Ex-lateral-direito do Corinthians, campeão mundial em 2000, José Sátiro do Nascimento pode não ser um nome conhecido entre a Fiel Torcida. No entanto, o apelido de Índio, da Aldeia Xucuru-Kariri, de Palmeira dos Índios, em Alagoas, é bem identificado entre os corinthianos.
Em entrevista por videoconferência concedida ao portal “Globo Esporte”, que durou quase 30 minutos, o ex-jogador admitiu que, vinte anos após sua saída do Timão, ainda deseja uma despedida oficial do clube.
Além disto, contou que sonha com um time profissional só de atletas indígenas e fez questão de agradecer ao Corinthians em diversas oportunidades. Primeiro por ter mudado sua vida e ter lhe dado oportunidades de conhecer o mundo, e depois por ele ter condições financeiras de ajudar sua aldeia e cuidar dos sete filhos.
“Para mim, tem uma importância muito grande sair da selva para o mundo, para São Paulo, então foi um orgulho muito grande ter jogado no Corinthians. Graças a Deus, eu me sinto muito bem de ser índio da Aldeia Xucuru-Kariri aqui de Caldas. Até o cacique aqui é meu irmão Jau, a gente se dá muito bem com todos da cidade, e o futebol do Corinthians foi tudo na minha vida. Tudo que eu tenho agradeço ao manto sagrado que é preto e branco, o Corinthians”, disse, emocionado.
Entretanto, Índio ainda possui uma lacuna na vida profissional que não foi preenchida: um jogo de despedida. Há mais de dez anos, já pensou em diversas possibilidades. No Pacaembu, com veteranos do time de 2000 enfrentando o elenco atual. No Parque São Jorge, onde realizou vários testes após cruzamentos certeiros para Fernando Baiano, com quem atuou junto na base do clube. Pensa em um jogo de seus amigos indígenas contra os amigos de Vampeta, para quem sempre liga para conversar e fazer planos.
“Aí vou levar os caciques das aldeias para jogar com os amigos de Vampeta. Nós vamos fazer o jogo com a aldeia, vão as aldeias quase todas do Brasil […] Eu tenho na minha cabeça uma ideia de montar um time indígena para jogar uma Copa São Paulo, um Campeonato Paulista. Já está tudo engatilhado comigo, com o prefeito da cidade (de Caldas), com meu irmão Jau, e assim que fizer os campos aqui na aldeia, quero fazer isso. Pra gente disputar campeonato no Brasil, no exterior, é tudo o que eu quero”, afirmou.
Índio nasceu em uma aldeia carente no interior de Alagoas e, com apenas 12 anos, foi pai do primeiro de seus sete filhos. Ajudou na roça da aldeia da qual seu pai, Zezinho, falecido em 2015, era cacique. Aos 17 anos, em 1996, foi aprovado em uma peneira do Vitória, na Bahia. Rapidamente virou titular e foi um destaque do Rubro-Negro baiano. Com isso, chamou a atenção do Corinthians em um torneio de base nos Estados Unidos.
“A dificuldade que eu tive foi que passei muita fome até chegar no Corinthians. Saí do Vitória da Bahia, de busão, para fazer uma avaliação e graças a Deus fiz cinco peneiras no Corinthians. Em três peneiras eu fui mal, o treinador (Adaílton) Ladeira queria me mandar embora, mas depois de mais duas peneiras, cruzei três bolas e Fernando Baiano fez três gols. Aí assinei o contrato com a base do Corinthians”, disse.
“Eu corria muito, gostava de correr, e o Edilson não aguentava, mandava eu parar. E eu dizia “Vocês estão ricos e eu estou pobre, tenho que correr cada vez mais”. E pra mim foi um orgulho muito grande jogar com esses grandes jogadores. Carregava a chuteira de Gamarra, de Marcelinho Carioca, de Edílson, de Vampeta […] Ele (Vampeta) foi lá na diretoria e mandou aumentar (meu salário) para R$ 20 mil, daí comecei a estabilizar minha vida. Era como um pai mesmo.”
“E eu ficava vendo: como é que pode, eu jogando desse jeito, botei os laterais quase tudo do Corinthians no banco, e os caras ganhando milhões. Por isso que digo: eu comecei lá de baixo, pianinho, com humildade, a gente pra vencer na vida tem que ter muita humildade. Eu, como índio, tenho muita humildade até hoje. E por isso aqui todo mundo me ama, a família toda, cento e poucas famílias. E eu tenho muito orgulho disso”, finalizou.
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