Nesta quarta-feira (23), Alexandre “Gaules”, principal streamer (usuário que transmite seus jogos ao vivo) do Brasil, se pronunciou sobre o caso de injúria racial cometido pelo seu amigo Danilo Avelar, zagueiro do Corinthians, e disse estar “decepcionado” com o defensor. Os dois são jogadores de “Counter-Strike”.
“Você fica decepcionado, né? Acho que todos nós (ficamos). Você acha que eu não fico decepcionado? Todo mundo (fica). A palavra é decepção mesmo”, disse o streamer.
Gaules ainda fez um apelo a seus fãs, ressaltando a importância da luta contra o racismo na sociedade. Confira todo o pronunciamento:
“Não é porque é uma pessoa conhecida nossa, uma pessoa que faz parte da nossa comunidade, que a gente pode passar a mão. Independente se ele sabe que errou, que fez algo que hoje em dia não é cabido. O que me preocupa agora não são as consequências, nem as punições, e nem o que vai decorrer em relação a vida dele, porque são coisas que não cabem nem a mim. O que me preocupa é o que as pessoas que estão nessa condição continuam tendo que passar todo dia. O que devemos nos preocupar é com o lado da moeda da pessoa que sofre o racismo”
“Quantos jogadores, quantas crianças, quantos adolescentes, quantos adultos, quantas vidas vão ser menosprezadas, vão ser ofendidas, simplesmente pela cor que elas têm. Isso é um negócio que, hoje em dia, independente de que eu saiba que cada um tem uma fase, um período, tem uma jornada, tem uma evolução diferente… hoje em dia é aquilo que eu falo, hoje em dia alguém vem aqui e pergunta “pô Gau, por que que a gente não vê jogador de CS preto?’, e eu falo assim “cara, não é lacrar, não é nada, mas às vezes tem um adolescente que chega mais próximo da nossa comunidade e não se identifica, porque ela não se vê ali, né’. Além disso, além dela não se ver porque o CS não é inclusivo, e eu já falei isso para vocês, ela vem e fala ‘caramba, as pessoas que estão nesse lugar me ofendem, usam a cor que eu tenho para me ofender?'”
“Acho que é esse o aprendizado, porque não é engraçado, às vezes a gente vê isso acontecer… e aconteceu com ele e foi só noticiado porque é uma pessoa relevante, importante. Isso, velho, não adianta nada eu vir, falar isso para vocês e vocês falarem ‘que cara horrível, que situação horrível’, e dentro de casa, ou com amigo, você falar isso, usar isso, fazer coisas que hoje em dia não tem mais espaço. É aprender com o erro dessas pessoas, e aprender com a gente, porque todo dia, infelizmente, a gente tem racismo dentro de nós. Pode não ser xingando alguém diretamente, mas pode ser até em forma de pensamento. Às vezes você está na rua, você vê uma pessoa e dependendo da cor daquela pessoa você fica ou não preocupado, troca ou não a direção que você tá indo”
“Hoje não tem mais espaço para gente falar alguma coisa, escrever alguma coisa, e você também tem que se policiar até pelo pensamento, porque você olha e fica ‘porque eu estou pensando isso? Por que eu estou agindo dessa forma?’. Acho que a questão é, mais uma vez… as punições, o que vai acontecer, o que vai ser da vida do Danilo… eu desejo toda sorte, toda evolução, e tudo de bom que pode acontecer, mas eu também desejo que ele aprenda com tudo isso. Mas não cabe a mim falar que aconteça isso ou aquilo, acho que não tem mais espaço. A preocupação principal que temos que ter é sempre com o lado mais atingido com isso, o elo mais fraco, é que todos os dias você vai perceber que tem pessoas que vão passar por isso e você fala ‘caramba, até quando?’, então você, dentro de casa, junto com os amigos, independente de ser pessoa pública ou não, nós temos o papel de olhar e falar ‘cara, não dê risada’, quando a gente vê no chat, ou está numa partida, está num momento. Se você tem a opção, ou a oportunidade, de defender essa pessoa, e até mudar você mesmo, aproveite essas oportunidades”
“Acho que é isso em relação ao que temos hoje em dia, e esses casos, hoje em dia, olhamos e falamos ‘que bom que não tem mais o espaço e não tem mais esse lugar para, pelo menos, no que é uma vitrine’… porque antes isso poderia acontecer e passar como normal, mas hoje em dia não passa mais batido e eu acho que a gente tem que olhar e tirar todo o aprendizado possível, e seguir em frente, mas estar ao lado de todas essas pessoas, todo mundo, e dizer que não existe mais espaço para isso”
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