O primeiro título do Brasileirão veio do jeito corinthiano: desacreditado, sofrido, mas Corinthians
Com um time de operários liderado por Neto, o Corinthians bateu os favoritos e levantou a taça do Brasileirão em 1990. Olhando para aquele time, o que se viam eram guerreiros com a cara, a energia e a identidade corinthianas. O elenco do Timão em 1990 tinha muitos filhos do Terrão: Ronaldo, Marcelo Dijan, Márcio Bittencourt e Wilson Mano eram alguns.
Outros jogadores experientes chegaram, e um deles era Neto, que foi revelado no Guarani e tinha acabado de chegar do rival Palmeiras. A identificação com a Fiel foi tanta que diziam que aquele time tinha “o mais puro coração corinthiano no bico da chuteira”.
Palmeiras e São Paulo já tinham o título do Brasileiro, e o Corinthians, multicampeão em São Paulo, ainda o buscava incessantemente. Quantas vezes o Timão havia chegado perto, com equipes técnicas, como a dos anos 80, a da Democracia Corinthiana. Faltava algo mais. E esse algo mais era o que aquela equipe tinha, o amor por vencer, o não desistir sob hipótese alguma, a ânsia por ser campeão.
“A base do time foi montada com o goleiro Ronaldo, Giba e Jacenir nas laterais e Marcelo Dijan e Guinei formando a zaga. Na frente dos zagueiros, Marcio Bittencourt e Wilson Mano — quando não era utilizado como coringa — faziam o primeiro combate. Neto era o cérebro, o armador. Nas pontas, Fabinho e Mauro. Paulo Sérgio era o atacante, com Tupãzinho aparecendo bastante como o 12º jogador. O elenco também tinha outro filho do terrão que fez história no clube do Parque São Jorge: Dinei. Todos comandados por Nelsinho Baptista, que havia se destacado ao treinar o Novorizontino vice-campeão paulista no primeiro semestre daquele ano.” (trecho extraído do site oficial do Corinthians).
Na primeira fase, a campanha feita foi suficiente para se classificar para as quartas de final. Quatro vagas eram destinadas aos vencedores de turnos, assim, Atlético-MG, Santos, Grêmio e Palmeiras se garantiram. As restantes ficariam para os clubes com maior pontuação: São Paulo (3º lugar na soma dos turnos), Corinthians (4º), Bahia (5º) e Bragantino (6º) avançaram assim.
Coube ao Corinthians enfrentar o Atlético-MG, que tinha direito de jogar por dois empates e fazer o segundo jogo em casa, pela melhor campanha. No jogo de ida, no Pacaembu, caiu a vantagem do adversário, o Timão venceu, de virada, por 2×1. Dois gols de Neto com assistência de Paulo Sérgio. No Mineirão, segurou a pressão do dono da casa, empatou por 0x0 e se manteve na briga pelo inédito título.
Veio o Bahia na semifinal. E a tudo se repetiu: 2×1 no Pacaembu, com dois gols de Neto, e um 0x0 fora de casa, na Fonte Nova.
Restava o poderoso São Paulo de Telê Santana, já com parte da base que seria bicampeã da Libertadores e do Mundial em 92 e 93 (Raí, Leonardo, Cafu, Zetti). Na partida de ida, em 13 de dezembro, o xodó corintiano Wilson Mano marcou no triunfo por 1×0 e deixou o Corinthians em vantagem para a finalíssima, três dias depois.
Em 16 de dezembro, no jogo final, no Morumbi, diante de mais de cem mil torcedores, com a vantagem do empate em seu favor, o Timão voltou a derrotar o rival. Novamente por 1×0. E com mais um gol de um coadjuvante, que entraria ali, para sempre, para a história do clube: Tupãzinho.
Tupãzinho era a mística, Ronaldo, o paredão que defendia a meta com a alma e o coração, e o ídolo foi Neto. Marcou nove gols ao longo da campanha, o terceiro maior artilheiro, muitos em cobranças de faltas indefensáveis. Mais do que isso, o Corinthians quebrou um tabu nacional. Com um time de operários, desacreditado, libertou-se da angústia e das piadas dos rivais.
A partir daí uma enxurrada de conquistas impressionantes em apenas 29 anos. No Brasileirão foram mais seis até agora. Heptacampeão Brasileiro. Soma ainda três Copas do Brasil, uma Libertadores e dois Mundiais de clubes da Fifa, que hoje, o último também faz aniversário e pode ser o título mais significativo para o corintiano jovem. Mas, aquele que cresceu, e já completava 20 anos, ouvindo que o Corinthians nunca conquistaria o Brasil, lembra do Brasileirão de 1990 e diz: “Nenhum time foi como aquele”.
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