Jurista, filósofo, professor universitário, escritor e presidente da ‘Fundação Luiz Gama’, Sílvio Almeida falou sobre o racismo no futebol
Em participação no programa Troca de Passes, do SporTV, nesta terça (23), o professor universitário, filósofo e jurista Sílvio Almeida, que também é o atual presidente da ‘Fundação Luiz Gama’, citou a trajetória de seu pai, o ex-goleiro Barbosinha, que defendeu o Corinthians na década de 1960.
Para o professor, o futebol, por toda força que tem, pode ser uma arma antirracista, ao mesmo tempo em que é atravessado por uma estrutura racista. O jurista destacou que só estudou porque seu pai teve condições, através do futebol, de construir essa possibilidade.
“O futebol é uma coisa contraditória e complexa. No futebol, você tem forças e energias fundamentais para a luta antirracista. Se não fosse o futebol, eu não estaria aqui. Eu sou um professor de Direito, mas o futebol permitiu que meu pai construísse algo para me dar possibilidades de estudar. Ao mesmo tempo, o futebol é atravessado pelo que tem de pior na sociedade, como o racismo. Por que meu pai teve o apelido de ‘Barbosinha’ – por causa do goleiro da seleção, o Barbosa*. E eu notei que o apelido do meu pai era por conta de eles serem negros. E meu pai não herdou apenas o apelido, mas o estigma sobre os goleiros negros”, comentou Almeida.
Barbosinha, ex- goleiro do Corinthians entre 1967 e 1968, era Lourival de Almeida Filho, e morreu em 20 de outubro de 2015, aos 74 anos, vítima de câncer. Ganhou o apelido de Barbosinha por ser seguro e elástico, um estilo muito parecido com o de Barbosa, o goleiro da Seleção que foi execrado do futebol pela derrota do Brasil para o Uruguai, na Copa do Mundo de 1950. Como o ex-goleiro do Corinthians, Barbosa também era negro.
O estigma a que o professor se refere é o que Barbosa carregou consigo até a morte e foi estendido a todos os goleiros negros do país. O goleiro foi acusado de ter falhado no jogo contra o Uruguai e com isso o Brasil ter perdido a taça do Mundo de 1950. A mídia da época passou a repetir que “goleiro negro dava azar”.
Barbosinha sempre havia dito que tinha medo de errar, pois por ser negro seria cobrado de forma veemente como Barbosa foi. A história provou que ele não estava errado. Era um grande goleiro, mas foi acusado por alguns de frangueiro e de vendido por outros, ao levar dois gols de falta em um jogo contra o Palmeiras. Foi vendido sumariamente.
Com a camisa do Timão, Barbosinha atuou em 34 jogos e sofreu 33 gols.
Silvio de Almeida, filho de Barbosinha, é filósofo, advogado, mestre em Direito Político e Econômico, doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito, e pós-doutor pela Universidade de São Paulo. Além de professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na Fundação Getúlio Vargas e na Universidade São Judas Tadeu, é presidente do Instituto Luiz Gama, uma associação civil sem fins lucrativos, formada por um grupo de juristas, acadêmicos e militantes dos movimentos sociais, que atua na defesa de causas populares, com ênfase nas questões sobre os negros, as minorias e os direitos humanos.
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Por Nágela Gaia / Redação da Central do Timão
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