Depois das Seleções das décadas de 50, 60 e 70, escalamos a Seleção da década de 80.
A década da democracia corinthiana, movimento criado durante a ditadura militar, que consistia na ideia de que todas as decisões tomadas pelo clube, na área de futebol, deveriam ser votadas antes, de modo que todos os participantes, dirigentes, atletas ou equipe de apoio, tinham direito a voto. A democracia corinthiana era um movimento libertário, que pregava a luta pelo fim da ditadura militar no Brasil e o direito ao voto direto.
A década do bicampeonato paulista de 82-83.
A década do fracasso da “Sele-timão” de 1984-1985, time montado basicamente com o dinheiro da venda de Sócrates a Fiorentina, que contava com nomes como Hugo De León, Serginho Chulapa, Casagrande, Arturzinho, Dunga…
A década da reação espetacular no Campeonato Paulista de 1987, que resultou no vice-campeonato após terminar em penúltimo lugar no 1º turno.
A década do improvável título paulista de 1988, ano do centenário da abolição da escravatura.
A década das frustrações no Campeonato Brasileiro entre 1982 a 1989.
A década que terminou com a conquista do primeiro título nacional, em 16.12.1990.
Com base em pesquisas no Almanaque do Timão, do Celso Unzelte, leitura de jornais da época, especialmente a Folha de São Paulo, estatísticas, gols, partidas disputadas, títulos, relevância, importância história e vivência da época, montei uma seleção muito forte.
Na década de 80, o esquema tático predominante no futebol brasileiro era o 4-4-2, quatro zagueiros, 4 meio-campistas e 2 atacantes.
Na década de 80, o Corinthians conquistou 3 títulos paulistas em 1982, 1983 e 1988, além do inédito Campeonato Brasileiro de 1990.
Eis a seleção:
Goleiro: Ronaldo. Confesso que essa escolha foi bem difícil. Leão, Carlos e Ronaldo foram os candidatos. Leão foi o goleiro corinthiano no bicampeonato paulista de 1983. Foi decisivo, especialmente, na semifinal contra o Palmeiras. Foram 50 jogos e 42 gols sofridos na temporada de 1983 e uma camisa listrada icônica. Carlos foi um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro. Titular da Copa de 1986. Foi campeão em 1988, mas não jogou as finais por estar machucado. Fez 159 jogos e sofreu 130 gols entre 1984-1988.Algumas falhas em jogos decisivos pesaram contra Carlos. Dessa forma, o escolhido é Ronaldo, queestreou num majestoso defendendo um pênalti de Dario Pereyra. Foi titular nos jogos finais do Paulista de 1988 e a partir daí virou titular absoluto até o fim de 1997. Foi o goleiro Campeão Brasileiro em 1990 e considerado o melhor da posição, segundo a Revista Placar. Entre 1988-1990, Ronaldo fez 161 jogos com 114 gols sofridos, sendo o goleiro com a menor média de gols sofridos entre os citados.
Lateral Direito: Édson, o popular “Abobrão”, é o lateral-direito da década de 80. Titular absoluto entre 1984-1988, Edson fez 226 jogos e 8 gols pelo Corinthians. Édson foi convocado para a Copa de 1986 e era o titular da Lateral-Direita até sofrer uma contusão na 2ª partida contra a Argélia. Foi campeão paulista em 1988, fazendo o gol de empate do Corinthians no 1º jogo da decisão.
Zagueiro Central: Marcelo. O Corinthians sempre teve zagueiros inconfiáveis na década de 80, inclusive os renomados, como Juninho e De León, que formaram a dupla de zaga em 1985. Marcelo tomou conta da posição desde a estreia contra o Internacional, em 1987, pela Copa União. Na década de 80, em específico, Marcelo fez 170 jogos sempre com muita regularidade. Foi ele quem roubou a bola de Evair e tocou para Wilson Mano “assistir” Viola no gol do título paulista de 1988. Marcelo foi campeão brasileiro em 1990, sendo considerado o melhor zagueiro da competição pela Revista Placar. No geral, Marcelo fez 342 jogos e 4 gols entre 1987-1993.
