Como publicado pela Central do Timão nesta segunda-feira (29), um estudo coordenado pela USP (Universidade de São Paulo) apontou que o índice de infecções pelo coronavírus Covid-19 em atletas de torneios da Federação Paulista de Futebol, FPF, em 2020 foi a maior de todas as ligas do mundo e seu número semelhante ao de profissionais de saúde que atuam na linha de combate à pandemia.
Foram analisados cerca de 30 mil testes PCR feitos em 4.269 atletas e 2.231 membros de comissão técnica, distribuídos em 122 times. Ao todo, 501 casos de Covid-19 foram detectados somente entre jogadores, o que representa 11,7% de taxa de incidência. Entre membros de comissões técnicas 161 casos foram notificados, resultando em taxa de incidência de 7,2%.
A pesquisa, que foi realizada em parceria com o Comitê Médico da FPF, afirma que em apenas uma das equipes foram detectados 36 casos positivos de Covid-19, sendo 31 deles em um intervalo de apenas um mês. Os nomes dos clubes e jogadores não foram divulgados.
O professor da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) e coordenador do estudo, Bruno Gualano, relatou que a taxa foi muito maior do que a de qualquer outro torneio no planeta.
“A incidência aqui (no Brasil), por volta dos 12%, foi superior a do Catar, cerca de 4%, e a da Dinamarca, de 0,5%”, salientou, à CNN.
Comparando com outras categorias profissionais, a taxa de incidência do futebol paulista é similar a dos profissionais de saúde que atuam na linha de frente contra a doença, cujos números variam de 9,9% a 24,4%.
Em nota, nesta terça-feira (30), a FPF, que busca diálogos com as autoridades para retomar as competições em São Paulo, rechaça a comparação, que chama de “descabida” e afirma que ela desinforma as pessoas.
Veja a nota da Federação Paulista de Futebol, na íntegra:
“A Federação Paulista de Futebol, obedecendo critérios exclusivamente científicos, forneceu para estudo da USP informações quantitativas sobre os exames de RT-PCR realizados durante oito competições de categorias distintas (masculino, feminino e base) no Estado de São Paulo, entre 01/07/20 a 30/12/20.
Tal pesquisa tem como principal objetivo a detecção de eventuais comorbidades, principalmente cardíacas, respiratórias ou neurológicas, em atletas profissionais de futebol com RT-PCR positivos assintomáticos ou oligosintomáticos. Trata-se de um estudo ainda inédito no futebol mundial.
Em nenhum momento o estudo foi realizado com objetivo de comparação com outros centros, afinal, existem enormes diferenças entre os países/ligas que inviabilizam, do ponto de vista científico, essas correlações. Elencamos abaixo as razões:
1- As características dos Protocolos de Saúde aplicados em cada país são diferentes;
2- A comparação envolve períodos distintos de análise dos dados;
3- O momento da evolução da pandemia em cada local também envolve diferenças relevantes para esse tipo de comparação;
4- As características sociais de cada país têm enormes distinções;
5- A velocidade da transmissão do vírus é diferente entre os países;
6- A frequência da realização dos testes em algumas ligas foi distinta;
A comparação com qualquer outro setor no Brasil também é cientificamente incorreta, pois seguramente a testagem frequente em todos os atletas possibilitou maior número de diagnósticos, principalmente por serem assintomáticos. Ou seja, o futebol realiza muito mais testes do que a grande maioria dos segmentos econômicos, e de maneira mais frequente, se contrapondo à grande subnotificação pregada pela grande maioria dos cientistas quanto ao número de contaminados no país.
Desta maneira, do ponto de vista médico e científico, a comparação com outros países/ligas e setores é completamente descabida e desinforma as pessoas.
O Comitê Médico da FPF ressalta que o protocolo da FPF é fundamental para o controle da pandemia no esporte, uma vez que a imensa maioria dos atletas é assintomática, e o diagnóstico precoce por meio dos 31.632 testes de RT-PCR, levou ao rápido isolamento desses indivíduos e evitou a disseminação exponencial do vírus.
Todos os envolvidos no futebol paulista foram rigorosamente orientados para os devidos cuidados de prevenção, constantes no protocolo. Entretanto, a maior parte dos testes positivos está relacionada ao não cumprimento do protocolo, cujas contaminações se dão essencialmente fora do ambiente do futebol. Por isto, inclusive, a FPF estuda com os clubes estabelecer punições aos profissionais que descumprirem os protocolos de saúde estabelecidos.
Cabe salientar que o Comitê Médico da FPF e os médicos dos clubes do Campeonato Paulista são absolutamente sensíveis ao momento atual da pandemia no Estado de São Paulo e que os protocolos são dinâmicos. Por esta razão, para a volta dos jogos nesta Fase Emergencial, defendem a concentração no modelo de “bolha” em ambiente controlado, com testes seriados, avaliação médica diária e rastreamento de contato dos eventuais casos positivos”.
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