 1987, no momento em que o Corinthians reagia de forma espetacular no Campeonato Paulista daquele ano.

Hoje, após sete títulos Brasileiros e na condição de maior campeão da competição, vejo que o meu avô tinha plena razão.

Ele nunca mentiu para mim.

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Notícias do Corinthians

BLOG DO DR. CÉSAR: Bom resultado em Porto Alegre. Eu posso provar

Empatar em 0x0 com o Grêmio, em Porto Alegre, seja na Arena Grêmio ou no Estádio Olímpico, sempre foi um bom resultado.

(Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians)

O histórico de confrontos precisa ser analisado detidamente antes de quaisquer opiniões desfundamentadas sobre o resultado do jogo.

O Grêmio é uma das asas negras do Corinthians. Os números são incontestáveis, vejamos: na história, o Grêmio tem vantagem de 36 vitórias contra 32 do Corinthians e 24 empates. O Grêmio fez 116 gols contra 96 do Corinthians.

Na Arena Grêmio, ontem foi o 8º jogo. O Grêmio tem vantagem de 5 vitórias contra 1 do Corinthians, além de 2 empates, um deles, o fatídico “jogo do Pato”.

Houve 7 jogos na Arena Corinthians com 2 vitórias do Corinthians, 1 do Grêmio e 4 empates.

Houve 38 jogos no Estádio Olímpico, com 10 vitórias do Corinthians, 20 do Grêmio e 8 empates.

Houve 11 jogos no Morumbi, com 2 vitórias do Corinthians, 3 empates e 6 vitórias do Grêmio.

O Corinthians leva vantagem no Pacaembu, onde tem 14 vitórias, 4 derrotas e 5 empates.

Ou seja, o Grêmio é difícil em qualquer lugar. Logo, não havia alta expectativa numa possibilidade de vitória no duelo da 23ª rodada do Campeonato.

E o desempenho? Não foi ruim. Foi aceitável. Eu sou um dos críticos do Carille no twitter. Não sou da turma do “pano”. Nem sou ungido da fiel. Sou crítico.

(Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians)

O Corinthians fez uma partida digna diante do Grêmio. Cássio não fez uma defesa no jogo. O sistema defensivo do Corinthians prevaleceu diante do ataque do Grêmio, que é um dos melhores do Campeonato Brasileiro com Everton Cebolinha sendo chamado constantemente para a Seleção Brasileira.

Nesse sentido, considerando as qualidades do Grêmio e as qualidades do Corinthians, era óbvio que o time do Carille jogasse mais defensivamente, como é natural nas partidas fora de casa. É possível argumentar que a postura mais defensiva, especialmente nos jogos fora de casa, pudesse não ser adotada em jogos contra equipes mais fracas, como o Avaí e Fluminense, mas contra o Grêmio o argumento é fraco em face da qualidade ofensiva da equipe gaúcha, que já fez 37 gols no campeonato.

Quando se pede um time mais ofensivo, não significa abdicar do sistema defensivo competente que foi o ponto forte do Corinthians em todos os títulos de 2009 em diante. Carille é um mestre na arte de organizar um sistema defensivo, todavia é fato que o sistema ofensivo deixa a desejar. O Corinthians fez apenas 25 gols em 23 jogos no Campeonato. O time precisa de E-QUI-LÍ-BRIO. E o Carille não conseguiu chegar nesse estágio. Estamos em outubro. Mesmo assim, Carille não merece quaisquer críticas em razão do resultado e do desempenho da equipe na partida contra o Grêmio.

Ou melhor, merece uma crítica: Clayson não dá mais.

Clayson não pode ser titular absoluto do Corinthians. Carille alega que Janderson é “cru” e Everaldo está machucado. A alegação é frágil. Altera o esquema, coloca o Love na esquerda com Boselli no comando do ataque, ou coloque algum meio-campista na esquerda. É possível sacar o Clayson sem sustos. Ninguém reclamará.

