Depois da derrota do Catar para o Equador, no único jogo do último domingo, a Copa do Mundo de 2022 chega ao seu segundo dia com os duelos entre Inglaterra e Irã, Senegal e Holanda e Estados Unidos e País de Gales. E ao longo de sua história centenária, o Corinthians teve apenas um jogador nascido em algum dos seis países que entram em campo pelo Mundial nesta segunda-feira: o inglês Colin Kazim-Richards.
Kazim nasceu em Leytonstone, no Leste de Londres, mas se naturalizou turco e até chegou a defender a seleção da Turquia durante a carreira. O atacante chegou ao Corinthians após deixar o Coritiba, em 2017, e teve um bom início no clube. Ele, porém, perdeu espaço em função da ótima fase de Jô, e conviveu com o banco de reservas ao longo da temporada.
Apelidado carinhosamente de Gringo da Favela, alcunha que o próprio jogador carrega até hoje, Kazim disputou apenas 37 jogos pelo Corinthians e marcou quatro gols, um deles de peito, na vitória por 1 x 0 contra o Avaí, que praticamente assegurou o título do Brasileirão de 2017. Ele ainda ergueu duas taças do Paulistão, em 2017 e em 2018, com o manto corinthiano.
Kazim deixou o Corinthians na metade de 2018 e, desde então, passou por cinco clubes: os mexicanos Lobos BUAP, Veracruz e Pachuca, o inglês Derby County e o turco Karagümrük, onde está desde julho deste ano.
Nesta segunda-feira, 12, foi ao ar mais um capítulo dessa extensa e longeva novela sobre o financiamento da Arena Corinthians
Antes de mais nada, gostaríamos de deixar registrado que nada do que está descrito aqui diz respeito à Arena Corinthians em si, mas se refere ao modelo de financiamento que vem se arrastando desde 2010.
Vamos recapitular desde o início da história:
16 de
setembro de 2010 – ATA de Reunião para aprovação da construção da Arena
Corinthians
Esta data marca a aprovação da construção da Arena Corinthians em Reunião do Conselho Deliberativo. A votação positiva foi unânime e a princípio, o estádio seria com capacidade para 48 mil pessoas e teria um custo fixo de R$ 335 milhões, valor esse garantido pelo então presidente Andrés Sanchez.
03 de
setembro de 2011 – Assinatura do contrato de construção da Arena
Quase um ano após a reunião do Conselho para aprovação da construção da Arena, o contrato finalmente é assinado, junto à Construtora Odebrecht. O contrato já vem com mudanças do inicialmente proposto pelo presidente do Clube, principalmente nos valores.
De R$ 335 milhões, o valor aumenta substancialmente para R$ 820 milhões. Esse aumento se dá para que o estádio pudesse sediar a abertura da Copa do Mundo de 2014, com todas as exigências da FIFA, inclusive o número de assentos para os torcedores. Arquibancadas móveis seriam instaladas em cima dos setores Sul e Norte. Nisso, a Prefeitura de São Paulo, na Gestão de Gilberto Kassab, assim como o Governo do Estado sob a tutela de Alberto Goldman e o presidente da CBF Ricardo Teixeira, intercederam para que o Corinthians tivesse um subsídio de R$ 420 milhões através do CID (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento) o que de toda forma o clube teria direito, visto que está previsto na Lei de Incentivos Fiscais que já existia para a região de Itaquera. Esse aumento no orçamento da construção do Estádio, fez a Odebrecht buscar uma forma de adicionar receita, sendo que conseguiu através de Debêntures, que são créditos lançados ao mercado para captar recursos, similar a um empréstimo. Essa transação aconteceu em 2014 entre a construtora e a Caixa Econômica Federal, e foi de R$ 350 milhões.
Fevereiro
de 2019 – Reunião de conselheiros para discutir dívidas da Arena
Andrés Sanchez voltou para a presidência do Corinthians com a promessa de acabar com o imbróglio das contas da Arena que começou em R$ 335 milhões, chegou a R$ 480 milhões, saltou para R$ 820 milhões, sendo que, se somados os valores do overlay da abertura da Copa, que o Município de São Paulo, na pessoa do então Prefeito Gilberto Kassab, acordou em pagar, mas não cumpriu com o combinado, bem como os encargos financeiros decorrentes do atraso da liberação do empréstimo do BNDES e liberação do CIDS, o valor chegou a mais de R$ 1 bilhão.
