A melhora do Corinthians pós parada da Copa América é nítida, e isso se deve a vários fatores, os quais iremos tentar abordar nesse texto. Confiram.
Pressão na saída de bola adversária/Linha alta
Um ponto crucial nessa mudança de postura do Corinthians na parada, se deve à mudança de filosofia na hora de fazer a marcação. Um dos marcos de Fábio Carille sempre foi uma equipe organizada, que trabalhava bem com os blocos médios e baixos de marcação. Porém, com desempenhos ruins, atuações fracas e uma dificuldade crônica de ter um jogo propositivo, o técnico corinthiano veio com uma mudança nesse segundo semestre, uma equipe que marca alto, realiza a famosa “pressing”, termo utilizado para descrever a marcação-pressão na saída de bola adversária.
Na imagem acima, vemos um Corinthians com seis jogadores dentro do campo de defesa do Flamengo, apertando a saída de bola, fechando as linhas de passe da equipe adversária e na sequência recuperando a bola ainda no campo de ataque. A equipe entendeu que era, sim, capaz de fazer uma marcação alta e intensa sem perder a organização, ponto que é muito importante para Carille. O Corinthians entendeu também que retomar a posse de bola ainda no campo de ataque é mais vantajoso do que ter que começar a construção de jogo a partir do campo de defesa.
Gabriel foi outro ponto chave para começarmos a entender como a pressing realizada pelo Corinthians tem sido eficiente. Por ter como característica a antecipação, devido à sua mobilidade e velocidade, o volante ajuda muito a marcação alta da equipe, sempre buscando apertar os homens de meio adversários na hora que vão receber o passe.
Nesta imagem podemos ver bem isso. Gabriel antecipa o meia do Goiás e recupera a bola próximo à entrada da área da equipe adversária, fazendo o Corinthians pegar uma defesa mais desorganizada e tendo superioridade numérica em vários setores.
Saída de bola mais qualificada
Outra melhora que tivemos desde a parada até agora, foi, sem dúvidas, a saída de bola. Tivemos um primeiro semestre burocrático, muitos chutões, uma transição lenta, falta de aproximação e um Fagner sobrecarregado no quesito.
Com a chegada de Gil, claramente tivemos um upgrade técnico em relação à dupla de zaga titular anterior, que era Henrique e Manoel (esse que iremos falar mais para frente). Além de uma liderança gigantesca, o zagueiro trouxe à equipe uma qualidade maior para a nossa saída de bola, que parou de focar nos lançamentos longos para tentar sair pelo chão, triangulando a atraindo o adversário para subir as linhas.
Porém, nem tudo é graças ao Gil. Gabriel também faz parte diretamente dessa mudança. Com mais mobilidade, mais iniciativa e mais qualidade técnica, ajuda no desafogo aos zagueiros e na hora de fazer a bola chegar nos homens de meio e ataque da equipe.
Os gráficos acima mostram como Gabriel é muito mais vertical que Ralf, conseguindo ajudar com muito mais qualidade a transição ofensiva do Corinthians a partir do campo de defesa. Enquanto o camisa 15 aparece menos para o jogo e busca bem mais o passe de segurança muitas vezes voltando o jogo nos zagueiros e deixando a saída mais burocrática.
Manoel foi outro que teve uma melhora importante no quesito. Com mais confiança e tendo ao seu lado um zagueiro mais qualificado, passou a ser mais ousado, cresceu tecnicamente e começou a encaixar mais passes nas entrelinhas, ligando bem mais o ataque e fazendo a ligação diretamente com os homens de frente.
A imagem acima retrata o início da jogada do primeiro gol contra o Montevideo Wanderers, nela podemos perceber como o passe do Manoel abre um caminho nas entrelinhas do adversário, onde o Corinthians constrói a jogada do gol.
Jogo propositivo e mais gente na área
A maior crítica em relação ao Corinthians sempre foi a dificuldade propor jogo, a pouca inspiração da equipe quando tinha a bola, um fator que melhorou bastante desde a parada.
Muito dessa melhora se deve a Pedrinho, que começou a deixar de lado o rótulo de “talismã” e começou a entender que é protagonista dentro da equipe. Juntamente com Fagner, forma o lado mais forte da equipe que ainda conta diretamente com a participação de Junior Urso que apresenta bastante para a triangulação pelo setor.
O fato do garoto ter começado a virar protagonista, também passa diretamente pelo entendimento maior dele sobre a função que exerce. Pedrinho nunca foi um ponta de drible ou propriamente um driblador, sempre foi um armador com capacidade e recursos muito grandes individualmente. Quando começou a entender isso, seu jogo cresceu. Hoje, temos um jogador mais coletivo, sem perder a individualidade, mas acrescentando um poder de criação melhor e entendendo que é de fato o cara que vai construir o jogo no ataque e acionar os pontas e os atacantes.
Um dos pontos fortes do nosso protagonista são os cortes para o meio, sempre buscando clarear a jogada. No lance acima, ele aciona Boselli no lançamento que resulta no gol de empate contra o Fortaleza.
Outra mudança importante foi a presença maior de jogadores na área para finalizar. Antes tínhamos uma equipe isolada, muitas vezes deixando o ataque brigar sozinho contra uma defesa fechada e que quase sempre não resultava em nada. Uma das diferenças nesse segundo semestre é um time que conta mais jogadores dentro da área adversária.
Hoje, o Corinthians busca sempre atacar a área do rival com pelo menos três jogadores. Além do atacante, Junior Urso tem um papel importante para ser o elemento surpresa, e a presença de um dos pontas também. Na imagem, Clayson é quem está junto a Love e Sornoza.
Já nessa imagem, Pedrinho é quem está lá com Love e Junior Urso.
As mudanças aconteceram. O Corinthians que tinha como média de finalizações certas uma baixíssima porcentagem de apenas 3,8%, viu seu número aumentar em mais de 50% depois da parada, subindo para quase 6%. Além de ter reduzido o número de finalizações certas sofridas para 16% (números do Footstats). Ou seja, entendemos que é possível sim ser mais ofensivo sem perder a qualidade defensiva e muito menos a organização, só precisávamos sair dessa caixinha que muitas vezes nos prende.
As melhoras são claras, porém, para que a evolução continue, algumas coisas ainda precisam ser revistas. A sequência ruim do Sornoza, a titularidade absoluta de Vágner Love são as principais delas. A pausa fez bem ao Corinthians, voltamos com evoluções, melhoras e o principal, recuperamos a confiança de alguns jogadores. Crescemos em muitas coisas e sem perder a organização e muito menos os fatores defensivos. Carille prometeu um time melhor depois da parada e vem entregando isso. Sem alarde, sem muito barulho, vamos criando nosso espaço novamente dentro do Campeonato Brasileiro.
Por Corinthians Scouts para a Redação da Central do Timão
Twitter @sccpscouts
2019 @ Central do Timão - Todos os direitos reservados