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EXCLUSIVA: Célio Silva fala com a Central sobre sua carreira e a Base Alvinegra

Ex-jogador do Timão fala de fatos marcantes da sua carreira e dos bastidores corinthianos da década de 90, bem como tece comentários sobre os métodos de ensinamento nas Categorias de Base do Corinthians

Conversamos, por meio do nosso Colaborador Tio Sam, com o Canhão do Parque São Jorge, Célio Silva. Com 157 jogos e 19 gols pelo Timão, Célio foi Campeão Paulista em 1995 e 1997, além de ter conquistado a primeira Copa do Brasil do Corinthians, em 1995.

Célio Silva teve passagem marcante pelo Corinthians na década de 90
(Foto: Central do Timão)

Célio ficou conhecido pelos gols de falta e pela potência dos chutes, por isso, o apelido de Canhão do Parque. Célio falou bastante sobre sua história com o Corinthians e deu detalhes de sua saída do futebol de base do clube. Confira:

Central: O que o Corinthians representa para você?

“No Corinthians eu vivi 4 bons anos e, se não fosse o Vanderley Luxemburgo, eu não teria saído, mas vêm muito de encontro ao que eu venho falando, há uma passagem na bíblia que eu gosto de usar, não sou fanático, mas que o profeta não tem honra na sua casa. As pessoas preferem pegar gente de fora por medo de que você conhece ou sabe demais o que acontece aqui dentro. Temem que a gente seja “dedo-duro” e isso acaba atrapalhando um pouco.”

“Eu fui muito feliz no Corinthians, minha origem é Rio de Janeiro e minha infância foi o Botafogo, mas aqui em São Paulo eu sempre fui corinthiano, sempre tive um carinho muito grande pelo Corinthians e o fato de ter vindo jogar no Timão me fez muito mais corinthiano do que torcedor do Botafogo.

“Eu encarnei o espírito corinthiano, senti realmente o que precisava para ser ídolo no clube, não para ser melhor que os outros, mas para poder representar o Corinthians, o que precisava e, graças a Deus, eu consegui com meu estilo de jogo, consegui entrar para a história do clube. Hoje, sou o quinto maior zagueiro-artilheiro do clube, isso sem bater pênaltis, hein, até porque na minha época existia o Marcelinho, que dificultava muito a concorrência para bater. Eu tenho um amigo, que faleceu há pouco tempo, o fotógrafo Ulisses que me dizia que eu nunca tinha saído do clube, meu coração sempre esteve aqui.

Central: Com relação ao Luxemburgo, o Ronaldo também disse, diversas vezes, que ele “queimou” alguns jogadores…

“Na época que ele chegou, ele mandou todo mundo embora. Ele entendeu que íamos prejudicá-lo por termos liderança aqui dentro. E tínhamos mesmo. Outros atletas não foram embora, como Marcelinho, Edílson, Vampeta (na verdade, referiu-se à Rincon), mas eles não foram porque renovaram contrato com a Excell.”

“Gosto do Luxemburgo, a gente conversa, bate papo, acho que foi um dos melhores treinadores do Brasil, um dos dois melhores com quem trabalhei, o outro foi o Ênio Andrade. Luxemburgo é um estrategista, por tomar algumas atitudes, teve dificuldades em alguns momentos, mas é um grande treinador.”

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Central: Você tem defendido a inserção de ex-jogadores nas bases dos clubes e outras áreas.

“É muito mais fácil você pegar um ex-atleta e colocar para estudar do que pegar um professor e colocar para chutar bola. Eu não sou contra os estudantes no futebol, mas do sub-20 pra cima, porque aí não tem mais ensinamentos, aí é 100% tática. Mas lá embaixo, seu filho tem 4 ou 5 anos, tem que ter base para passar qualquer ensinamento, antes do garoto começar a correr, tem que ficar em pé, ter equilíbrio.”

Os formadores não somos mais nós, perdemos espaço para os livros. Teoricamente eu não sou contra, penso que é fundamental estudar, porém, o campo tem que ser ensinado por quem sabe e soube jogar.”