Dito isso, para finalizar, destaca-se que nem nas grandes vitórias, em Porto Alegre, o Corinthians se impunha diante do Grêmio. Em 1995, no título da Copa do Brasil, os melhores em campo foram Célio Silva e Ronaldo Giovaneli. Em 1998, nas quartas de final do Brasileiro, Rincón fez um gol espetacular, mas o melhor em campo foi Nei, o nosso goleiro. Em 2017, o Grêmio atacou muito mais que o Corinthians. Dominou do início ao fim, mas Jadson, num contra-ataque criado por Paulo Roberto, definiu o jogo. O melhor em campo foi Cássio, que pegou até pênalti.

As estatísticas e a história concluem de forma insofismável que o empate de 0x0 contra o Grêmio, em Porto Alegre, foi bom. Quem achou ruim precisa estudar mais, em que pese à necessidade do Corinthians em melhorar o desempenho, especialmente o ofensivo.

Fonte: As estatísticas tiveram como fonte o “Retrospecto do Timão”, editado pelo Jornalista Ricardo Gozzi, coautor, entre outros livros, de Democracia Corintiana – a utopia em jogo (Boitempo Editorial, 2002), escrito em parceria com o saudoso Doutor Sócrates.

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BLOG DO DR. CÉSAR: O campo fala. E fala muito

Historicamente, nunca é fácil jogar contra o Botafogo, seja qual for o nível do time da estrela solitária. É um adversário que sempre dá muito trabalho para o Corinthians. Por isso, a quarta vitória seguida contra o Botafogo no solo sagrado de Itaquera é passível de comemoração, mas não só pela vitória. O Corinthians fez a melhor partida do ano. Impôs a sua maior qualidade técnica desde o primeiro minuto do jogo. Gatito fez quatro grandes defesas no primeiro tempo até o gol de Boselli em jogada excepcional de Pedrinho nos estertores do primeiro tempo. Antes disso, o Corinthians teve o controle total do jogo.

Foto: Eduardo Carmim/Photo Premium/Lancepress! / LANCE!

A linha de defesa jogou sem sustos, até porque o Botafogo foi inoperante, mas cabe destacar a boa partida de Carlos que, mais uma vez deu conta do recado. Nos jogos em que o time jogar mais no ataque por necessidade, Carlos é mais útil que Avelar.

Gabriel e Vital fizeram um grande jogo. Gabriel roubou muitas bolas, passa melhor que Ralf e é mais rápido. Gabriel é o novo titular da volância.

Mas Ralf deve ser descartado? Sob nenhuma hipótese. Temos dois camisas “5” do maior gabarito.

Vital acelera o jogo na transição para o ataque com mais rapidez e objetividade que Sornoza, jogador mais lento e que joga à base do passe curto. Mas não precisamos descartar Sornoza, que ainda pode ser útil. Entretanto, nesse caso, Vital e sua moto pedem passagem ao som dos Paralamas do Sucesso.

Leia também:  BLOG DO MARCELO TIMÃO: Acréscimos - Corinthians 2×0 Botafogo 

Everaldo entrou bem no lugar de Clayson. Tem menos habilidade que o concorrente, mas maior poder de decisão. Pode ser peça importante para revezar com Clayson ou até jogar junto em determinadas circunstâncias. Os dois são do mesmo nível e Everaldo não joga a Copa Sul-Americana, pois já atuou pelo Fluminense.

Boselli fez o que dele espera. Gol. Mas o comandante ainda prefere Love. Sem cornetas, o Carille sabe o que está fazendo, tendo em vista que prometeu e cumpriu um time melhor após a Copa América. O Corinthians finalizou 11 vezes só no primeiro tempo. Antes da parada da Copa América, o time finalizava 8 vezes. Por jogo…

Foto:Marco Galvão/Lancepress!

E o que falar de Pedrinho? Gerson, o canhotinha de ouro, pediu Pedrinho na Seleção. Exagero? Talvez. Mas o Pedrinho com sequência e na condição de “dono do time” ainda tem muito a evoluir. Ontem, Pedrinho participou dos 2 gols, parou em Gatito em outras 2 oportunidades; a primeira num chutaço de fora da área; a segunda numa cabeçada ao final do primeiro tempo em jogada de Carlos. O Little Pedro me fez suspirar com tamanho talento.

Leia também:  MAIS QUE UMA TORCIDA: Noiva surpreende e entra em seu casamento ao som do Hino do Corinthians 

O que os últimos jogos do Corinthians mostraram?

