O treinador falou pela primeira vez após demissão do cargo de técnico do Timão
O ex-treinador do Corinthians, Tiago Nunes, demitido no começo do mês de setembro após perder o título do Campeonato Paulista para o rival Palmeiras e o time apresentar desempenho baixo no Brasileirão, concedeu entrevista para o programa Futebol na Veia, da ESPN Brasil desta terça-feira (06).
De forma surpreendente, Tiago afirmou não saber que o Corinthians apresentava dificuldades financeiras quando aceitou ser técnico da equipe.
“Eu não sabia das dificuldades financeiras. Teve um agravante que foi a pandemia, dificultou muito os investimentos. A direção se esforçou para trazer os jogadores que solicitamos. Demos muitas negativas de jogadores oferecidos. O Corinthians precisava de nível europeu, como o Flamengo vinha fazendo. A gente não aceitou jogadores que estavam em uma prateleira abaixo. Em alguns momentos, dissemos não a jogadores que pudessem fazer parte do elenco fazendo algo a mais com a camisa”, disse.
Também criticou a cultura da demissão na falta de resultados e concluiu que no Corinthians é preciso primeiro entregar uma satisfação pública do trabalho, para depois pensar em mudar os processos.
“Eu tentei cumprir o que me foi solicitado pelo presidente. Uma gestão geral do futebol, incluindo formação. Isso não é algo do Corinthians só, acontece em inúmeros clubes do brasil. Muitas vezes, os treinadores afastam a base. Outras vezes pela necessidade de resultado, é algo corriqueiro em todos os grupos. Quando investi energia em melhora da comunicação, ela existia, mas precisava ser mais clara. Corinthians tem o sub-23, entender o Corinthians como mercado de contratação. Me passaram uma lista de 50 jogadores do elenco e emprestados. Tentei ter um olhar de dentro do Corinthians, ajudar na saúde financeira, trazer jogadores que eram do Corinthians”, afirmou.
“O que fica de lição é que clubes como o Corinthians, primeiro tem que pensar no resultado de campo, entregar uma satisfação pública do trabalho para depois pensar nos processos. Isso é uma crítica ao futebol brasileiro como um todo. Tenho o Corinthians como uma escola, por toda pressão, gigantismo, pela cobrança, esses momentos de transformação que a cada ciclo de 6, 7, 8, 9, 10 anos acontece, servem para que o clube se redescubra.”
Em sua despedida nas redes sociais, Tiago Nunes já havia citado a ausência da Fiel torcida como um dos grandes pesos para a má fase do Corinthians. Na entrevista, o técnico voltou a citar.
“Existem circunstâncias que fogem ao controle do treinador e jogador. A pandemia tem, para mim, um fator que nem sirva como argumento que vá ser relevante, mas que tem um papel importante que é a ausência da torcida. A torcida faz uma diferença significativa no nível de concentração, competitividade, o adversário dentro do nosso estádio. Um dos desafios que sofremos e não conseguimos resolver foi como manter um um nível de atuação dentro de casa com a ausência do torcedor”, afirmou.
“Se pegar os últimos dois anos, o Corinthians teve dificuldade. Não é de agora as dificuldades no Brasileiro. Fomos vice-paulistas sem fazer muita força. Na volta da pandemia, a gente faz opção por jogadores mais defensivos e vai para a final do Paulista. O Paulista não é um grande referencial de performance para a temporada. O Corinthians vem remando e fazendo muitas apostas e que precisa ter um up a mais para disputar títulos que a grandeza do Corinthians pede.”
O treinador ainda explicou a decisão de dispensar dois experientes jogadores e ídolos da Fiel, Ralf e Jadson, além da forma de avisá-los por telefone. Tiago Nunes disse que avisar os jogadores não era missão sua enquanto técnico, e sim, da diretoria.
“Sobre dispensa do Ralf e Jadson acabou pra mim, porque o Corinthians me deu autonomia para tal. Eles estavam em uma lista de perfil técnico, atlético, lista de 50 jogadores, para o modelo de jogo que a gente ia implementar. A gente não queria contar com os dois para aquela ideia. Eu sempre tratei com máximo respeito os atletas. Como os atletas foram comunicados, isso não é o treinador que pega o telefone. Direção fez, assim como fez com inúmeros de atletas. Fica meu respeito, gerou uma polêmica gigantesca, mas em nenhum momento me senti desrespeitando os dois”, declarou.
Cabe destacar que Ralf e Jadson afirmaram que foram avisados, por telefone, para que não fossem à reapresentação do elenco, porque estariam fora dos planos do novo técnico.
2019 @ Central do Timão - Todos os direitos reservados