Quarto-Zagueiro: Daniel González. Dono de um toque refinado e grande impulsão, González chegou ao Corinthians vindo da Portuguesa em uma troca com Taborda, outro jogador uruguaio. No Corinthians, González, titular absoluto no Campeonato Paulista de 1982, fez 72 jogos e 2 gols. Era um dos grandes defensores da democracia corinthiana no clube. Foi negociado em meados de 1983 com o Vasco da Gama. Em 1985, morreu num acidente de carro quando retornava de um jantar na casa do atacante Cláudio Adão.
Lateral Esquerdo: Wladimir. O jogador que mais vestiu a camisa do Corinthians com 806 jogos e 32 gols marcados. Foram 15 anos de Corinthians entre 1972-1985 e 1987. Revelado pelo clube, Wladimir foi um exemplo de técnica, tática e espírito de luta. Grande jogador. Poderia ter jogado 2 Copas do Mundo, em 1978 e 1986, mas foi preterido por Edinho, zagueiro improvisado, e Rodrigues Neto em 1978, bem como por Pedrinho, à época no Vasco, em 1982. Na década de 80, Wladimir fez 352 jogos e 21 gols, sendo figura de destaque nos títulos de 1982 e 1983.
Volante: Biro-Biro. Foi o jogador que mais vestiu a camisa do Corinthians na década de 80 com 459 jogos e 64 gols. No geral, fez 590 jogos e 75 gols. Fez 2 gols na decisão do Campeonato Paulista de 1982 jogando como falso ponta-esquerda. Além disso, Biro-Biro foi campeão em 1983 e também em 1988, na condição de veterano num grupo recheado de jovens como Ronaldo, Marcelo, Viola, Márcio e Marcos Roberto. Fez vários gols nos rivais, Palmeiras, São Paulo e Santos, muitos decisivos. É exemplo da raça e da garra corinthiana, que luta até o fim. Biro-Biro é Deus. Ponto Final.
Meia-Armador: Zenon. O maestro do time. Foram 304 jogos, 60 gols e 49 assistências, números levantados pelo Jornalista Tomás Rosolino, entre 1981-1986. Campeão Paulista em 1982 e 1983, Zenon era o homem da armação do time. Fez assistências decisivas para Biro-Biro na final de 1982 e para Sócrates na final de 1983. Fez 2 assistências para Biro-Biro e Edson, na goleada de 4×1 contra o Flamengo pelo Brasileiro de 1984. Zenon representou o Corinthians que tinha raça, determinação e vontade de vencer, mas que também tinha técnica para jogar. O ponto de equilíbrio técnico do time da democracia. O homem do controle de jogo. Craque de bola.
Meia-direita: Sócrates. No geral, Sócrates fez 172 gols em 298 jogos entre 1978-1984. Na década de 80, Sócrates fez 170 jogos, 105 gols e 59 assistências, números levantados pelo jornalista Tomás Rosolino. Foi o maior artilheiro e melhor jogador do Corinthians na década de 80. Bicampeão Paulista de 1982 e 1983. Em 1982, Sócrates fez o gol da vitória do Corinthians contra o São Paulo, no jogo de ida da decisão contra o São Paulo. Em 1983, Sócrates fez o gol de empate no jogo de ida da semifinal contra o Palmeiras. No jogo de volta, Sócrates fez o gol da vitória do Corinthians por 1×0. No jogo de ida contra o São Paulo, Sócrates novamente decidiu. E no jogo de volta, Sócrates fez o gol do título após assistência magistral de Zenon. Líder da Democracia Corinthiana, Sócrates foi muito mais que um craque em campo. Foi um exemplo de luta pela democracia no país ao defender o voto direto. Revolucionário dentro e fora do campo. Gênio.