Que o Corinthians pode contar com o seu grupo, revezando assim que necessário, porque a maratona de jogos impõe, por muitas vezes, a escalação do atleta em melhores condições físicas.

O Corinthians tem apenas 4 titulares absolutos: Cássio, Fagner, Gil e Little Pedro. Os demais podem ser reservas ou titulares de acordo com as circunstâncias, porque Carille sabe que o “campo fala”. E fala muito.

Que venha o Fluminense.

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BLOG DO DR. CÉSAR: Boas e interessantes opções

Montevideo Wanderers x Corinthians – Foto: Andres Stapff/Reuters

Mais que a classificação esperada contra o glorioso Montevideo Wanderers, o Corinthians fez uma partida muito consistente. Controlou o jogo sem maiores sustos contra o limitado time uruguaio e criou uma enormidade de oportunidades de gol. Com mais capricho nas finalizações, golearia.

Porém, mais importantes que a classificação e a boa partida foram as boas opções que Carille ganhou.

Alguns jogadores provaram que podem ser úteis em determinados jogos, pois vejamos:

Carlos pode ser, sim, um bom substituto para a Avelar. O jovem lateral é muito superior no apoio ao ataque. Ainda não é um grande marcador, nem tem a força física de Avelar, que ainda por cima é mais experiente, mas, pela partida de ontem, o Carille pode escalá-lo sem maiores sustos, especialmente nos jogos em que Corinthians precisará atacar. Ademais, Carlos pode desafogar Fagner na questão da saída de bola pelos lados.

Outro que aproveitou a oportunidade foi Matheus Jesus. Fez um primeiro tempo soberbo. Bom passe, passadas largas e ótima técnica. Jesus tem mais futebol que Júnior Urso. É questão de tempo para ser titular do Corinthians. Ele pode, também, jogar ao lado de Urso e mais um volante atrás, como Ralf ou Gabriel, nas partidas em que o Corinthians jogar “por menos bolas”.

Matheus Vital dá muito mais dinâmica ao time que Sornoza. E é mais talentoso. Sornoza só tem a bola parada. Vital poderá se transformar em peça vital ao time, desculpem o trocadilho.

Gabriel está em boa fase. Melhora o passe, a transição da equipe sem causar prejuízo na marcação. Pode ser ótima opção ao Ralf no Corinthians.

Henrique é um bom zagueiro, embora a torcida não goste muito do seu futebol. Poucas equipes do Brasil tem um zagueiro reserva tão qualificado como Henrique.

Carille percebeu que pode contar com o elenco nos momentos em que precisar. O Corinthians evoluiu nitidamente, mas ainda tem margem para crescimento. O time, ainda, perde muitos gols, mas, diferentemente do primeiro semestre, cria muito mais oportunidades de finalização.

E que venha o Derby.

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BLOG DO DR. CÉSAR: 25 pitadinhas históricas sobre o Tetra

Foto: Ben Radford /Getty Images

Em 17 de julho se comemorou o aniversário de 25 anos do Tetracampeonato da Seleção Brasileira de Futebol.

Listarei abaixo 25 pitadinhas históricas sobre o inesquecível título que tirou o Brasil de uma fila de 24 anos:

1 – Parreira foi o Técnico da Seleção que mais apanhou da imprensa durante uma Copa do Mundo. Em 1993, durante as eliminatórias, a imprensa fez campanha por Telê Santana, à época fazendo muito sucesso no São Paulo. Detalhe: Telê foi o técnico da Seleção nas Copas de 1982 e 1986 e o máximo que conquistou em termos de resultado foram modestos 5º lugares.

2 – Zagallo, o coordenador técnico, era o oposto de Parreira. Enquanto o técnico atendia a todos com educação, Zagallo tinha a missão de responder a imprensa no mesmo tom.

3 – Parreira e Zagallo não queriam Romário. Só chamaram o baixinho quando a corda estava no pescoço. Muller se machucou e as opções para ser o companheiro de Bebeto contra o Uruguai eram Evair ou Valdeir, o “the flash”. A dupla preferiu não arriscar e chamou o Baixinho. O resto é história.

