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Corinthians solta nota sobre racismo, terceira testemunha faz relato e capitão da PM detalha operação

  • Por Ciro Hey, Larissa Beppler e Levi Natan / Redação da Central do Timão

Foto: Reprodução/Twitter

Nesta quinta-feira (28), o Corinthians se pronunciou após Felipe Nascimento Palma Cruz, torcedor do clube que denunciou o ato racista do argentino Leonardo Ponzo no jogo contra o Boca Juniors, criticar a postura do Timão no caso.

Mais cedo, Felipe concedeu entrevista ao GE e contou o que aconteceu na Neo Química Arena, na última terça-feira (26), quando as equipes jogaram pela Libertadores, e também no DOPE (Departamento de Operações Policiais Estratégicas).

O corinthiano se diz revoltado com a liberação de Leonardo Ponzo, que teve fiança paga por funcionários do Consulado da Argentina. Segundo Felipe, o torcedor do Boca Juniors só não foi liberado antes porque os representantes do escritório do governo argentino não tinham a quantia necessária no momento.

Se eu falar que ele iria ser liberado na minha frente, você não acredita. Assim que a gente chegou no DOPE, o pessoal do consulado argentino chegou também, e eles fizeram um baita alvoroço. O homem só não foi liberado na hora porque os caras não tinham R$ 3 mil à vista. Deram uma parte em dinheiro e foram sacar o resto. Eu fiquei revoltado, estava do lado do cara. Ele não ficou numa cela. O que mais me deixou irritado foi que, quando eu fui depor, ele não estava como um réu. A situação dele estava resolvida, e a minha, não“, afirmou Felipe.

Depois, o torcedor alvinegro criticou a postura do clube com ele e seu amigo que o acompanhou no ocorrido para denunciar o ato racista: “O Corinthians não me deu nenhum suporte […] Não fui tratado como um bicho pela Polícia, fui tratado como um bicho pelo Corinthians. O clube pegou meu nome, o advogado deles estava lá, sim, mas não foi falar comigo em nenhum momento”.

Na noite desta quinta-feira (28), a Central do Timão conversou com o terceiro torcedor que testemunhou e prestou depoimento sobre o crime. Marcelo Catalani de Paula, que se apresentou depois de Felipe e seu amigo para servir como testemunha no caso, fez declarações diferentes do primeiro torcedor.

Como você percebeu o que estava acontecendo em relação ao torcedor argentino que fazia gestos racistas na Neo Química Arena? Onde você estava? O que você fez?

Eu estava na Leste inferior e fui ali fazer umas provocações com o resto do pessoal, provocação normal de futebol, de jogo, na civilidade. Eu que comecei a gritar pro pessoal que tinha um torcedor fazendo gesto racista. Perguntei muito se alguém tinha filmado, um cara veio lá de cima e me disse que tinha filmado e me mandou o vídeo por Whatsapp. Falei com um policial do Choque, mostrei o vídeo pra ele, e ele falou para eu aguardar ali. Ele falou que ia pedir as imagens da Neo Química Arena e se elas conferissem eles iam prender ele. Quando vi a polícia levando ele, foi como um gol. Eu batia no peito e falava “Fui eu, seu racista!”. E o pessoal começou a aplaudir. Os outros torcedores se sentiram mais à vontade para se movimentar também.

Em que momento você resolveu procurar a polícia para ser testemunha?

O policial do Choque me orientou o seguinte: ou você vai no primeiro tempo, sabendo que vai perder o segundo, ou vai mais perto do final. Daí quando o Corinthians fez o segundo gol, eu resolvi ir. Subi até a catraca do setor H e um policial pediu para o Choque me acompanhar até a ambulância. O pessoal de laranja me orientou também.

Como foi recebida a sua atitude? Quem estava lá?

Todos me parabenizaram pela atitude, falaram que a gente tem que fazer a diferença. Falei com todo o pessoal que estava lá. Veio um representante do Corinthians, que estava falando com o Felipe, e ele falou comigo. Pediram meus documentos e comecei a acompanhar todos os procedimentos. Ele falou com a gente, perguntou se precisávamos de alguma coisa, falou algo com a polícia e disse que estaria acompanhando tudo, e que qualquer coisa podia contar com ele. Nós ficamos lá com os policiais, sempre bem tratados. Eu fui com meu carro e os outros dois foram com a Polícia.

Quanto tempo você ficou à disposição da Polícia Militar para testemunhar?

Dos 35 do segundo tempo até as 3h30, quando saí da delegacia, cheguei em casa às 4h30.

Como foi a participação do Corinthians nesse caso? Alguém do clube lhe procurou?

“Primeiro foi o advogado lá, como falei antes. Depois a policia falou que o Corinthians iria me procurar para convidar a gente pra ir numa outra partida porque perdemos parte do jogo e falou que podiam me levar pra casa, mas aí disse que eu fui de carro. Hoje recebi uma ligação de um funcionário da Arena me parabenizando e me convidando para ir a um jogo, porque perdi parte do jogo porque cumpri meu dever.

Você chegou a ver como as outras testemunhas foram tratadas?

Fomos todos bem tratados o tempo todo. Na hora de testemunhar, não sei como foi, porque cada um foi sozinho. Foi o Felipe primeiro, depois o outro, e eu fui por último. O argentino estava lá também. Eu entendo a revolta do Felipe pela maneira como o torcedor argentino saiu. Ele ficou bem revoltado. Eu, como cidadão, também fico revoltado. Ele (Leonardo Ponzo) ainda continuou com o racismo. A liberdade dele custou R$ 3.000. Infelizmente, isso entra em uma parte de lei. Como o delegado falou para nós, a culpa não é da Polícia. Mas tudo que o Felipe disse nessas entrevistas eu discordo. Fiquei bem surpreso quando li. Achei que ele só queria aparecer. Fomos bem tratados o tempo todo. O procedimento, como a gente sabe, é demorado. Sinceramente fiquei orgulhoso do que fiz e de como o Corinthians nos tratou. Até o pessoal de laranja que fica na arena, me tratou super bem ao me mostrar como chegar no local que a policia estava. Exatamente o oposto do que li nas entrevistas.”

