Atualmente treinador do São Bento, o ex-lateral direito Dyego Coelho, revelado nas categorias de base do Corinthians e com trajetória no time principal, concedeu entrevista ao ge.globo e dentre várias pautas abordadas, foi questionado sobre bastidores do elenco do Corinthians em 2005, quando a equipe foi tetracampeã brasileira, mas contava com atritos internos.
Naquele ano, a MSI (fundo de investimento com sede em Londres, na Inglaterra), liderada pelo empresário iraniano Kia Joorabchian, investiu forte no Alvinegro e fez contratações de peso, como por exemplo a do atacante Carlitos Tévez e do volante Javier Mascherano, ambos argentinos. Além deles vieram o goleiro Fábio Costa, os meio-campistas Roger Flores e Carlos Alberto e o atacante Nilmar.
“Aquele Corinthians tinha muito ego. Tinha muita situação: ‘por que aquele tem e eu não tenho? E aí tinha o pessoal da base que também queria, porque quem realmente acabou jogando foi a base, junto com os medalhões. A gente tinha o Kia (Joorabchian) maravilhoso, todo mundo não gostava, mas lá dentro a gente amava ele. Tinha o Andrés (Sanchez), que também vinha junto com o Kia e dava todo o suporte. Tinha o Paulo Angioni, que era um barato, um cara fantástico que é gestor hoje do Fluminense. Foi ele que começou a tirar essa vaidade.”
“Aos poucos, fomos entendendo que se fosse só na individualidade, a gente nem ia chegar. Não dá para você ser sozinho igual era o vestiário do Corinthians. Aos poucos, o ego foi acabando e começamos a entender que se fechasse, a gente levaria. Só não sei se duraria mais um ano. Acho que a gente se mataria no outro ano (risos)”, iniciou.
Em seguida, disse que o ambiente era pesado, mas que, apesar disso, o time era qualificada e com caras que ‘jogavam muita bola’: “O ambiente era pesado, mas os caras jogavam muita bola. Era um vestiário conturbado, mas não queríamos sair dali. Queríamos aquela confusão. Quanto mais confusão a gente fazia, mais a torcida cobrava, mais a gente jogava. Era um vestiário de homens, nem tantos alguns, porque o mau caratismo de alguns é melhor nem comentar. Era algo que os jogadores junto com os torcedores levavam à frente. Tinham treinadores, como o delegado (Antônio Lopes), o Márcio (Bittencourt), mas não adiantava, porque quem comandava realmente eram os jogadores. A gente tinha muito aval disso e a torcida abraçou.”
Dyego Coelho chegou no Parque São Jorge para as categorias de base no ano de 2022 e, já no ano seguinte, foi promovido para o elenco profissional. Ao todo, foram 112 jogos em duas passagens (sendo 80 como titular) – 45 vitórias, 26 empates e 41 derrotas. Além disso, marcou 15 gols e conquistou um título: justamente o Campeonato Brasileiro de 2005 aos 22 anos. Em 2006 deixou o clube rumo ao Atlético-MG e teve breve passagem com a camisa corinthiana em 2008.
Posteriormente, comentou bastidores do dia a dia com Carlitos Téveze afirmou que o argentino tinha um alto nível de dedicação: “Era um timaço, então deixava os caras na frente, a gente só defendia e o gringo (Tévez) comandando tudo, era maravilhoso. Deu até saudade agora. O gringo jogava a bola, viu? Era ele e o Nilmar na frente. Teve um jogo da Libertadores de 2006 contra o Universidad Católica, nós com dois a menos. O Carlos Alberto falou, mesmo sendo vaidoso: ‘Vocês dois ficam lá na frente que a gente marca para vocês’. Os dois vão lá e viram o jogo 3 a 2. Era sempre assim, entendeu? Era muito louco.”
“A gente entendia ele (Tévez). Era um cara que se doava muito, então ele precisava de 48 horas ou até mais para se recuperar. Ele não queria ficar fora. Era um cara que brigava muito por todo mundo. Teve situações que ele até tirou um titular do time e falou: “Ou você ou eu, porque do jeito que você joga, você não corre. Então eu corro, eu ganho mais do que você e corro mais do que você”. A partir de hoje você tá fora. Não precisamos nem falar quem é. Ele cobrava todo mundo, mas era um cara fantástico. Para pisar na bola com ele, era não correr dentro de campo. Aí ele virava o bicho. Não só ele, se o torcedor, naquela época do Corinthians, via um jogador andando dentro de campo, esquece que não jogava mais”, continuou.