Nesta reunião foram discutidos vários temas, principalmente sobre os números da Arena. Andrés se dispôs a responder a todas as dúvidas dos conselheiros e foram criadas comissões para tratar de assuntos do clube. A Comissão da Arena foi criada com membros da situação e oposição do clube. Nesta reunião, Andrés afirmou que faria acordo com a Construtora Odebrecht para reduzir o valor da cobrança de R$ 800 milhões. Conselheiros sugeriram que descontassem o valor verificado em auditoria na Arena em obras inacabadas, deixadas pela Construtora.
12 de
agosto de 2019 – Em reunião do Conselho, Andrés diz ter feito acordo com
Odebrecht
Andrés diz que fechou acordo com a Odebrecht e que o clube pagará apenas R$ 160 milhões dos R$ 800 milhões cobrados pela construtora. O valor proposto agradou a todos os conselheiros presentes na reunião, mas vale ressaltar que nenhum contrato foi firmado e há algumas informações que precisam ser debatidas:
Como será feito o pagamento desse valor com a Odebrecht
O Corinthians já tem um financiamento com a Caixa, pagando R$ 58 milhões por ano, sendo R$ 6 milhões por mês, de março a outubro, e R$ 2,5 milhões de novembro a fevereiro. Na reunião do conselho, em fevereiro, foi informado que o estádio tem uma arrecadação anual líquida de 54 milhões, deixando R$ 4 milhões em déficit anual e arcado pelo clube. O Corinthians não conseguirá arcar com mais um financiamento de forma simultânea.
FINANCIAMENTO
COM A CAIXA EM RISCO
Andrés quer refazer o financiamento com a Caixa, diminuindo os juros e alterando o valor de parcela. Chegou a ameaçar interromper o pagamento, forçando-os a refazer o acordo. Acontece que isso pode gerar um desgaste com a própria Caixa, torcedores e até mesmo com o Governo Federal. Por um lado, está certo em querer alterar os valores, o Corinthians é o único dono de estádio – dentre os que foram construídos para a Copa do Mundo de 2014 -, que vem pagando regularmente o BNDES, através da CEF. Mas interromper o pagamento é uma forma equivocada de buscar uma renegociação. Conselheiros alegam que há falhas no contrato com a Caixa, falhas que, segundo eles, teriam sido informadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União), e isso seria levado até o banco estatal.
Odebrecht
em recuperação judicial
Outra questão abordada por conselheiros é o risco de um novo acordo com a construtora não ser homologado na justiça, tendo em vista que a Odebrecht está em processo de recuperação judicial. Apesar de Andrés dizer que tem a aprovação da construtora, existe a possibilidade do acordo não ser concretizado.
Término das obras da Arena Corinthians
Caso o novo acordo com a Odebrecht realmente seja aprovado, a Arena herdaria um problema, que seria a falta de certos itens ou o complemento de alguns deles, entregues parcialmente. Essas obras, mesmo sendo grande parte delas das chamadas “perfumarias”, dificultam, de certa forma, a venda de espaços no setor Oeste da Arena, pois todas elas foram planejadas para dar mais funcionalidade à praça esportiva corinthiana.
Um relatório feito pela empresa Molina & Reis Advogados, contratada pelo Corinthians para coordenar a auditoria da Arena, apontou obras inacabadas. Trechos do documento entregue à diretoria alvinegra no início de 2017, foram divulgados no último mês de abril.
O QUE PRECISA SER REFORMADO
Drenagem e terraplenagem – R$ 20,04 milhões Estrutura de concreto – R$ 2,1 milhões Acabamentos – R$ 19,14 milhões Instalações prediais – R$ 12,1 milhões Ar condicionado e instalações mecânicas – R$ 4,2 milhões Acessos e estacionamentos – R$ 1,1 milhão Cobertura – R$ 1,8 milhão Urbanização e paisagismo – R$ 3 milhões
O QUE DEIXOU DE SER FEITO
Drenagem e terraplenagem – R$ 1,76 milhão Fundações e contenções – R$ 14,89 milhões Estrutura de concreto – R$ 254,8 mil Acabamentos – R$ 92,25 milhões Instalações prediais – R$ 14,9 milhões Sistemas eletrônicos – R$ 17,65 milhões Ar condicionado e instalações mecânicas – R$ 2,1 milhões Acesso e estacionamentos – R$ 4 milhões Urbanização e paisagismo – R$ 3,6 milhões
Outras análises sobre as obras inacabadas foram feitas, chegando-se a conclusão de que as mesmas passam dos R$ 100 milhões de reais.
