“O Corinthians vai ser o time do povo, e o povo é quem vai fazer o time.”
A frase de Miguel Battaglia, dita em 1910, ainda ecoa e se faz presente nos dias de hoje. Esse caráter popular e a aproximação da identidade do trabalhador sofrido com a identidade corinthiana, esse DNA de “Time do Povo” muito é citado tanto pelo clube, quanto pela Fiel, e continua inspirando pessoas, muitas vezes sem voz, mas que se sentem fortes através do nome Corinthians. Porém, as mudanças recentes (de 2008 para cá), as imposições do mercado, a manutenção da Arena e os altos custos que a CBF impõe sobre o clube, fazem com que o “corinthiano maloqueiro, sofredor” frequente cada vez menos os jogos na Arena.
Este é um texto sobre os preços dos ingressos, mas não é um texto de protesto contra eles, muito menos um texto de apoio. É, talvez, uma tentativa de “grito” em nome daqueles que fazem parte dos 50% da população que vive com menos de um salário mínimo por mês, como se dissesse: “Por favor, existe jeito pra tudo, deem um jeito pra nós!”
Seria fácil falar por mim, sem ter empatia pelo cara que ganha um salário mínimo e selar a conversa dizendo que tem que dar vantagem “é para quem vai sempre aos jogos”. Seria fácil, mas não deveria ser. Também não podemos faltar empatia para com o Corinthians e cair matando em críticas, sem sabermos as razões, justas, que levam aos preços cobrados. É obrigação da Fiel ajudar o clube também com ideias, buscar alternativas para baratear o preço sem colocar em risco a saúde financeira da Arena e do Corinthians.
Ao falar sobre preços de ingressos não podemos ser levianos e não levarmos em conta tudo que os envolve. E a Fiel é uma das mais conscientes nesse quesito.
– Sabemos que o Corinthians não está na lista dos que cobram os ingressos mais caros;
– sabemos que é preciso valorizar o sócio, até como incentivo para crescer o Fiel Torcedor;
– sabemos que há uma cláusula no contrato com a Caixa (financiamento da Arena) que não permite ao Corinthians colocar o preço que deseja (os ingressos estão incluídos na garantia);
– sabemos que a CBF define o preço mínimo dos ingressos cobrados pelos clubes mandantes em R$ 20 a meia e R$ 40 a inteira e que, se o Corinthians quiser cobrar menos que isso, ele mesmo tem que arcar com a diferença dos custos da CBF. Sim!!! Os custos da CBF, como despesas com os exames de doping e pagamento aos árbitros (inclua o VAR);
– sabemos dos custos da nossa Arena, manutenção, prestações etc;
– sabemos que o Corinthians está buscando soluções e já está adotando nova política, cobrando mais caro nos jogos de maior procura e mais barato nos de menor procura, e creio que não há como discordar disso, é um efeito normal da economia (lei da oferta/procura).
Mas, sabemos também que boa parte da Arena fica vazia na maioria dos jogos e isso incomoda demais a Fiel, bem aquele setor que fica de frente para as cabines de tv. Sabemos que algo precisa ser feito para o “maloqueiro sofredor” voltar ao estádio e que o Corinthians não deve querer tratar o futebol apenas como negócio, pois sabe que grande parte do seu torcedor, a camada mais popular, será excluída da Arena e ele sempre foi o clube da inclusão, e não o contrário.
Não tenho conhecimento do motivo daquela parte ficar vazia. Mas, não se pode preencher, ao menos uma parte dela, com “maloqueiros sofredores”? Essa pergunta é feita por centenas de corinthianos, nas redes sociais, a cada jogo. Reuni algumas ideias conversando com amigos e seguidores no Twitter, que cito abaixo:
– Preencher os 15 mil lugares vazios com vizinhos da Arena;
– Com crianças, jovens e “tiozinhos” menos favorecidos;
– Com parceria com as escolas da Zona Leste ou com as instituições inscritas na Responsabilidade Social do clube;
– Parceria com as Sub-Prefeituras da Zona Leste, gerando renda para o comércio local, trocando notas fiscais + R$10 ou R$15 por ingressos e lotando os dois setores e gerando uma renda suficiente para bancar a manutenção deles;
– Buscar empresas que banquem esses setores, levando pessoas em ação social… A Arena separaria um bloco no setor, a empresa entraria custeando o valor para, digamos, 1.200 pessoas carentes, o patrocinador daria uma camisa (com sua marca e a do Corinthians), colocaria faixa, placa, ou subiria um bandeirão com a marca dela, a própria empresa administraria isso e a Arena entraria com o apoio. O patrocinador teria a propaganda, ganharia reconhecimento social, o que é importante para a marca de qualquer empresa, o público do estádio ficaria muito contente, pessoas carentes seriam incluídas, e que felicidade ver o “corinthiano maloqueiro sofredor” lotando um setor! Na Allianz Arena, do Bayern de Munique há uma empresa de publicidade que leva um bloco de torcedores aos jogos, formando sua sigla na torcida, não sei se é uma ação social, não sei como é feito, mas nos serve como inspiração.
Sinceramente, não sei lhes dizer se há algum impedimento para isso, se a TV permite, se a Caixa permite, se o fundo que administra a Arena permite, se pode, se não pode. O que sei é que vivemos em um país de excluídos, e, não(!!!) não é “culpa” do Corinthians! Mas, fico pensando no que o Corinthians poderia fazer “a mais”. Não temos que assistir calados e nos conformar.
O alemão gasta 1h e 48min do seu dia de trabalho para pagar seu ingresso de jogo, enquanto um corinthiano que ganha o salário mínimo precisará trabalhar quase 10 horas para comprar o ingresso mais barato para o próximo Derby.
“Ah! A gente se vira e vai! Afinal, é Derby!”
Sim. A gente, sim. Mas, aquele cara lá continua fora da Arena, atrás do muro da desigualdade, que o exclui. Excluir é negar direitos básicos. E é direito básico do corinthiano ir ao estádio apoiar seu grande amor. Enquanto houver um irmão corinthiano excluído atrás do muro, sou eu, é você, é o Time do Povo excluído com ele.
Ideias não faltam, mas, muito além de ideias e vontades, é preciso boa vontade para que isso aconteça. Afinal, o Corinthians é o time do povo, só falta o povo ter direito a estar com ele nos momentos mais importantes: nos jogos na Casa do Povo.
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O clube errou ao não fazer maior os setores populares.
Será q ainda dá tempo, Sam?
Perfeito o texto… Perfeito…
Grata, amigo. Não sei se acrescenta, mas é tão bom falar…
Você tem orgulho de ler um texto?
Eu tenho, parabéns Nágela!
ownnnn obrigada, querido
Boa! É isso aí