Mais de meio século antes da existência das torcidas organizadas, a Fiel já “representava” e valorizava o espetáculo que o Corinthians dava em campo
Se nos dias de hoje é a torcida organizada quem dita o ritmo da torcida nas Arenas, muito antes, os corinthianos já se organizavam para fazer coro ao futebol do time. Eram gritos pequenos, de palavras repetidas, fáceis de gravar, semelhantes aos gritos de guerra originados nas escolas da época.
O primeiro grito da Fiel de quem se encontram registros, aconteceu em 1914 e originou o “Vai Corinthians” atual e que promete ser eterno. O Corinthians fazia seu primeiro jogo internacional, contra o Torino da Itália. A partida foi no Parque Antarctica, em 22/08/1914. O placar foi de 2 x 1 para os italianos, que fizeram seis jogos nessa excursão e venceram todos, sendo o Corinthians o time que mais lhe deu trabalho.
O árbitro foi ninguém menos que Charles Miller, o introdutor do futebol na Brasil, que saiu de campo acusado de ter favorecido o time italiano. O técnico do Torino, Vittorio Pozzo, afirmou que o Corinthians podia ir à Europa e enfrentar, sem receio, qualquer dos times de lá.
“Allez, go, ack” era o grito que as elites brasileiras bradavam nos campos de futebol no início do século XX. Significa “vai” em Francês (allez), em Inglês (go) e em Alemão (ack). Ou seja “Vai, vai, vai!”.
Acontece que a Fiel se apropriou do termo e o “Allez, go, ack”, se transformou em “Aleguá-guá”. Nos primeiros anos da trajetória do alvinegro paulistano, o grito de guerra da sua torcida era: “Aleguá-guá Corinthians!”
O que se cantava nas arquibancadas: “ALEGUÁ GUÁ GUÁ! ALEGUÁ GUÁ GUÁ! HURRA HURRA! CORINTHIANS!”.
A partir de 1970, o narrador Osvaldo Maciel popularizou a expressão “Vai Corinthians”, em suas transmissões.
Em 2011, foi lançado no Bar da Torre do Parque São Jorge um livro de ilustrações com o título “Aleguá-guá Corinthians!”. Fernando Wanner, ilustrador e criador da Porto Zen Estúdios, Luiz Wanner, autor do texto, e Filipe Gonçalves, responsável pela pesquisa histórica, conduzem o leitor pelas primeiras décadas da saga alvinegra com precisão e abordagem inovadora. Vale conferir.
No livro Brás, Bexiga e Barra Funda, publicado em 1928, registrou o grito de guerra de Antonio Alcântara Machado em sua crônica Corinthians 2 x Palestra 1. Um grupo de torcedores organizados chamados “Extra-Corinthians”, que já funcionava como uma torcida organizada, acompanhava competições internas e externas do clube em suas diversas modalidades.
Naqueles tempos, o torcedor João da Costa Martins tinha por superstição acender um charuto a cada vez que o Corinthians marcava um gol. O gesto acabou pegando entre os alvinegros, que passaram a fazer muita fumaça nas arquibancadas alvinegras a cada gol corinthiano, sob o coro ritmado, e até certo ponto estranho de:
“QUE É, QUE É, É JACARÉ? NÃO É! QUE É, QUE É, É TUBARÃO? NÃO É! ENTÃO O QUE É? CO RIN THI ANS!“
Na década de 30, Antonio Alcântara Machado registrou no livro Cavaquinho e Saxofone o seguinte grito de guerra: “TUCU RUCUTU! JÁ-JÁ! TUCU RUCUTU! JÁ-JÁ! HURRA HURRA! CORIN THIANS!”
Em 1941, já existiam as torcidas uniformizadas que apoiavam o Corinthians nas arquibancadas. Estes grupos animavam os jogos com instrumentos de percussão e de sopro (as charangas). Fotos mostram um grupo uniformizado que se posicionava atrás de faixas com os dizeres “Torcida” e “Torcida Corintiana”.
Eram, em sua maioria, do sexo masculino, trajados com dois modelos diferentes de uniforme: um deles era uma camisa branca de mangas longas, com o brasão do Corinthians no lado esquerdo do peito, punhos pretos, uma faixa negra na região dos ombros e golas brancas; a outra era uma camiseta de manga curta branca, com punhos e golas pretas, escrito “Corinthians” na região do peito.
Na década de 40, o Corinthians já possuía a maior torcida da cidade de São Paulo. O jornal A Gazeta Esportiva, em parceria com a Rádio Gazeta, organizava um campeonato de torcidas. Assim, vários gritos e cânticos foram criados. Destaque para o canto da “Torcida Corintiana”, que cantava assim: “UH BALASQUIÊ! UH BALASQUIÁ! ZUM, ZUM, ZUM, RÁ, RÁ, RÁ! CORIN THI ANS!”
Em 2012, o Parque São Jorge recebeu o evento de lançamento do volume IV da Coleção Corinthiarte. O livro ilustrado “Balasquiê Balasquiá Corinthians” tem como temática a década de 40 do Clube. Com arte e roteiro de Fernando Wanner, criador do Porto Zen Estúdio, poesia e argumento de Luiz Wanner, pesquisa histórica e texto de Filipe Gonçalves, o livro trata os anos de 1941 a 1950 como pano de fundo para a formação da primeira torcida uniformizada do Corinthians e conquista de títulos. O contexto se relaciona aos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial.
Nos anos 50, outro grito de guerra estranho, que não conseguimos encontrar registros de sua origem. Reproduzido ao final da música ” Campeão do IV Centenário” de Alfredo Borba, era gritado pela Fiel quando o Corinthians foi Campeão do IV Centenário de 1954: “CHI BUMBÁ, IUBARACA, IUBARACÁ,-Á! ZUN ZUN ZUM, RARARÁ, CO RINTHI ANS! CO RINTHI ANS!“
Ouça a música “Campeão do IV Centenário”. No final foi eternizado o grito da Fiel dos anos 50.
A partir de então muitos e muitos gritos de guerra e cânticos foram entoados.
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