Na última segunda-feira (2) completaram-se sete anos da morte do ex-jogador
José Carlos dos Santos, o Ruço, nasceu no dia 3 de junho de 1949, no Irajá, Rio de Janeiro. O pai, trabalhava como pintor de carros. A mãe, era dona de casa. Desde a infância, Ruço se divertia jogando futebol de rua, mas também gostava de estudar. As dificuldades, contudo, o obrigaram a trabalhar logo cedo, aos 14 anos, como torneiro mecânico.
Assim como muitas meninas e meninos brasileiros, de origem humilde, que tem paixão pelo futebol e desejam um dia ter uma oportunidade, Ruço nunca deixou de sonhar. Mais do que sonhar, ele se arriscou: fez um teste no Madureira, equipe do subúrbio carioca. Lá, a sorte o ajudou. No dia da “peneira”, encontrou o técnico e ex-jogador, Jair da Rosa Pinto. Foi ele quem deu o apelido “Ruço”, graças à fisionomia do jogador, que ficou conhecido assim até os dias de hoje.
Aprovado para as categorias de base da equipe, chegou ao time principal com 22 anos, quando se fez ser notado, demonstrando um excelente desempenho no campeonato estadual de 1973. Chamou a atenção do Botafogo, primeira equipe que o contratou para disputar o Campeonato Brasileiro daquele ano. Com poucas chances, foi cedido para o Clube do Remo em 1974. No entanto, após o clássico contra o Paysandu, houve uma briga generalizada. A torcida chegou a invadir, provocando a intervenção da Polícia Militar. O ocorrido levou Ruço a decidir voltar ao Madureira, onde continuou fazendo um excelente trabalho como jogador.
No dia 10 de agosto, durante a segunda rodada do campeonato carioca, teve uma atuação categórica, sendo peça importante para a vitória da equipe contra o Flamengo, por 2 x 1 no Maracanã. Mais tarde, o jogador seria sondado por outras equipes, quase foi para o Vasco, mas sua estrela brilharia ainda em um dos principais clubes da capital paulista.
Ruço ficou conhecido pela raça com que vestiu a camisa do Corinthians, onde chegou em 1975, sob muita tensão. A torcida corinthiana estava extremamente insatisfeita com a seca de títulos que vivia o Corinthians, e pressionava os jogadores. A situação se agravou ainda mais com a saída de Rivellino, camisa 10 da equipe, que foi acusado pela diretoria de ter “pipocado” na final do Paulistão, e acabou sendo contratado pelo Fluminense.
Naquele ano, após o Corinthians perder de 5 x 1 para a Portuguesa, houve um episódio em que a Fiel cercou e ameaçou virar o ônibus do time. Ruço ficou abalado, quis voltar para o Rio de Janeiro, mas acabou sendo convencido a permanecer.
Posteriormente, ele entrou para a história do clube sendo um dos protagonistas de dois momentos marcantes para o alvinegro, durante a década de 1970.
O Corinthians enfrentou o Fluminense no Maracanã, quando aconteceu a famosa invasão corinthiana ao Rio de Janeiro, durante a semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976. Ele vestiu a camisa 10, a mesma usada por Rivellino, que também estava presente para a disputar a semifinal, vestindo a camisa com mesmo número, na equipe adversária. Graças ao gol de meia bicicleta de Ruço, o inesquecível volante, o jogo terminou em 1 x 1, decisão levada para os pênaltis, onde ele também deixou o seu e ajudou o Timão a se classificar para a final contra o Internacional, que foi o campeão daquele ano.
Aquele dia ainda ficou marcado por um motivo bastante peculiar, contado pelo próprio jogador, em uma entrevista ao Esporte Fantástico, da Rede Record:
“Entrou uma pessoa lá, um vidente, sei lá. Disse que pra eu ter sorte teria de passar a mão no bumbum do Rivellino por três vezes durante a partida. Fiquei meio assim, conhecia o Rivellino… Mas em uma falta que ele sofreu, ajudeio-o a se levantar e aproveitei para fazer a simpatia. Acho que deu certo, né?“, disse, entre risos.
A pessoa a quem ele se referia era Roberto Barros, pai de santo, mais conhecido como pai Guarantã. Incorporando o Exu Rei, ele disse que o Corinthians teria êxito e Ruço faria um gol, mas para isso acontecer, o volante corinthiano teria que passar três vezes a mão na bunda de Rivellino. Ruço atendeu o pedido em um momento oportuno, já que não sabia como seria a reação de Rivellino com uma atitude tão inusitada. Ao ver o camisa 10 carioca no chão, logo após sofrer uma falta, Ruço deu a mão para ele e aproveitou para dar os três tapas “no local indicado”. O que era apenas uma visão, tornou-se realidade.
No ano seguinte, quando o Timão ainda vivia o jejum de 23 anos sem títulos, Ruço também teve uma atuação fundamental. Apesar de não balançar as redes, foi importante para segurar a Ponte Preta na final de 1977, quando o Corinthians conquistou o histórico Paulista de 1977, com gol de Basílio.
Ruço era titular da equipe vencedora dirigida pelo técnico Oswaldo Brandão, que tinha como base: Tobias (Jairo); Zé Maria, Moisés, Ademir (Zé Eduardo) e Wladimir; Ruço, Basílio e Palhinha (Luciano); Vaguinho, Geraldão e Romeu Cambalhota.
Ainda que não fosse considerado craque, o meio-campista despertou o carinho da Fiel por ser um jogador do tipo “sangue no olho”. Ele costumava fazer comemorações inusitadas, mandando um “beijinho doce” para a torcida, apelido pelo qual também ficou conhecido, dado pelo jornalista Osmar Santos.
Aposentado, o ídolo, dono de cabelos vermelhos marcantes, passou seus últimos anos de vida morando no mesmo lugar onde nasceu e criou-se. O ex-jogador sofria com problemas de saúde há alguns anos e vivia dependente de medicamentos por constantes crises de gota.
Na estréia do Corinthians no Campeonato Brasileiro de 2012, quando o clube fez uma homenagem a ex-jogadores, Ruço não pôde comparecer, pois estava com a saúde abalada por conta do problema, que acabou se agravando. Ele ficou mais de um mês internado, até o dia 1 de setembro de 2012, quando morreu, com 63 anos, vítima de um AVC (acidente vascular cerebral).
Ao todo, foram 201 partidas em que ruço defendeu o Timão. Além do Botafogo, teve passagens marcantes por Cruzeiro e Juventus (SP). Na semana de sua morte, a Fiel torcida levou 102 bandeiras para o estádio do Pacaembu, em homenagem ao aniversário do clube. Uma delas trazia o rosto do “Beijinho Doce”.
Foto: Marcos Ribolli/Globoesporte.com
A Central do Timão também não poderia deixar de homenagear o ídolo. Em uma das paredes do “QG”, há uma menção à Ruço, juntamente com outros nomes que marcaram a história do clube.
Foto: Henrique Manfio / Central do Timão
José Carlos dos Santos (1949 – 2012) deixa três filhos e dois netos.
Por Amanda Koiv / Redação Central do Timão
2019 @ Central do Timão - Todos os direitos reservados