O ano é 1995. O Corinthians, prejudicado no jogo, e com um a menos, havia acabado de perder para o Palmeiras por 3×1 na fase de classificação do campeonato paulista (o mesmo adversário que viria a ser derrotado na final algum tempo depois).
Alguns Fiéis nas arquibancadas quase que como um mantra bradavam: “Fora, Ronaldo… Fora, Ronaldo”. Logo ele que havia feito boa partida, com boas defesas, e era sinônimo de raça e amor a nossa camisa. Magoado, o ídolo chegou a falar em entrevista pós-jogo que aquele seria seu último jogo defendendo nosso manto, que pediria para ser negociado a um clube onde teria mais carinho por parte do torcedor. Ainda bem que não se concretizou naquele momento.
O ano agora é 1999… O Corinthians, com um jogador a menos, havia acabado de perder para o Palmeiras por 3×1 na fase de classificação do campeonato paulista (o mesmo adversário que viria a ser derrotado na final algum tempo depois). Alguns Fiéis, fora das arquibancadas, esperavam o craque Marcelinho Carioca, que havia feito nosso gol em uma belíssima cobrança de falta, para gritar nos seus ouvidos em tom ameaçador: “Ô, Marcelinho seu pipoqueiro, eu tô sabendo que você só quer dinheiro”. O atleta e a família, amedrontados, saíram do Morumbi escoltados por seguranças. Logo ele, tão importante e fundamental na maioria das nossas conquistas ao longo da década de 90. Histórias bem parecidas, não? Quase um dejavu. Dois ídolos históricos e a Fiel como protagonista. Vamos adiantar o tempo?
O ano agora é 2019. Um técnico formado dentro do Corinthians, conhecedor do clube, sua filosofia e, acima de tudo, vitorioso como os dois personagens acima citados, vem sofrendo uma campanha cruel por parte de alguns Fiéis e arquitetado, pasmem, por alguns setores da imprensa. Só que diferente do que acontecia há 20, 25 anos atrás onde as cobranças se restringiam as arquibancadas ou, às vezes, às saídas dos estádios, as redes sociais deram voz a quem quer apenas tumultuar o ambiente do time principalmente à véspera de jogos decisivos. Notícias como insatisfação de jogadores, arrogância do treinador e mal estar nos bastidores se espalham e alguns torcedores se deixam envolver. Com isso, reclamam do futebol apresentado pelo time, da falta de padrão e resultados em algumas partidas consideradas fáceis e organizam protesto no CT às vésperas de uma partida onde a equipe necessitaria de apoio.
Ora, estamos falando de uma equipe que não ganha nada há muito tempo ou faz uma péssima campanha nos certames que está participando, certo? Errado, e é exatamente isso que assusta. De fato o time não vem apresentando um futebol vistoso, às vezes é até chato. Mas, bem ou mal, com esse futebol chegamos à semifinal de uma competição sul-americana, o que não acontecia desde a vitoriosa campanha da Libertadores 2012, e estamos no G6 do campeonato nacional. Ah! Sem esquecer que ganhamos um tricampeonato paulista que não vinha há 80 anos contra times considerados superiores técnica e financeiramente. Sorte? Talvez, mas garanto que não teríamos conquistas sem uma boa dose de trabalho. E é exatamente esse trabalho que estão fazendo de tudo para interromper no grito.
Ler corinthianos afirmarem que torceram para o time ser eliminado na Copa Sul-americana, só para terem a esperança da queda do técnico Fábio Carille, exatamente no momento em que todos nós deveríamos estar em uníssono, me doeu na alma. Tenho certeza que são os mesmos “corinthianos” que em plena semifinal do Paulista de 2017, um clássico Corinthians x São Paulo, declararam nas redes sociais que preferiam assistir a Barcelona x Real Madrid que jogavam no mesmo dia e horário pelo campeonato espanhol, desdenhando do seu “clube de coração” . São os mesmos que não sentem aquela ansiedade, preocupação e frio na espinha antes de um jogo decisivo. Devem estar comemorando agora nossa eliminação.
Afinal, onde foi que nós erramos? Onde estão aqueles torcedores que mesmo após insucessos constantes estavam lá apoiando? Onde estão aqueles que apesar de não virem um título expressivo havia 22 anos, invadiram um outro estado para não deixarem o time sozinho?
Alguns Fiéis, definitivamente, não merecem o time que têm, que dizem torcer. Ouso falar que muitos não suportariam uma fila de 23 anos e mudariam facilmente de time, os torcedores de conveniência. Por outro lado, sei que esses não representam 0,1% de nós, torcedores abnegados, aqueles que quanto mais sofrido e difícil for o caminho, mais prazer e orgulho teremos em envergar nossa camisa.
Cobrar e exigir bons resultados é fundamental, afinal queremos ver um Corinthians sempre vitorioso. Porém, os engenheiros de obra pronta se espalham como um câncer transformando o técnico no futebol brasileiro, principalmente de um clube com a visibilidade do Corinthians, de bestial a besta em questão de dias, bastando apenas que os resultados positivos desapareçam. Esquecem dos trabalhos anteriores, dos títulos conquistados, do elenco que tem na mão e, principalmente, do apoio da diretoria.
Como torcedores não devemos acreditar em tudo que nos contam. Afinal, foi essa mesma imprensa que um dia expurgou do Parque São Jorge um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, Roberto Rivellino, como culpado da falta de títulos.
E como acontece hoje, alguns Fiéis engoliram as falácias midiáticas e viram Riva brilhar em outro quintal. Não se esqueçam, a história sempre mostrará quem esteve certo ou errado. Que as cobranças sejam feitas com responsabilidade, para não corrermos o risco de expulsar do clube alguém que pode chegar a 602 jogos, ou alguém que pode vir a ter uma estátua esculpida.
O que falta a alguns de nós, infelizmente, é discernimento para saber quem realmente merece ser cobrado. E no atual momento conturbado que vive nosso clube, muito mais fora das quatro linhas, o alvo escolhido das principais críticas é o errado, podem ter plena certeza.
Fiel, o ano ainda não terminou. Temos ainda dezoito partidas importantes. Devemos estar lá exigindo raça, bom futebol e principalmente dignidade a quem nos representa. Mas acima de tudo, apoiando incondicionalmente a quem carrega nosso escudo no peito dentro de campo.
Lembrem-se, o Corinthians é maior que qualquer técnico, jogador ou órgão de imprensa; ele só não é maior que a nossa própria paixão.
Nos vemos em breve. Grande abraço e… Vai, Corinthians!!!!
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?????
Lição de Corinthianismo!
Que texto lindo e maravilhoso. Parabéns!
Todo corinthiano deveria ler esse texto