Em carta escrita exclusivamente para a Rádio Bandeirantes, o ídolo do Timão relembra a chegada ao clube, a carreira de títulos, revela morte de avô antes de jogo e diz que pelo Corinthians jogaria até a série C
Anderson Sebastião Cardoso, o “Chicão do Corinthians”, supreendeu a todos mais uma vez. Sincero, o ídolo nunca negou seu amor pelo Timão. Chicão era uma das principais peças dos times que tiraram o Corinthians da Série B e levaram o clube ao título Mundial, em 2012.
Ao todo, foram oito títulos: dois Paulistas, uma Copa do Brasil, um Brasileiro da Série B e um da Série A, uma Libertadores, um Mundial e uma Recopa Sul-Americana. Exímio cobrador de faltas, até julho de 2013, Chicão havia atuado em 247 jogos e marcado 42 gol com a camisa alvinegra. Saiu do Timão em agosto de 2013, mas nunca deixou de torcer por seu time do coração.
Em carta emocionante ao programa Domingo Esportivo Bandeirantes, apresentado por Milton Neves na Rádio Bandeirantes, o ex-zagueiro faz revelações e uma grande declaração de amor.
Confira, na íntegra, a carta de Chicão.
“Oi. Eu sou o Chicão. O Chicão do Corinthians.
Meu telefone tocou.
Era 2007. Final de 2007. Era o Corinthians no outro lado da linha. Meu telefone tocou, o clube me fez uma proposta e eu aceitei. Eu não pensei duas vezes.
Algumas pessoas disseram que eu estava louco. Tinha um grupo de times da Série A me procurando. Eu respondi que eu jogaria pelo Corinthians até na Serie C. Porque era meu sonho. Era o Corinthians. A voz do corintiano é maior do que qualquer divisão, situação, oposição.
Meu telefone tocou. Me disseram que eu estava louco. E quer saber? Tinham razão. Eu virei mais um no bando deles em janeiro de 2008. Talvez o mais louco pelo Corinthians.
Foi onde tudo começou. Meu pontapé de entrada no Parque São Jorge.
Eu sou o Chicão. O Chicão do Corinthians.
Eu peguei a troca de CT. Os gramados ruins da Série B. Os meninos da base dando o sangue com a gente. Eu trabalhei com grandes professores. Mano Menezes e Tite. Joguei com craques como Ronaldo e Roberto Carlos. Mas – apesar da qualidade imensa desses gênios – a cobrança de falta sempre foi tarefa minha.
Minha casa – no começo – foi o Pacaembu.
Subimos com título. Ganhamos Campeonato Paulista. Copa do Brasil.
Mas faltava uma coisa. Não só para nós do elenco. Mas para a torcida do Corinthians. Faltava a Libertadores.
Eu passei muitas dificuldades para chegar ao Corinthians. Sujei muito o uniforme, suei demais o meu corpo, dei meu sangue. No Mogi Mirim. Na Portuguesa Santista. No América. No Juventude. No Figueirense.
Eu queria orgulhar minha família. Eu consegui.
2010. 2011. 2012. Eliminações. Pressão.
O Tite ficou. O Tite foi nosso professor, nosso pai, nossa estrela. Nosso ponto de equilíbrio.
2012. Libertadores.
Eu sou o Chicão. Que fazia dupla de zaga com o Leandro Castán. Que viu o Cássio se esticar e evitar o chute do Diego Souza. Que torceu quando o Paulinho subiu no último andar e tirou o Vasco do Pacaembu.
Eu sou o Chicão. Que gritou em campo. Que ouviu você, corintiano, berrar na arquibancada.
Na Argentina, antes do jogo contra o Boca, meu telefone não parou. Mais de 100 ligações.
Meu avô Messias tinha falecido. Pensei: volto para São Paulo ou fico?
Resolvi ficar. Para orgulhar meu avô. Ele queria que eu vencesse. Eu prometi: vamos ganhar e vou dedicar o título para o meu avô.
Poucos souberam disso.
Quatro de julho de 2012.
Eu ouvi o grito da torcida quando a gente chegou no Pacaembu. Quando o ônibus estacionou no estádio. Quando fomos para o aquecimento. Quando o professor falou com o elenco. Quando nós subimos do vestiário para o campo.
Eu ouvi o seu grito quando meu telefone tocou, em 2007. Quando nós subimos juntos. Eu ouvi o berro corintiano esperando ser outra vez o que você sempre foi. Ser campeão. Ser o Corinthians de sempre.
Meu avô Messias subiu aquela escada comigo. Meu avô vestiu nosso uniforme. Ganhou com a gente.
Dividiu cada bola comigo. Instruiu cada companheiro comigo. Me defendeu enquanto eu defendia o Corinthians.
Era o mesmo grito. O mesmo hino. A mesma paixão.
O Corinthians não é medido pela situação. É medido pelo tamanho da história. Pela altura do berro. Pelo amor da Fiel torcida.
Eu sou o Chicão. O Chicão do Corinthians. O neto do Messias.
Minha prova de amor foi a concentração em campo. A seriedade não só na final, contra o Boca Júniors. Mas diante de todos os adversários. Do mais fraco ao mais forte. Do mais rico ao mais pobre.
Eu sou o Chicão. Eu quase fiz um gol de falta. Passou perto.
Eu vi o Alex cruzar. O Jorge Henrique desviar. O Danilo passar de calcanhar. Emerson chutar com o peito do pé. Eu não só ouvi, mas eu também berrei com a torcida.
Um grito de desabafo. De amor.
Eu vi o zagueiro deles errar o passe. Eu vi o Sheik arrancar e tocar no canto do goleiro. A bola entrar lentamente.
Eu sei que meu avô viu tudo que aconteceu naquela e em outras finais.
Eu arranquei com todos os companheiros desde que meu telefone tocou.
Eu disse sim. Era o Corinthians.
Me chamaram de louco quando eu entrei no bando. Eu acertei em cheio.
Eu sou o neto do Messias.
O Chicão.
Eu sou o Chicão do Corinthians.
Eu sou o xerife da Fiel.”
Por Nágela Gaia / Redação da Central do Timão
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Caraaaaaaamba. Emocionante!
Assim como o chicao. Eu sou o adelson do corinthians!
Eu sou o Renato do Corinthians, jogamos de casa e das arquibancadas!
Emocionante. Chorei…..
Emocionante. Que declaração de amor pelo Timão.
Boa noite
Caramba falar de Chicão e nada mais que falar em seriedade, raça, amor a camisa Corinthiana, e nada mais nada menos que títulos.
Parabéns Chicão que Deus te abençoe sempre
Macedo ( fã do Chicão )