Hoje acordei com saudades.
Amanheceu comigo a lembrança dos clássicos no antigo, e “neutro” estádio do Morumbi, à época com capacidade superior a 100 mil pessoas. Os ingressos eram disponibilizados em metade para cada torcida, mas normalmente a torcida corinthiana tomava 70%, as vezes 80% do estádio comprando os bilhetes que sobravam do rival. A divisão no estádio era feita em gomos. E que festa a Fiel fazia quando a PM abria mais um gomo de arquibancadas para abrigar nossa torcida!
Hoje em dia acabou o campo neutro. O mandante no seu estádio ou arena com torcida única, só dele. Um ambiente hostil que em nada lembra o que foi outrora um clássico do futebol paulista.
Saudades das inúmeras bandeiras que coloriam em preto e branco as arquibancadas. Batuques que traziam o carnaval fora de época para dentro do estádio. Sim, estádio. Aquele estádio com gramado ruim, careca, as vezes esburacado que quando chovia a lama tomava conta. Muito melhor que a maquiagem de areia e tinta na cor verde que fazem hoje.
O estádio é democrático. Para os menos abastados, a geral ou a arquibancada de cimento era o que havia de melhor. Aquela proximidade do campo e de seus ídolos separados por um fosso ou uma grade. Isso pouco importava. O que valia era o abraço no desconhecido na hora do gol, o sorriso sem dentes daquele que por 90 minutos se esqueceria dos problemas. Jogo era para se assistir em pé e de preferência encostado no outro para que coubesse mais gente. Essa era a essência do torcer.
Para os de poder aquisitivo um pouco maior, tinha as cativas, ou as cadeiras numeradas. O conforto era maior, mas a alma era menor. Hoje as modernas arenas afastaram os torcedores mais simples. Antigamente era preferível ver um estádio estupidamente cheio a valores acessíveis. Hoje é melhor ter um público pífio e uma renda relativamente alta, afetando a beleza do espetáculo.
Acabou o cimento. Nas Arenas as cadeiras predominam. Na nossa, à pedido das torcidas organizadas, o setor Norte teve suas cadeiras retiradas para que elas fizessem sua bela festa como estão acostumadas. Torcer em pé em outros setores? Já gritam de longe para você sentar-se. Ingresso hoje é com lugar marcado. Se um amigo ou parente comprar antes ou depois, o risco de não estarem lado-a-lado no jogo é enorme.
Saudades quando o Corinthians era só preto e branco (e de preferência com camisa de algodão para dentro do curto calção, sem patrocinadores e chuteiras somente na cor preta). Na década de 90 principalmente, você chegava na loja e comprava exatamente a mesma camisa com que seus heróis iam a campo. Hoje existe distinção entre camisa para torcedor, jogador e até para quem quer escapar de comprar em camelôs, além das de cor laranja, roxa, vinho, azul, amarela etc, todas, pasmem, do Corinthians.
Saudades das entradas em campo quando o Timão subia sozinho para a batalha e era recepcionado por girândulas de fogos de artifício em um barulho ensurdecedor. Hoje em dia, foguetes, sinalizadores e coisas do tipo são proibidos. Ao entrar em campo o Timão está sempre acompanhado do adversário. Aplaudir e vibrar a entrada em campo tornou-se algo quase que constrangedor.
Saudades do corinthiano que era só corinthiano, não tinha essa de ser “Corinthians e Barça”, “Corinthians e Liverpool”, “Corinthians e Real”. Você era Corinthians e ponto final.
O futebol se modernizou. O capitalismo chegou ao esporte mais popular do planeta. Seguimos o mesmo caminho por motivos óbvios. E esse texto fiz pensando exatamente nos jovens torcedores, aqueles que diferente de mim, não viveram isso e que nem por isso são menos corinthianos, mas que tenho absoluta certeza que, parafraseando um poeta contemporâneo pensam: “Que saudade daquilo que não vivemos”.
Nos vemos novamente em breve. Grande abraço e… Vai, Corinthians!!!!
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