Ouvimos alguns importantes conselheiros ligados à oposição e que participaram da reunião sobre a aprovação do acordo:
Heroi Vicente – “O Grupo Liberdade Corinthiana repudia qualquer iniciativa de inadimplemento da Caixa Econômica Federal, da Odebrecht ou quem quer que seja, que acarrete risco ao Corinthians. Vale lembrar que as dívidas possuem garantias e não é adequado lançar o clube numa aventura, sem mensuração prévia das possíveis consequências. Se de fato existe o tal acordo que reduz a dívida – e não temos certeza – ótimo, porém que essa transação seja consumada sem que o Corinthians se torne inadimplente no processo e sem que ocorra comprometimento em relação à eventuais obras faltantes que se revelarem imprescindíveis ao perfeito funcionamento da Arena.”
Felipe Ezabella – “Em relação ao noticiado ontem, sobre a reunião do Conselho, o Movimento Corinthians Grande acredita que o possível acordo com a Odebrecht é extremamente positivo para o clube – desde que ele aconteça de fato e que os valores sejam realmente os veiculados pela imprensa. Em fevereiro desse ano, o presidente Andrés Sanchez afirmou que ‘em três meses o acordo seria assinado’. Em recente entrevista ao canal Fox Sports, o presidente declarou que pagaria apenas os R$ 400 milhões do BNDES mais juros, no amor ou no ódio. No mês passado, grupos de oposição se uniram para solicitar uma reunião do Conselho sobre o tema. Agora, mais uma promessa do presidente: o “acordo será assinado em um mês”, mas ainda sem a apresentação de documentos e os números da dívida real do clube sobre a construção da arena. Em teoria, mais um possível acordo. Na prática, parte do estádio continua interditado – e não sabemos quem pagará as novas reformas. Enquanto negocia o acordo, o clube registrou um aumento de R$ 150 milhões no seu endividamento, rasgando o orçamento aprovado pelo Cori e pelo Conselho Deliberativo no final do ano passado. Além disso, não tem publicado os balanços mensais no site, como prevê o estatuto do clube”.
Romeu Tuma Júnior – “O Andrés falou que fez um acordo, que estão redigindo e que só faltará assinar. Reduziu, legal, mas já pagou aquele monte de CID’s lá. Se tudo for conforme foi dito, deixará de ser um péssimo negócio para ser um mau negócio, ou seja, a Arena deixa de ser impagável para ser algo muito caro. Se o acordo realmente for feito, será bom, só que a Odebrecht não está em recuperação judicial? A justiça vai homologar esse novo acordo? Há como reduzir mais, tanto da Odebrecht, como também com a Caixa, pois há falhas tanto da construtora, como do Banco. Mas vamos ver, inclusive, fui convidado a participar dos próximos passos, em redigir o contrato e acompanhar a assinatura do contrato”.
Augusto Mello – “Esperamos que feche o negócio, apesar de que, eu não concordo. Se já pagamos R$ 160 milhões e vamos ficar com um saldo de mais R$ 160 milhões, mais os CID’s de mais ou menos R$ 450 milhões, já são R$ 770 milhões só aí, vamos pagar mais R$ 470 milhões pro BNDES, são R$ 1 bilhão e 200 milhões, com mais R$ 200 milhões de obras inacabadas que está entrando nesse acordo com eles, dá quase R$ 1 bilhão e 500 milhões nesse estádio. Então a coisa ainda não está batendo, não está fechando. Pra Odebrecht, não devíamos ter que pagar mais nada, pra mim tinha que ficar “elas por elas”, nem os CID’s daria, na minha opinião. Tem muita coisa obscura ainda que precisa aparecer”.
Chegamos à conclusão que ainda é cedo para comemorar o suposto acordo anunciado pelo presidente Andres Sanchez envolvendo Corinthians /Odebrecht. Afinal, como foi exposto, para o acordo ser validado, tudo indica que é preciso passar pelo judiciário, devido a construtora estar em recuperação judicial. Por outro lado, é importante reconhecer o esforço da atual gestão em querer resolver a situação do pagamento da Arena Corinthians. Porém, é importante dizer, que não é plausível tomar uma decisão radical para forçar um eventual acordo, a marca Corinthians não pode ser punida por decisões equivocadas de seus dirigentes.
Torcemos muito para que o acordo seja aprovado, afinal, o clube ganharia um “fôlego” em relação às contas da Arena, com uma nova engenharia financeira mais fácil de ser executada. O acordo seria muito benéfico, mas precisa ser, de fato, concretizado, sendo que as circunstâncias atuais parecem ser propícias.
Observação: Tentamos ouvir conselheiros ligados à situação, mas nenhum quis se pronunciar. Reiteramos que nosso veículo está à disposição para todos os conselheiros e diretoria do clube, caso desejem se manifestar.
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