Como você vê esses episódios de racismo que têm se repetido muito no futebol?

Fiquei feliz pelo esforço que eu fiz, por o torcedor lá de cima ter mandado o vídeo para mim. A lição que fica é que se tiver de novo, faço de novo. Faço quantas vezes for preciso. Comentei com o pessoal na delegacia e até com o pessoal do consulado que esperava que ele tivesse aprendido, que ele pague pelo ato dele. O rapaz que estava representando o Corinthians também nos parabenizou muito, porque só assim podemos combater isso. Mesmo sabendo que eu voltaria tarde pra casa, fui até o fim. Não tive medo em nenhum momento. Não fiz isso porque era um torcedor estrangeiro, eu faria isso em qualquer situação. E quando o Corinthians ligou fiquei mais feliz ainda. O policial falou que ligariam, mas não achava que iam ligar mesmo.

A Central do Timão também ouviu o capitão Matheus, do 2° Batalhão de Polícia de Choque da PMESP, responsável pela operação no dia do jogo. O policial detalhou o ocorrido e falou sobre a postura do Corinthians mediante o fato.

Como a polícia tomou conhecimento do episódio?

“A Polícia Militar foi procurada pelos torcedores e o assunto foi encaminhado à Central de Comando e Controle Operacional da Arena onde permanece um dos responsáveis pelo policiamento no local juntamente com a equipe de Coordenação da arena . Os torcedores nos enviaram as imagens que haviam feito as quais foram repassadas a Central de Monitoramento. O policiamento em parceria com a equipe do Corinthians localizou o torcedor do Boca que havia realizado o gesto racista e passou a monitorar esse torcedor pelo sistema de câmeras da arena.”

Qual foi o papel do Corinthians desde que esse fato foi revelado?

O Corinthians acompanhou o assunto de perto, em uma ação em conjunto com a Polícia Militar. Foram tomadas as devidas providências, com o apoio fundamental do monitoramento e informações da equipe da Arena, que contribuiu com o Policiamento para que pudéssemos deter o indivíduo. Já no Jecrim, o Corinthians enviou um advogado para acompanhar o episódio. Dissemos que ficassem tranquilos porque nós mesmos nos encarregaríamos de acompanha-los para a Delegacia e posteriormente as suas residências.”

Após o boletim de ocorrência o que se passou?

O torcedor argentino foi indiciado, pagou fiança e foi liberado conforme a legislação brasileira. No próprio dia do fato, ainda na Neo Química Arena após o jogo, em conversa com o Corinthians, foi decidido que o clube iria tomar providências para que os torcedores do Corinthians que haviam prestado queixa, pudessem ser recompensados pelo fato de terem deixado de assistir parte da partida para depor contra o torcedor do Boca Jr., através de uma bonificação em ingressos de outro jogo, que seria oferecida como surpresa pelo Corinthians aos torcedores, posteriormente.

Além disso, o Corinthians também se pronunciou após a situação. Mais cedo, o clube divulgou uma nota afirmando que acompanhou e monitorou todo o ocorrido, além de destacar que o sistema de monitoramento do estádio permitiu a identificação do torcedor argentino.

Confira o pronunciamento oficial do Corinthians sobre o ocorrido:

“A respeito da operação realizada na última 3ª feira (26) em caso de injúria racial cometida por torcedor do Boca Juniors na Neo Química Arena, o Sport Club Corinthians Paulista esclarece que:

1) O Corinthians acompanhou e monitorou em tempo real toda a situação junto ao comandante do policiamento do jogo. O clube tinha conhecimento de tudo que estava sendo feito junto aos torcedores do Corinthians que, por iniciativa própria, decidiram ajudar e prestar queixa.


2) O Corinthians enviou um advogado ao Jecrim (Juizado Especial Criminal) da Neo Química Arena no momento da ocorrência. Naquele momento, segundo informações da PM, os torcedores acompanhavam a partida na beira do campo enquanto os trâmites necessários eram encaminhados.


3) O advogado do Corinthians verificou que os procedimentos eram conduzidos pela Polícia Militar e que as testemunhas não necessitavam de apoio jurídico – uma vez que eram testemunhas, e não partes acusadas.

4) O prosseguimento do processo foi conduzido pela Polícia Militar. O Corinthians continuou acompanhando os movimentos, em um trabalho conjunto com a PM. Vale ressaltar que o sistema de monitoramento da Neo Química Arena permitiu a identificação do torcedor argentino.


5) Posteriormente, um terceiro torcedor do Corinthians se apresentou e se voluntariou para também ser testemunha. Todos foram, então, ao Departamento de Operações Policiais Estratégicas – este terceiro torcedor, em veículo próprio.


6) Os torcedores receberam todo o amparo ao longo da operação, que o Corinthians acompanhou até o fim, já na madrugada de quarta-feira (27), em contato constante com a PM. Os dois torcedores que primeiro fizeram a denúncia foram levados às suas residências pela Polícia Militar.


7) O Corinthians lamenta que as reportagens já veiculadas sobre o assunto não tenham procurado o clube sobre tudo que foi e será feito com respeito aos três torcedores.

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