4 – O capitão da Seleção Brasileira era Ricardo Gomes. Foi cortado. Raí assumiu a braçadeira. Mas o meia do PSG foi sacado nas Oitavas de Final para a entrada de Mazinho. Dunga virou o capitão.

5 – Parreira sempre foi fã de Raí. Zagallo era o oposto. A ideia de escalar Mazinho partiu de Zagallo. Parreira ainda tentou dar a última chance a Raí na semifinal contra a Suécia, mas não obteve êxito. Mazinho se manteve titular.

6 – Os zagueiros convocados para a Copa Mundo de 1994 foram os seguintes: Ricardo Rocha, Ricardo Gomes, Mozer e Márcio Santos.

7 – Ricardo Gomes e Mozer foram cortados e substituídos por Aldair e Ronaldão. O nome para a vaga de Mozer era Cléber, do Palmeiras, mas o alviverde estava na Rússia, o que dificultou o contato. Moracy Santana tinha o contato de Ronaldão, que foi aprovado pela Comissão Técnica.

8 – Ronaldão chegou a Seleção dizendo que não queria ser chamado de Ronaldão. No primeiro encontro com Parreira, o técnico deu boas vindas o chamando de Ronaldão…

9 – Ricardo Rocha se machucou no primeiro jogo contra a Rússia. Aldair virou o titular. O pernambucano, que era um dos líderes do time, disse o seguinte: “Se for para ficar triste, eu vou embora”. Ficou. E foi uma das figuras mais importantes na resenha.

10 – Os nomes mais contestados da Seleção eram Gilmar, Branco, Paulo Sérgio, Dunga e Viola. Parte da imprensa, especialmente a paulista, preferiam Ronaldo, goleiro do Corinthians, Roberto Carlos, Cesar Sampaio, Palhinha e Evair.

11 – Dez jogadores que participaram do fiasco da Copa de 1990 foram tetracampeões: Taffarel, Jorginho, Mazinho, Branco, Ricardo Rocha, Aldair, Dunga, Romário, Bebeto e Muller.

12 – A única revista que tinha autorização para ingressar na concentração da Seleção era a “Caras”.

13 – Leonardo foi expulso contra os Estados Unidos ao dar uma cotovelada em Tab Ramos. Foi suspenso até o final da Copa.

14 – O gol de Branco contra a Holanda originou-se de uma falta do lateral em Overmars. Branco foi uma aposta de Parreira, uma vez que Roberto Carlos já pedia passagem.

15 – Dos 11 gols do Brasil na Copa do Mundo, Romário teve participação, direta ou indireta, em 10. Somente o gol de Márcio Santos contra Camarões não teve a participação do Baixinho. Bebeto, por sua vez, fez 3 gols e teve participação direta em 6 gols do Brasil.

16- Após a vitória contra os Estados Unidos, Muller deu uma bronca em Parreira ao vivo e a cores para todo o mundo.

17 – Perguntado sobre a possibilidade de escalar Ronaldo, então com 17 anos, Parreira saiu pela tangente: “Por que criar confusão? Deixa assim que está bom”

18 – Jorginho, Márcio Santos, Dunga e Romário fizeram parte da Seleção da Copa. Bebeto não fez parte. O ataque da Copa foi apenas Baggio, Stoitckov e Romário.

19 – O avião, que levou a Seleção aos Estados Unidos, partiu com 3 toneladas. Voltou com mais de 14 toneladas. Foi o famoso “voo da muamba”. A ordem de liberação da bagagem provocou a saída do então secretário da Receita Federal, Osíris Lopes Filho, que pediu demissão.

20 – Viola, então no Corinthians, jogou os 15 minutos finais da Copa do Mundo. Quase fez um gol.

21 – Romário prometeu que ganharia a Copa do Mundo. Cumpriu a promessa.

22 – Dunga foi o primeiro capitão da história das Copas que ao invés de erguer a taça, “xingou a taça”. Ele jamais perdoou àqueles que o crucificaram em 1990, criando o jocoso termo “Era Dunga”.

