- Por Larissa Beppler | Redação da Central do Timão
“O dia 1º de julho de 1969 marca a data oficial da fundação do Grêmio Gaviões da Fiel Torcida. Um grupo de corinthianos autênticos que vieram a se conhecer nas gerais dos estádios onde o Corinthians se apresentava e isto lá pelos anos de 1965. Movidos pelo ideal de colaborar com a vida do clube, não só incentivando o time, mas também participando efetivamente da vida política administrativa do Sport Club Corinthians Paulista. Enquanto torcia pelas vitórias, fiscalizava o dia a dia do clube e denunciava os demandos.”
Em uma pequena garagem emprestada, na casa do avô de um dos corinthianos, surgiu a maior uniformizada do Timão, que completa 54 anos de fundação nesta sexta-feira. O trecho acima é do próprio site oficial da torcida e tradicional escola de samba paulistana.
Pioneira nos estádios brasileiros, a Gaviões da Fiel hoje conta com mais de 120 mil associados e nasceu em um momento de crise no clube alvinegro. Na época, o Corinthians enfrentava um jejum de 15 anos sem ganhar títulos expressivos, o que só voltaria a acontecer com a conquista do Campeonato Paulista, em 1977. O grupo uniformizado tinha como principais objetivos reunir a torcida corinthiana e protestar contra dirigentes que faziam um trabalho desastroso à frente do Timão.
Chico Malfitani, um dos fundadores da organizada, costuma dizer que “a Gaviões surgiu de um movimento dentro da torcida do Corinthians que buscava lutar contra duas ditaduras. A que dominava o Brasil de dentro dos quartéis e a do ex-presidente do Corinthians Wadih Helu”.
Com um componente político-social desde a sua gênese, a Gaviões da Fiel marcou época em plena ditadura militar brasileira. Durante um clássico entre Corinthians e Santos, disputado no Morumbi na tarde do dia 11 de fevereiro de 1979, a maior torcida organizada do Timão realizou uma manifestação política histórica dentro do estádio.
No momento da entrada do Corinthians em campo no Clássico Alvinegro, os torcedores ergueram uma faixa com um recado aos militares no poder em Brasília desde 1964: um pedido de anistia ampla, geral e irrestrita para os perseguidos políticos, presos e exilados pelo regime.
Alguns anos depois, os Gaviões da Fiel também apoiaram o movimento Democracia Corinthiana, liderado pelos ídolos Sócrates, Casagrande e Wladimir, que buscava o reconhecimento do jogador de futebol como cidadão e sujeito político, e lutava pela redemocratização do Brasil. A organizada promoveu a campanha “Presidente quem escolhe é a gente”.
Assim como a trajetória do Corinthians, clube fundado por operários, sempre esteve ligada às lutas populares, também a da torcida que ajudou a invadir o Maracanã, em 1976, e o Japão, em 2012, protagonizando espetáculos nos estádios mundo afora, está intrinsecamente ligada às causas sociais. A Gaviões da Fiel já se manifestou na arquibancada contra o racismo e a exclusão social, e desenvolve alguns projetos solidários em sua sede, no bairro do Bom Retiro.
A partir de 1988, além da presença maciça nos estádios, a organizada passou a participar do desfile das escolas de samba de São Paulo. A agremiação já conquistou quatro títulos do Grupo Especial (1995, 1999, 2002 e 2003) e três do Grupo de Acesso (1991, 2005 e 2007).
Desde a sua fundação em 1969, muita coisa mudou no contexto político brasileiro, assim como no futebol e, como não poderia deixar de ser, também na torcida. Contudo, o mais importante – o ideal de apoio incondicional ao Timão – permanece vivo e cada vez mais forte nas arquibancadas. “Pelo Corinthians, com muito amor, até o fim.”
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