Em novembro do ano passado, matéria da Central do Timão revelou que o Conselho de Orientação do Corinthians, ao analisar as contas do primeiro semestre do clube, apontou gastos de quase R$ 3 milhões em um cartão corporativo, cujo detalhamento não foi divulgado ao órgão. Poucos dias depois, o presidente Augusto Melo negou à própria Central do Timão que houvesse qualquer irregularidade nas despesas.
Nesta quinta-feira, porém, novas informações sobre o tema vieram à tona em reportagem da Gazeta Esportiva. Após acessar as faturas detalhadas destas despesas, foi possível constatar grandes divergências em relação ao que a gestão Augusto Melo havia declarado aos órgãos fiscalizadores do clube, tanto em relação ao número de cartões ativos quanto ao montante efetivamente gasto.
Inicialmente, a diretoria havia declarado na sua prestação de contas que existia apenas um cartão corporativo sendo utilizado, e que no primeiro semestre de 2024 os gastos totais foram de aproximadamente R$ 2,7 milhões. No entanto, as faturas detalhadas mostram que há, na verdade, cinco cartões ativos, que gastaram R$ 3,8 milhões no primeiro semestre, além de outros R$ 4,5 milhões no segundo semestre.
À época, Augusto Melo havia declarado que todos os gastos do cartão corporativo eram regulares e podiam ser comprovados, e também que não utilizou seu cartão pessoal em nenhum momento.
“Eu não preciso gastar um real do Corinthians para nada. O que estão falando aí, que está aparecendo nos valores, são (do) cartão cooperativo do clube todo, de compras, de viagens, que as pessoas responsáveis tem notas fiscais (do) eles que gastam. O Augusto Melo, durante 11 meses, não gastou um real, porque eu não preciso disso.”
Alguns gastos foram citados na matéria da Gazeta para exemplificar o detalhamento encontrado nas faturas. Cerca de R$ 43 mil, por exemplo, são relativos a consumo no restaurante Coco Bambu, e justificados pelo clube como sendo pagamento de alimentação do elenco profissional. Outros R$ 453 mil foram gastos entre setembro e outubro no Hotel Fasano, e justificados pelo Corinthians como custeio da hospedagem de Memphis Depay após sua chegada ao clube.
Além disso, também foram identificados gastos com oficinas, outras hospedagens, equipamentos de vídeo, fretamento de passagens e contratações diversas de prestadores de serviços, cuja frequência foi justificada pelo Corinthians em nota à Gazeta como fruto das dificuldades financeiras sofridas pelo clube por conta dos bloqueios judiciais que vem sofrendo.
Vale lembrar, no entanto, que o objeto de crítica do Conselho de Orientação em relação a esse tema, em seu relatório da análise de contas no primeiro semestre, não é em relação a qualquer suposta irregularidade nos gastos, mas ao fato de os mesmos, até hoje, jamais terem sido detalhados da maneira adequada, sendo informados apenas de forma genérica, a ponto de o órgão sequer conseguir emitir um parecer aprovando ou rejeitando as contas.
Essa situação contrasta com declarações emitidas pelo diretor jurídico Vinícius Cascone em 30 de novembro à Rádio Bandeirantes, onde o mesmo ponderou a possibilidade de divulgar os gastos detalhados do cartão corporativo – o que não foi feito: “Acho que a gente pode, inclusive, apresentar o gasto por rubrica, então gasto com hotelaria, gasto com medicamento, isso pode se apresentar, não há nenhum problema. Acho que isso a gente pode tornar público, até para esclarecer as pessoas, já que o relatório foi, de forma indevida, tornado público.”
O relatório do Cori, que também apontou outros diversos problemas na prestação de contas do clube, incluiu uma recomendação para que a Comissão de Ética e Disciplina do Corinthians abrisse um processo de destituição de Augusto Melo por gestão temerária. Tal recomendação foi aprovada por unanimidade, sendo que nove dos 13 votos vieram de membros do Cori eleitos pela base de apoio do próprio presidente.,
É importante lembrar, porém, que esse processo não tem relação com o que será votado na próxima segunda-feira, 20, no Conselho Deliberativo. A votação marcada para daqui a quatro dias trata das supostas irregularidades cometidas por Augusto Melo na condução interna do caso VaideBet e seus desdobramentos.
A Central do Timão procurou a assessoria do presidente Augusto Melo, que afirmou que os gastos citados não são do presidente, não foram oriundos de seu cartão pessoal e nem direcionados a ele. Explicou, ainda, a natureza dos gastos com restaurantes, sobretudo o Coco Bambu, justificativa que foi confirmada pelo próprio Corinthians em nota oficial publicada na tarde desta quinta-feira:
“Os valores são relativos à alimentação de todos os jogadores, do staff e da comissão técnica do time, em jogos realizados fora de casa. Nas partidas em outras cidades, os atletas, staff e comissão técnica fazem a refeição pós-jogo dentro do vestiário. O cardápio é escolhido por um nutricionista e passado para quem está na viagem, permitindo que escolham entre opções como carne, peixe e massa. É uma alimentação controlada para repor o gasto energético e calórico da partida. As refeições são entregues e realizadas no vestiário do estádio. Depois de comerem, atletas, staff e comissão seguem para o aeroporto e retornam a São Paulo. Quando a comissão opta por dormir na cidade do jogo, as refeições são feitas no hotel. Todos esses valores são pagos com o cartão corporativo que fica com o Departamento de Futebol.”
O clube também deu sua versão para que houvesse cinco cartões identificados no detalhamentos das faturas. O entendimento do Corinthians é que trata-se apenas de um cartão, que pode ser usado por mais de uma pessoa. “Mais uma vez, o Clube reitera que tem apenas um cartão corporativo, que pode ser usado por 5 CPFs diferentes, relativos aos departamentos de Compras, Futebol Profissional e Presidência (este cartão, inclusive, está zerado e nunca foi usado pessoalmente pelo presidente Augusto Melo)”, afirmou.
Por fim, o clube detalhou alguns dos gastos citados na matéria da Gazeta Esportiva:
Brax — despesas com fretamento e passagens.
Vale das Flores, Nova Friburgo — em 29 de fevereiro, referente à hospedagem do observador técnico da competição Brasil Soccer, do futebol de base
Pousada Aldeia Camaras — em 29 de abril, referente à hospedagem do observador técnico da Copa Nordestino (sub 13 a sub 17).
Pousada Aldeia Camaras — em 8 de novembro, novamente referente à hospedagem do observador técnico.
Fasano Hotel — gasto referente à hospedagem do jogador Memphis Depay, agentes e staff do atleta, em sua chegada ao Brasil. Incluindo a moradia do jogador durante dois meses, aproximadamente.
GHSM — em 11 de novembro, referente a gastos com hotelaria para o jogo contra o Vitória, pelo Campeonato Brasileiro.
Maxima Gesta, Montes Claros — em 12 de novembro, referente a gastos com hospedagem para um torneio de Peteca.
Daniel Nunes da Silva — referente a viagens e estadias.
DT Shop — em 13 de junho, referente à compra de equipamentos de vídeo para a equipe de Comunicação
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