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Ser corinthiano é ser também um pouco mais humano

Torcedores PcDs falam sobre a experiência de assistir a um jogo na Arena Corinthians e a luta pela acessibilidade

No dia 17 de novembro, os Departamentos Sociais dos Gaviões da Fiel e Estopim se uniram para realizar uma ação de grande empatia e solidariedade, durante a partida entre Corinthians e Internacional, na Arena, em Itaquera pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro.

As organizadas viabilizaram dois ônibus, que saíram da Estopim em direção à sede dos Gaviões, com o objetivo de possibilitar a ida de 50 corinthianos cadeirantes ao estádio. Crianças, adultos e idosos puderam assistir à partida em pleno solo sagrado, na parte superior do setor norte da Arena.

A ação aconteceu com a ajuda do clube e dos patrocinadores Medical Brazil, Babam Assessoria e Casa Rosada Materiais de Construção. Além disso, Wellington Junior, 43 anos, o “Tonhão”, trabalhou na confecção das camisetas.

Foi um dia emocionante para todos os envolvidos na ação, desde os membros das torcidas às pessoas que receberam a tão sonhada oportunidade de ver o Timão jogar em sua casa. Sheila Pereira, 46 anos, conta que nunca foi ao estádio e que foi uma alegria imensa. “Se eu morresse hoje, morreria feliz”, afirma. A torcedora se emocionou ao dar seu depoimento, e disse que realizou um sonho que, se não fosse pela ação, jamais teria oportunidade de realizar.

“O Corinthians é a minha vida, o Corinthians é o meu amor. Eu até me emociono de falar de tão feliz que fiquei. Eu achei que nunca ia conhecer um estádio e vocês (Gaviões e Estopim) proporcionaram isso pra gente”, disse Sheila, com a voz embargada.

Para Julio, um dos integrantes da primeira geração dos Gaviões, a ação foi uma oportunidade às pessoas com deficiência.

“É difícil. As calçadas são difíceis de andar, transporte coletivo é um problema, muitos elevadores estão quebrados, temos inúmeras dificuldades de locomoção”, desabafa.

ulião, à esquerda, fez parte da primeira geração dos Gaviões e defende a bandeira de acessibilidade na Arena Corinthians

Ele apontou ainda alguns problemas de acessibilidade na Arena Corinthians, ressaltando o quanto é importante que o clube se sensibilize e possibilite ainda mais a inclusão de pessoas com deficiência.

“Se você vem de trem ou metrô, tem que ter alguém para empurrar na subida, e é difícil até para quem ajuda”, relata.

Há cinco anos, Julião luta para que o espaço para os cadeirantes na Arena Corinthians seja maior, especificamente no setor norte, onde ficam as organizadas. Isto porque, segundo ele, no local reservado aos deficientes físicos na parte superior do setor norte, há espaço demarcado para apenas cinco cadeiras, e a outra metade é dividida com a Polícia Militar.

Julião reforça que o espaço deveria ser reservado somente às PcD, sobretudo por conta das grades de proteção, que proporcionariam um ambiente mais seguro, evitando que ocorra algum acidente no momento do gol, por exemplo. O torcedor já chegou, inclusive, a fazer esta reivindicação na ouvidoria do clube, mas ainda espera por respostas.

“O clube deveria se preocupar mais, colocar mais rampas de acessibilidade em todos os lados”, concluiu.

Apesar das adversidades no espaço físico, a ação realizada pelos Gaviões e Estopim revela um lado das torcidas organizadas que muitas vezes não é visto pela sociedade e até mesmo por parte da torcida em geral: o lado humano, que se preocupa com a inclusão e não mede esforços para que todos possam desfrutar da alegria de ver um jogo do timão.

Para Cleber Sobrinho, 41 anos, integrante do Departamento Social dos Gaviões, “ver a alegria no rosto das pessoas e a satisfação de muitos que estavam pela primeira vez na Arena Corinthians não tem preço”.

Eternamente dentro dos nossos corações

Nesta semana, a Fiel deu adeus ao corinthiano Ronald dos Santos Trindade, o “Ronald Capita”, que se dedicou durante sua vida a lutar pela inclusão e acessibilidade, não só da Arena Corinthians, mas de todos os estádios brasileiros.

Ronald Capita foi um grande motivador para o título da Copinha

Ronald era portador da Síndrome de Marfan, uma deficiência que afeta o sistema esquelético, os olhos e a pele. Ele também sofria de escoliose na coluna, uma curvatura na coluna que o obrigou a realizar inúmeros procedimentos cirúrgicos. Partiu cedo, mas deixou uma marca e um legado para todas as pessoas.

Ele acreditava que as PcDs não devem ser vistas como “coitadas”, mas como seres humanos brilhantes e capazes de fazer muito para tornar o mundo um lugar melhor para se viver. Talentoso e fanático por futebol, Ronald tinha sonho de se tornar um jornalista profissional – porque de alma, ele sempre foi. Alma empática, que o levou a desenvolver projetos para que jovens sonhadores assim como ele pudessem conquistar uma oportunidade na área do jornalismo.

Hoje, sem ele, há uma missão que precisa ser levada à frente: a de promover acessibilidade e inclusão social dos dEficientes. Os espaços não têm de ser adaptados a essas pessoas, e sim pensados, para que elas possam se sentir parte daquilo que realmente são. Os indivíduos, por sua vez, precisam aprender a conviver e respeitar as diferenças, com empatia e sensibilidade.

Por Amanda Koiv