Novembro de 2019. O Corinthians, maior campeão deste século, vinha de dois Brasileiros e três Paulistas em cinco anos. Mas, nos mais caros lugares da Neo Química Arena – e não só lá – um discurso ecoava com cada vez mais força: “O time joga feio, precisa propor”. Ou, pasmem: “Ganha taça, mas de que adianta se joga feio assim?”
A dinastia defensiva criada por Tite e Fábio Carille, quase uma década antes, que tanto rendeu frutos ao clube, era completamente ignorada e a pedida era por um futebol com mais… “plasticidade”. Estilo que chamo carinhosamente de “futebol poeminha”.
Ignorava-se aí uma cultura de longos anos que, mesmo com jogadores técnicos, sempre contou com muita força defensiva – tática e tecnicamente.
Zé Maria; Biro-Biro; Wladimir; Ezequiel; Wilson Mano; Leandro; Herrera; Ralf; Jorge Henrique; Romero e Fágner são apenas alguns nomes marcantes que, mesmo não sendo os principais protagonistas, com o perdão da redundância, ficaram marcados pela disposição dentro de campo. Todos eles em esquemas com forte poder defensivo.
Todos.
Talvez só a era “Rincón, Vampeta; Marcelinho e Ricardinho” não tenha a marcação como ponto forte. Arrisco dizer que se tivesse teríamos vencido a Libertadores 13 anos antes…
Carille caiu. Tiago Nunes chegou. Não vou aqui entrar no mérito do conceito de jogo de Nunes, posso apenas relembrar o dia no qual Cássio e Gil tabelaram dentro da área e o goleiro corintiano quase fez um gol contra no interior, durante tentativa constrangedora de sair jogando.
Estilo poema que não cabe aqui. Nunca coube. Imaginam o Barcelona jogando com linha de cinco? A Itália jogando o Carrossel Holandês? A tradição precisa ao menos ser levada em conta.
Nunes, óbvio, caiu em nove meses…
O que se viu depois disso foi um clube órfão de identidade. Com Luxemburgo, o fundo do poço identitário. O Corinthians não marca e não ataca. O time não propõe e nem tem padrão tático. Zagueiros são expostos (Gil que o diga…) e laterais vivem no mano. Pontas não dobram a marcação, não recompõem. Volantes têm o mais belo plano do Fiel Torcedor – olham. Mas como ousar questionar o inegável especialista em jovens da base?! Fato. Provavelmente Luxa seja o maior “olheiro” do Brasil. Talento comprovado para enxergar novos talentos.
E só. Ao menos nos últimos 15, 20 anos…
Contra o Estudiantes, o cenário do caos. Não me recordo de algo tão vergonhoso em um jogo grande. Nem Tolima e afins… A escalação parecia um stand up. De Renato a Wesley.
Dentro de campo, pânico instaurado. Pane mental e técnica. Tática inexistente. Zagueiros saiam da linha o tempo todo, seja por fragilidade do meio que não existe ou por conta das avenidas pelo lado.
Seis bolas na trave – duas nos pênaltis. E Cássio, o maior goleiro que esse país já viu, pagando o bicho e a feira de geral. Como sempre.
O time passou e ateu pediu desculpas. Mas Luxemburgo não. Questionado sobre a postura e atuação vergonhosa da equipe, o treinador não teve dúvidas e terminou de esbofetear a nossa cara: “Deu certo, passamos. Temos um goleiro que pega pênalti e isso é estratégia! Vocês da imprensa…”
Quem não tinha quebrado a TV ainda, quebrou ali.
No Brasil, a análise do jogo quase sempre é rasa. No maior time do país não é diferente. Mas dessa vez deveria ser… Vitórias escondem erros. Na classificação desta terça, esconderá absurdos. Absurdos de uma das posturas mais vergonhosas da história do time de 113 anos. Time com jogadores infinitamente superiores ao futebol praticado. Time que poderia facilmente ter tomado cinco, seis… Assim como no primeiro tempo da Copa do Brasil.
O que será que significa ter um elenco repleto de boleiro bom jogando tão pouco? Quando perdermos algo grande – de novo – vão se preocupar em nos responder. Hoje “é festa”…
Até lá, continuemos rezando para o maior olheiro do Brasil. Haja reza, haja trave… Haja Cássio.
Paciência não sei quem ainda tem, mas admiro.
Comentarista, repórter e redator, Rafael Prado tem mais de 15 anos de experiência nas maiores redações do país. Atualmente no Amazon Prime Video, o jornalista tem passagens pela Band; Espn Brasil; Record; SBT;RedeTV!; Terra; UOL e Deutsche Welle. Rafa Prado cobriu quatro Copas do Mundo, três Jogos Olímpicos e acompanha o maior time do Brasil, diariamente, desde que nasceu.
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