Confira outras respostas do comandante e ex-jogador:
Máfia do apito e dois gols fundamentais em 2005
“Quando volta aquele tumulto de 2005 da arbitragem, a gente olha um para o outro e fala: ‘É agora’. O que a gente perdeu, não perde mais. O gol mais importante da carreira foi sem dúvida aquele contra o Ponte Preta. Tava 1 a 1 e, se a gente empata, o Inter passa. Tévez perde um pênalti, e aí eu faço 2 a 1 aos 41 do segundo tempo. Volto de uma lesão chata e o Antônio Lopes me coloca para jogar pouco tempo. Até hoje, vira e mexe, vem essas lembranças. vira e mexe, vem essas lembranças.”
Sonho de jogar no Corinthians era maior que “tudo”
“O gol da minha vida mesmo não foi o que eu balancei a rede, foi jogar no Corinthians profissional. Era o meu sonho. Todo mundo tinha um sonho de ir para a Europa, Barcelona, Real Madrid. Eu falei: ‘Irmão, quero jogar Corinthians. Era isso’. E meu pai assim: ‘Não, você não vai fazer teste lá’. Fui em todos os clubes, chegava, mas nem fazia teste porque era muito franzino. Certo dia encontrei um amigo no trem: ‘Vai lá fazer um teste no Corinthians’. Meu pai não queria, porque eu já era corintiano desde pequenininho. E aí quando eu jogo o primeiro jogo profissional, na época eu nem dormia (risos).”
Momentos de pressão que envolveram a família e gol contra nas oitavas de final da Libertadores, contra o River Plate, em 2006, no Pacaembu – derrota por 3 x 1
“Foram vários episódios. Tipo a invasão e a cobrança no Parque São Jorge. Tive problemas com as minhas filhas na escola. Ameaçar a família é um lado ruim dos torcedores. A torcida do Corinthians é a única que realmente vira jogo. Mas também tem a situação de querer ameaçar filho, mãe, pai. Eu já passei por isso e sei que é ruim. Foi uma das piores coisas que eu tive ali. Minha filha teve que ir à escola com carro blindado e segurança. Não é legal e eles passam do limite, às vezes. É aquela minoria que faz mal. Tem guerra para caramba aí no mundo. A nossa guerra aqui no Brasil é contra fome, a violência. O futebol pode trazer tanta coisa boa, que essa minoria estraga.”
“Do River, que fomos eliminados, não vejo problema naquilo. Têm coisas que são mais marcantes para mim no Corinthians. Quando chega o Ronaldo (2009) e aí eu sou vendido e não jogo com o Ronaldo, pô.”
Volta ao Corinthians em 2008
“O momento mais chato foi o da volta do rebaixamento, em 2008, quando volto ao Corinthians. Eu sou muito ligado ao Andrés (Sanchez) e temos uma amizade muito forte. Ele me falou que não tinha dinheiro para pagar a conta de luz e a gente não tinha dinheiro para receber salário. Muita gente fala que o pior momento foi o do River (quando Coelho fez gol contra, na eliminação de 2006). Eu não estava no rebaixamento em 2007, eu só estava na volta. Então, foi difícil, cara. Um gigante que não conseguia levantar. O que dói é o tempo que você fica no chão, não a velocidade que você levanta. Aquilo foi difícil.”
Chegada ao Corinthians como observador técnico logo após se aposentar em 2014 e ‘promoção’ a treinador do Sub-20 em 2017 / Passagem pelo profissional como interino na reta final de 2019 e meio de 2020
“Quem trabalha no Corinthians, trabalha em qualquer lugar do mundo como treinador. Tanto no sub-20, quanto no profissional. Foram momentos mais tranquilos no sub-20, revelando muito jogador. Mas o profissional, a situação é outra. Por eu conhecer bastante o clube, tive essa facilidade. Lembro do primeiro jogo nosso (como técnico principal) contra o Fortaleza, que saímos perdendo de 2 a 0 e vira para 3 a 2. E você lembra daquilo que você passava quando era jogador: o torcedor vindo junto com o time. A gente não conseguia fazer o gol, e eu estava louco para entrar no campo.”
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