Despesas altas e arrecadações baixas; como o Corinthians transforma o próprio patrimônio em prejuízo?
Em 2019, conforme demonstrações divulgadas no portal da transparência, o Corinthians fechou o ano com um déficit contábil de R$ 177 milhões. O montante não se refere apenas aos gastos no futebol, mas também engloba as despesas do clube social situado no Parque São Jorge.
Isso porque, na apresentação de resultados, o clube separa as descrições do segmento ‘futebol’ e do segmento clube social e esportes amadores. Este último diz respeito apenas à estrutura localizada no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, e que conta com quadras, piscinas e salões para os associados.
De acordo com o estatuto do Corinthians, para utilizar as dependências do complexo do Parque São Jorge, o associado precisa ser aprovado pelo clube, cumprir as exigências mínimas e pagar as mensalidades. Aí já começa um problema nas finanças. De acordo com reportagem do GloboEsporte.com, dos 16 mil sócios, apenas 3,7 mil pagaram a mensalidade do último mês de maio.
O GE ainda mostra que brechas no estatuto vigente do clube permitem que certos associados tenham acesso à estrutura sem pagamentos mensais. O levantamento aponta mais de oito mil sócios remidos, que não arcam com as mensalidades, expandindo os benefícios para seus dependentes.
112 conselheiros vitalícios também estão isentos das mensalidades, e ainda possuem poder de voto em decisões do clube, como escolha do presidente e início de processos de impeachment. Mais de dois mil sócios estão na categoria ‘familiares’, pagando um título de R$ 200 por mês e com direito a incluírem filhos e cônjuges.
Ainda segundo o GE, há 447 sócios individuais, que pagam R$ 180 por mês. Somado-se a isso, contam mais de 5 mil dependentes, que não pagam as mensalidades. Os números podem estar desatualizados devido a não contabilidade de falecimentos.
Independentemente do valor pago ou da ausência dele -, todo e qualquer associado gera custos ao clube. O uso de piscinas, quadras, academias e espaços de convivência necessita de manutenção e gastos com reparo. De acordo com o balanço financeiro do Corinthians, em 2019 foram gastos mais de R$ 66 milhões com a estrutura do clube social do Parque São Jorge.
Este valor engloba gastos com pessoal, contratação de serviços de terceiros, custos operativos e administrativos, depreciação, rateio de despesas e investimentos em esportes amadores.
Logo, esses R$ 66 milhões gastos com a estrutural social representam cerca de 17% dos R$ 388 milhões arrecadados com o futebol no ano de 2019. Porém, para o diretor financeiro do Corinthians, Matías Romano Ávila, o impacto é baixo.
“É muito pouco para o tamanho do orçamento do Corinthians. Se você for fazer isso (reduzir custos do clube social), eu vou chegar lá e falar assim: corta a folha aqui. Eu vou deixar de ter academia e uma série de serviços, restaurantes, bares e tudo que a gente consegue fazer lá dentro, vou reduzir limpeza, segurança e tal. Vou deixar o associado descontente”, disse em entrevista ao Ge, ainda em março. Matías completou:
“Vale a pena? Quem elege o presidente, os vices e os conselheiros? É o associado. O clube é feito para 8 mil sócios que votam e 40 milhões de torcedores, infelizmente é assim. Temos que cuidar do patrimônio do clube”, disse o dirigente.
Intitulado como “a maior sede social do Brasil”, o próprio site do Corinthians evidencia a estrutura dos mais de 162 mil metros quadrados, onde se encontram Memorial, Anfiteatro, Espaço Panorâmico, piscina, playground, sauna, cabeleireira, podóloga, manicure, churrasqueiras, quiosques, deparamento médico e a Capela de São jorge.
Além disso, há dois ginásios poliesportivos, com capacidade para 9 mil e 1.500 pessoas; quadra de tênis, bocha e peteca. O site do clube ainda completa:
“A nossa academia, uma das mais amplas e bem montadas da região, está equipada para atender musculação, ginástica, yoga, boxe, capoeira, dança de salão e muito mais. O clube possui várias quadras poliesportivas ideais para as práticas de basquete, vôlei, futsal, tamboréu. Conta também com uma quadra society e dois campos com gramado sintético para o futebol”, diz o setor ‘Seja Sócio’ do site oficial do Corinthians.
Enquanto gastou R$ 66 milhões no segmento ‘clube social e esportes amadores’ em 2019, o Corinthians arrecadou cerca de R$ 35 milhões, sendo R$ 8,8 milhões deles com as contribuições dos sócios. Portanto, ao subtrair 35 de 66, pode parecer que o Corinthians teve um prejuízo de R$ 31 milhões, mas não é tão simples assim. A conta final ainda engloba impostos e pagamentos de dívidas antigas.
Assim, ao colocar na balança outros gastos contábeis como arrecadações fiscais e pagamentos de juros, o problema do setor ‘clube social e esportes amadores’ amadores fica ainda mais complexo. A área foi responsável por um déficit de R$ 61,4 milhões na conta do Corinthians. Como diz o balanço do Corinthians, cerca de R$ 30 milhões são apenas de juros. Para efeito de comparação, o setor ‘futebol’ gerou R$ 115,6 milhões de déficit.
Este valor tem crescido vertiginosamente desde 2011, quando o club registrou o déficit de R$ 10 milhões relacionados ao clube social. Em menos de dez anos, o ‘prejuízo’ multiplicou-se por seis nos cofres do Corinthians.
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Por: Gabriel Gonçalves / Redação Central do Timão
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