“Fiel à sua nação até a morte” – Esta é a frase que está na lápide do mais icônico e amado presidente da história do Corinthians, e resume bem quem ele foi
Um dos 11 filhos de pai português e mãe espanhola, Vicente Matheus, nascido na Espanha em 1908, chegou ao Brasil aos seis anos. De origem pobre, humilde, ajudava os pais no armazém, mas as coisas começaram a melhorar com o arrendamento de uma pedreira, segundo consta no livro “Quem sai na chuva e para se queimar”, que relata sua vida.
Ajudava o pai na pedreira, carregando pedras, quebrando-as e, por fim, cuidando dos pagamentos. Quando o pai morreu, herdou naturalmente a administração do negócio. Nunca teve tempo para estudar, dizia.
Na década de 30, conseguiu vencer licitações para pavimentar as ruas de São Paulo, entre elas a rua São Jorge, que liga a avenida Celso Garcia até o portão de entrada do Parque São Jorge. O Corinthians já havia se mudado da Ponte Grande para o local. Foi quando Vicente Matheus, que já tinha identificação com o clube, mudou-se para o Tatuapé, para ficar perto do Corinthians. No ano seguinte tornou-se sócio do clube, e naturalmente chegou ao conselho.
Em 1954, ano da histórica conquista do Paulista do IV Centenário de São Paulo, tornou-se diretor de futebol. Iniciava-se assim na vida política do Parque São Jorge e em 1959 elegeu-se presidente pela primeira vez.
Foi o comandante nos anos difíceis de seca de títulos, mas também nos anos de duas das principais conquistas do Cointhians: o Campeonato Paulista de 1977, que encerrou um jejum de 23 anos sem taças no Estadual, e o Campeonato Brasileiro de 1990, o primeiro nacional de relevância do clube. Apesar da fama de pão duro, é incontável a fortuna que ele doou ao Corinthians. Dizia que o dinheiro era do Corinthians, não era dele para gastar como quisesse.
Como presidente, Matheus fez de tudo para tirar o Corinthians da fila de títulos. Contratou craques, buscou técnicos experientes, caçou sapos enterrados no Parque São Jorge (acreditando que o jejum era motivado por algum “trabalho”) e chegou até ser radical mandando para o Fluminense o maior jogador do time (e do clube): Roberto Rivellino, após o time perder a decisão do Campeonato Paulista de 1974 para o Palmeiras. Dizem que sofreu com essa decisão, mas, que queria ver o Corinthians bem.
Neste sábado, completam-se 23 anos da morte de Matheus, que ocorreu às 19h30 de outro sábado, 8 de fevereiro de 1997, aos 88 anos, após 14 dias de internação no Instituto do Coração, em São Paulo. O “Presidente”, como era chamado até quando não estava no poder, foi enterrado no cemitério da Quarta Parada, na zona leste (seu território preferido) de São Paulo.
Coincidentemente, no dia do velório de Vicente Matheus, em 9 de fevereiro, o Corinthians derrotou a Inter de Limeira por 2 a 0 pelo Campeonato Paulista. A despedida de Matheus foi com uma vitória do grande amor que o mais “folclórico” presidente da história do clube teve. Neste domingo, 9 de fevereiro de 2020, o Timão enfrenta, mais uma vez, a Inter de Limeira, pelo Campeonato Paulista.
“Ele era um homem que acima de tudo amava o Corinthians. Fazia tudo pelo Corinthians e, apesar do que muitos pensam, administrava com a razão e não com a emoção”, disse José Texeira, que foi técnico, auxiliar-técnico e coordenador do clube alvinegro.
Dizia que amava mais o Corinthians que sua própria família. Rico, humilde e carismático, dono de um bom humor inesgotável, grande frasista e apaixonado pelo Corinthians, vez ou outra soltava pérolas que se tornaram lendárias com o passar dos anos.
Passados vinte e três anos de sua morte, vamos relembrar algumas:
* ‘Comigo ou sem migo o Corinthians será campeão’
* ‘Minha gestação foi a melhor que o Corinthians já teve’
* ‘O Sócrates é inegociável, invendável e imprestável’
* ‘Gostaria de agradecer à Antarctica pelas Brahmas que nos mandaram’
* ‘Quem está na chuva é para se queimar’
* ‘O difícil, vocês sabem, não é fácil’
* ‘Jogador tem que ser completo, tem que ser como o pato, que é aquático e gramático’
* ‘Vou dar uma anestesia geral para os sócios com mensalidade atrasada’
* ‘Tive uma infantilidade muito difícil’
* ‘Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão’
* ‘Um jogo só acaba quando termina’
* ‘O nosso mais novo reforço para compor a zaga é o Quero-Quero, Lero-Lero…’ (na contratação de Biro-Biro)
* ‘Peço aos corintianos que compareçam às urnas para naufragar nossa chapa’
* ‘Depois da tempestade, vem a ambulância’.
Vicente Matheus foi presidente do Sport Club Corinthians Paulista por vinte anos durante vários mandatos não consecutivos de 1959 a 1991. Em suas gestões, o clube foi campeão Paulista nos anos de 1977, 1979 e 1988 e campeão Brasileiro em 1990.
Por Nágela Gaia/Redação da Central do Timão