23 – O Brasil fez 11 gols e sofreu 3 na Copa do Mundo. O forte da equipe era apenas o Romário, certo? Não. Era o sistema defensivo, que dispunha de grandes zagueiros, ótimos laterais e 3 volantes marcadores, além de Zinho, à época apelidado “carinhosamente” de enceradeira. Era um 442 padrão com 2 foras de série no ataque.

24 – Parreira, até hoje, não tem o reconhecimento devido pelo tetra. Parte da imprensa ainda exalta quem perdeu 2 Copas com elenco muito melhor.

25 – O tetra acabou definitivamente com a síndrome de perdedor do futebol brasileiro.

Por fim, destaca-se a participação corinthiana na Copa de 1994. O único representante do Corinthians foi Viola, à época com 25 anos, artilheiro do campeonato Paulista de 1993, que na reta final de preparação atropelou os mais cotados Edmundo e Evair e obteve a vaga no grupo da Copa do Mundo. Viola estava voando fisicamente.

Vale destacar, também, o meia-atacante Paulo Sérgio, jogador formado no sagrado Terrão, que à época estava no Bayer Leverkusen da Alemanha. Jogador de muita disposição física e cumpridor de obrigações táticas que convenceram Carlos Alberto Parreira a bancá-lo mesmo contra a opinião da imprensa, que tinha predileção por outros jogadores.

Um salve a Taffarel, Zetti, Gilmar, Jorginho, Cafu, Branco, Leonardo, Aldair, Márcio Santos, Ronaldão, Ricardo Rocha, Mauro Silva, Dunga, Mazinho, Paulo Sérgio, Raí, Zinho, Bebeto, Romário, Muller, Viola, Ronaldo e a toda comissão técnica capitaneada por Carlos Alberto Parreira.

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BLOG DO DR. CÉSAR: Quesito Evolução. Cinco. Nota cinco

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

O Corinthians destoa no quesito evolução.

Evoluiu em relação aos pífios times de Osmar Loss e Jair Ventura, mas é muito pouco perto da fama de Fábio Carille.

No início do ano, a culpa era do calendário. E o técnico tinha razão. Mesmo assim, foi campeão Paulista com um futebol bastante discutível.

Carille pregava que após a parada em razão da Copa América tudo mudaria. Promessa vazia. Em vão.

Gil chegou e, tecnicamente, coloca a defesa em outro patamar. Mas é pouco para galgar novos parâmetros, como diria o ex-técnico da Seleção, Sebastião Lazaroni. O Corinthians não briga pelo título brasileiro. Briga pelo G-6. É o possível.

O time é mecânico demais. E é assim desde o início do ano.

Houve uma natural evolução defensiva, porque Carille é especialista em armar boas defesas. Era absolutamente esperado que o Corinthians dispusesse de um sistema defensivo competente.

Mas o futebol não é só sistema defensivo. É muito mais que isso.

Faltam “camarões” no time. E pela ausência de “camarões”, até no ataque, Carille escolhe aqueles que melhor se adequam ao sistema defensivo.

Exemplos: Vágner Love e Sornoza são muito mais marcadores, muito mesmo, que seus rivais na briga por posição, Jadson e Boselli, respectivamente.

Carille faz o que pode. Entrega um time competitivo, mas com limitações técnicas visíveis.

Vejamos:

Clayson demora demais para tomar uma decisão. E quando toma, invariavelmente, a decisão é errada. Clayson é a nossa melhor arma para dar profundidade ao ataque. Carille pediu Roger Guedes.

Avelar não tem qualidade no apoio, mas é um bom marcador. Carlos, o reserva, é o contrário. Carille escolhe, com correção, aquele que sabe marcar melhor. A saída de bola pelo lado esquerdo é nula. Se o adversário controla o Fagner, o Corinthians tem dificuldades na saída de bola. Carille pediu Arana ou um lateral-esquerdo mais ofensivo.

A bola não chega limpa em Vágner Love. E quando chega, ele a maltrata constantemente. Tem muita raça e disposição, mas o centroavante do Corinthians precisa de mais repertório.

Sornoza é mais volante que meia. Não é um meia que vai meter gol, como Jadson, por exemplo, mas o equatoriano marca e joga mais para o time. Carille já pediu um meia mais qualificado.