“Hoje quem tem dinheiro pra fazer o Curso B da CBF conquista os espaços. Eu fiz o curso e não teve nenhum ex-atleta me ensinando, ou seja, o cara vai me ensinar alguma coisa que ele não sabe. Eu tenho minha vida estabilizada, hoje, graças a Deus, então eu tenho a liberdade para falar e não estou falando nenhuma besteira, falo o que tem sentido e possibilidade de discussão.”

Os clubes, de um modo geral, estão fadados a cair, no futebol brasileiro já se vê uma decadência muito grande. O feeling e o detalhe final os jogadores não têm mais.”

Central: Você está comandando o futebol sub-13 do Corinthians?

“Eu entreguei meu cargo há quatro meses. Isso ninguém sabia né? E ninguém veio me perguntar o porquê também.”

Célio falou pela primeira vez sobre sua saída das Categorias de Base do Corinthians (Fofo: Central do Timão)

Central: Por quê?

“Isso é uma outra história, um assunto mais… eu prefiro discutir com o alto escalão do clube para depois eu abrir, mas ninguém do comando, que tenha a caneta na mão veio me perguntar por que eu entreguei o cargo. Será que é por ser ex-atleta que pode deixar pra lá? Os que estão lá são donos de empresas, é formado, tem MBA, então eles têm a certeza que sabem muito mais do que eu.”

“O futebol profissional é resultado, a base não pode ser. Base tem que ver qual a gana que o moleque tem, o 1 contra 1, 1 contra 2. Hoje estão sendo implementados treinos de profissional em categorias de base que não é compatível. Você treina o moleque de 12, 13 anos em campo reduzido de 30 metros, sendo que o campo tem 100. Então o moleque não consegue se adaptar ao espaço. O atacante não tem o tempo de bola, o zagueiro também não, não tem reação de domínio, porque o adversário está chegando. Eles estão habituados no espaço curto, assim, é só domina e toca.”

“Eu ouvi um diretor do Corinthians dizer para um menino que se ele for bem, vai para um clube grande, sendo que ele já está em um clube gigante. Ele está no Corinthians e ouve que pode ir para um clube grande? Algo está errado, principalmente dentro do Parque São Jorge. Falta realmente a base, a formação.”

“Se você pegar todos os grandes europeus, a linha de frente ou é sul-americano ou africano: No Barcelona é o Messi e Suárez, no PSG tem o Neymar e Cavani. Isso quer dizer que ainda temos grandes talentos no Brasil, a diferença é a forma de treinar, desde a base, a formação. Não podemos copiar a forma de jogar dos europeus, podemos copiar a organização, administração, mas a forma de jogar tem que ser da forma que sempre foi.”

“Para mim, o que evoluiu no futebol brasileiro é medicina, centros de treinamentos fantásticos, agora campo… Quem diz que o futebol atual ficou mais rápido é porque nunca viu Romário jogar. Se jogador corre 13 kms, Romário corria 2, mas resolvia. Quem tem que correr é a bola, não o jogador. Cansei de ver o Túlio dormir na área. Se colocasse GPS nele, daria uns 3 kms no máximo, a bola chegava era gol. Futebol, hoje, é correr.”

“Infelizmente, hoje, não tem como fazer comparação com anos 90, muito menos 80 pra baixo. Os treinadores não são os únicos culpados, porque as instituições os obrigam a jogar pelo resultado. Você enche a Arena Corinthians, e com 4 milhões de renda não paga os salários. Hoje, um ganha 600, outro 700 mil, treinador ganha 800, então o clube, depende do patrocínio, direitos de TV e fica refém do resultado. Esquece o futebol bonito, é resultado.”

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Central: Você fez uma dupla de zaga muito boa com Henrique. Foi teu parceiro de zaga preferido?

“Se você me perguntar qual zagueiro foi melhor entre Henrique e Gamarra, eu te digo, sem sombra de dúvidas, que foi o Henrique.”

“Gamarra foi muito mais malandro do que bom zagueiro. Henrique era zagueiro que combatia e tinha o tempo de bola perfeito, enquanto Gamarra ficava na sobra, sempre teve o serviço mais fácil, muito mais tranquilo. Eu prefiro mil vezes um jogador como o Henrique ao Gamarra.”