Meia-esquerda: Neto. O craque do time campeão brasileiro de 1990. Fez 28 gols em 77 jogos na década de 80. Dos 6 gols decisivos do Corinthians nas fases de Quartas de Final, Semifinal e Final, Neto participou de todos. Fez os 2 gols da virada histórica contra o Atlético-MG, no jogo de ida das Quartas de Final, no Pacaembu. Bateu o escanteio que originou o gol de empate e fez o gol da vitória corinthiana, na semifinal, contra o Bahia, no Pacaembu. Fez a assistência para Wilson Mano marcar o gol da vitória no jogo de ida da final contra o São Paulo. Iniciou a jogada que resultou no gol de Tupãzinho no jogo de volta da final do Brasileiro. E nem assim foi eleito para o time da Bola de Prata da Revista Placar. Perdeu a Bola de Prata para Luiz Fernando Flores e Mazinho. De qualquer forma, nada tira o brilho de Neto, o verdadeiro craque do Campeonato Brasileiro de 1990, o maior responsável por fazer a roda girar na história do Corinthians. Eu te amo, José Ferreira Neto.
Centroavante: Casagrande. Fez 222 jogos e 93 gols na década de 80. No geral, fez 256 gols e 103 gols. Estava no lugar certo e na hora certa. O experiente centroavante Mário se contundiu gravemente e, dessa forma, surgiu a oportunidade de Casagrande estrear em 03.02.1982, na Taça Prata, fazendo 4 gols contra o Guará do Distrito Federal, no Pacaembu. Nunca mais saiu do time. Artilheiro do Campeonato Paulista de 1982, com 28 gols, bicampeão paulista em 1982-1983, Casagrande foi um dos símbolos da Democracia Corinthiana. Jogou a Copa de 1986 como jogador do Corinthians.
Ponta-esquerda: João Paulo. Titular absoluto do Corinthians entre 1984-1988, primeiro como ponta-esquerda, depois como meia, João Paulo, que é ídolo no Santos, fez 258 jogos, 36 gols e 46 assistências, números levantados pelo jornalista Tomás Rosolino, entre 1984-1989. Campeão Paulista, em 1988, num time recheado de garotos, João Paulo foi peça fundamental naquela conquista jogando mais como meia, já que o ponta-esquerda era Paulinho Carioca, sete anos mais jovem.
Ronaldo, Édson, Marcelo, Daniel González e Wladimir.
Biro-Biro, Zenon, Sócrates e Neto.
Casagrande e João Paulo.
Abaixo os números do Corinthians na década de 80:
Jogos: 692
Vitórias: 305 (44,08%)
Empates: 237 (34,24%)
Derrotas: 150 (21,68%)
Gols pró: 932 (1,34 por jogo)
Gols contra: 603 (0,87 por jogo)
Saldo: 329
Apenas para efeitos de comparação, seguem abaixo os números do Corinthians nas décadas de 50, 60 e 70:
Década de 50
Jogos: 639
Vitórias: 397 (62,13%)
Empates: 123 (19,25%)
Derrotas: 119 (18,62%)
Gols pró: 1561 (2,44 por jogo)
Gols contra: 893 (1,39 por jogo)
Saldo de gols: 668
Década de 60
Jogos: 599
Vitórias: 312 (52,09%)
Empates: 142 (23,70%)
Derrotas: 145 (24,21%)
Gols pró: 1165 (1,94 por jogo)
Gols contra: 731 (1,22 por jogo)
Saldo de gols: 434
Década de 70
Jogos: 702
Vitórias: 329 (46,87%)
Empates: 221 (31,48%)
Derrotas: 152 (21,65%)
Gols pró: 929 (1,32 por jogo)
Gols contra: 573 (0,81 por jogo)
Saldo de gols: 356
Os números foram pesquisados no Almanaque do Timão de Celso Unzelte.
No próximo texto, a Seleção da Década de 90. A década de Marcelo Pereira Surcin
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