O trabalho de Carille não evoluiu como imaginávamos, mas é inegável que ele não dispõe de “camarões” para dar outra cara ao time.

O time tem os mesmos defeitos e qualidades de outrora. Defesa compacta, meio-campo sem criatividade, ataque inoperante, bola aérea defensiva desastrosa, pragmático, boa recomposição defensiva, mas ainda assim competitivo e capaz de brigar pelo título da Sul-Americana.

Parodiando Carlos Imperial, cinco.
Nota cinco no quesito evolução.

Boa semana.

BLOG DO DR. CÉSAR: VAR com Deus

Crédito: Frame/Reprodução

Texto de um corinthiano. Agradecemos a colaboração.

“VAR com Deus. E não volte.

“O afeto ou o ódio mudam a face da justiça.” (Blaise Pascal, séc. XVII) “Nem sempre será justo. Futebol tem dessas coisas. Por isso é tão lindo.” (Jorge Sampaoli, 2019)

O futebol tem seus primeiros relatos na Itália, em Florença. Um esporte que podia ser jogado com os pés e com as mãos, e os pontos eram feitos nas extremidades demarcadas. Uma Florença Renascentista, em um período de ascensão e valorização do homem individualista. Paradoxalmente ao individualismo, pratica-se um esporte coletivo. Mas nem tão incongruente assim. Embora haja um objetivo comum, são 22 homens com suas singularidades acentuadas.

Nas faculdades inglesas o esporte foi moldado, e mais do que qualquer outro, se adapta aos povos, às classes, às tribos, aos solos. Do erudito ao popular, há futebol nos mais belos campos e parques, assim como em ruas de pedra, à beira do rio, na areia da praia, no asfalto das cidades, na cerâmica de casa. Com bolas cheias de tecnologia de peso e velocidade ou com latas de refrigerante. Tudo vira futebol.

E o que explica tanto sucesso? A resposta é mais simples do que se imagina: o ser humano é apaixonado por surpresas.

Não há lógica dos pés serem a principal ferramenta em um esporte. Mal se consegue ter independência nos dedos! É a festa da imprecisão. Há de se desenvolver habilidades antinaturais para executar movimentos com virtuosidade. Por mais que seja possível presenciar apresentações harmônicas, é uma orquestra de músicos descompassados, em movimentos corporais completamente distintos entre si, cada um com um nível de habilidade particular, o que aumenta a probabilidade do improvável.

Qual outro esporte coletivo permite que jogadores de baixa estatura e franzinos se destaquem? O futebol propicia exibições solos fantásticas em meio a coletividade, que nenhum outro proporciona. É surpreendente – e apaixonante! – ver o Golias da força e imposição física ser vencido pelo Davi ágil e habilidoso. Sem deixar de ser belo quando Davi é superado. O mais forte nem sempre vence. O mais fraco nem sempre perde. Simplesmente porque não há como medir precoce e precisamente quem está de qual lado.

Há regras precisas. 17. Todos as conhecem. Por interesse ou por osmose. Algumas delas podem ser suprimidas (ou levemente modificadas) na recreação, sem perder a essência do jogo.

A torcida é compartimento fundamental na construção do cenário perfeito. Uma fusão de emoções ora trazida do campo para a arquibancada, ora da arquibancada para o campo. Não há lógica, como em quase tudo nesse esporte, para a sintonia. Até a frustração é compartilhada. E a emoção dividida em abraços desconhecidos. Tudo em fração de segundos. Pela bola que raspou a trave, que o goleiro tirou com a pontinha dos dedos, ou pelo gol chorado que bateu em todo mundo. A tensão de ver um jogador do seu time expulso, e 10 lutarem como 11 e contra 11, ou a vibração de ver o adversário fragilizado por perder um dos seus.

O jogo nunca acaba. O erro humano sempre fez parte do jogo. Seja dos jogadores ou de quem apita. E só por isso algum time vence. A discussão vai perdurar dias, semanas. O vencedor vai rir, o perdedor vai reclamar. Dias depois o perdedor vencerá. Será ajudado por um erro. Do adversário, ou do árbitro. O jogo nunca acaba mesmo!

Quanto mais presença das características humanas, mais apaixonante fica. Todo mundo erra, acerta, mente, é justo, é injusto, tem dias bons, tem dias ruins, faz coisas incríveis, tem atitudes repreensíveis, vence, perde, chora e ri. Naturalmente, por ser humanizado, o futebol, redundantemente, se aproxima da humanidade. Por gerações.

Tudo é muito simples e acessível.

Era.

De repente se criou a necessidade da ausência de erros. Da tecnologia a qualquer custo. Da chamada “justiça” no futebol.

O jogo perdeu a espontaneidade. A torcida só ri ou chora após o apito final. Durante 90min está engessada. O que aconteceu no campo terá que esperar 1, 2, 10 minutos para ser confirmado. Não abrace ninguém quando aquele gol improvável sair quase do meio-campo. Alguém de 1,68m, 67kg, pode resvalar em um zagueiro de 1,92m e 90kg, e ele cair fora do lance. Cinco minutos depois, quem comanda a tecnologia anulará. A euforia, a confiança no título, a conexão inexplicável entre time e torcida, será brutalmente cortada. Toda aquela adrenalina vai baixar. A injeção de ânimo se transformará em decepção. A confiança será abalada. Não haverá mais forças para se reerguer diante do desgosto.

O jogo que nunca acabava, agora, muitas vezes, acaba antes do apito final. E o pior: sem justiça alguma. O erro que não interrompia a paixão de ninguém pelo esporte, apesar da raiva momentânea, agora está respaldado. Outrora nas mãos do acaso, agora está nas mãos da incompetência. E a incompetência mata a poesia. O improficiente do apito era apenas um jovem rebelde fazendo travessuras, todos relevavam. Agora se torna um serial killer de emoções. Não há tecnologia que corrija a capacidade humana de errar, rever e errar novamente. Ou pior: acertar, rever e retificar com um erro. Intolerável.

A imposição da aclamada justiça se torna um crime psicológico por meios cruéis. Se o VAR veio para ficar, a paixão está prestes a definhar. Não há justificativa plausível para a robotização do amor. E o futebol é a maior expressão do imponderável.

Ou era.”

[Daniel Brito]

Daniel Brito, maranhense, tinha duas chances de conhecer e ser conhecido além do que chama de “esquina do fim do mundo”: ser jornalista ou jogador. Da primeira, desistiu. Da segunda, teve que parar cedo demais. Coube ao Corinthians fazer a conexão com o resto do mundo e com tanta gente incrível.

Twitter @danielbritoo

BLOG DO DR. CESAR: Vá em paz, Romero

Foto: Sergio Barzaghi

É um assunto extremamente cansativo, pois o personagem em questão apostou numa valorização que não veio do Corinthians, nem de qualquer clube brasileiro e, agora, pretende uma reconciliação, porque viu que o mercado não pagará o que ele pretende.

Ficou 6 meses parado por conta própria. Só treinando. Não jogou o primeiro semestre pelo Corinthians e, por consequência, perdeu a Copa América.

Romero não vale o que dizem que está pedindo. Que fique claro que o atleta tem o inalienável direito de pedir o que bem entender para renovar o contrato. E o clube, do mesmo modo, tem o direito de negar a pretensão do atleta.

Os valores são surreais. Romero não é craque. É, no máximo, esforçado. Foi campeão 4 vezes no Corinthians.  Campeão Brasileiro, em 2015 e 2017, e campeão Paulista, em 2017 e 2018. Fez parte do contexto. É um jogador que faz uma função tática importante. Uma espécie de Jorge Henrique Guarani. Fez 38 gols em 222 jogos pelo Corinthians.

Números razoáveis, como os de Jorge Henrique, que fez 30 gols em 216 jogos, com 6 títulos conquistados pelo clube.

Em suma, assim como Jorge Henrique, Romero não fará a menor falta para o Corinthians. Ele é assessor de lateral, cumpridor de suas obrigações táticas, raçudo, esforçado, mas não é o jogador que dará um título para o Corinthians, como Neto, Marcelinho, Edílson, Tevez, Sócrates etc.

Vá em paz, Romero, o Corinthians sobreviverá firme e forte com o dom da eternidade.

Por Blog do Dr. Cesar