Relembre o ‘milagre’ do goleiro corinthiano pelos relatos de quem esteve em campo
23 de maio de 2012. Estádio do Pacaembu. 35974 pagantes assistem atônitos ao Corinthians duelar contra o Vasco pelo segundo jogo das quartas-de-final da Libertadores da América. Aos 18 minutos da etapa complementar, Diego Souza intercepta lançamento de Alessandro e corre em direção ao gol de Cássio, sozinho.
Após o 0x0 na partida de ida e outro 0x0 até ali, o gol poderia representar a eliminação do Timão. Um filme passou na cabeça dos Corinthians que, por oito segundos, observaram Diego Souza correr por boa parte do gramado do Pacaembu. Porém, com a pontinha dos dedos e o corpo todo esticado, Cássio consegue tocar a bola para fora e, como diz o próprio hino do clube, ‘salvar o Corinthians’.
Para comemorar os oito anos da defesa histórica, a Central do Timão preparou um especial com os diferentes olhares dos personagens da narrativa que viram tudo de perto.
Após uma cobrança de falta de Alex, a bola volta para a intermediária do ataque corinthiano. O lateral-direito Alessandro tenta fazer um lançamento. É aí que Diego Souza intercepta a bola. Naquele momento, o experiente jogador do Corinthians revela que o mundo parou à sua frente.
“Não sei quantos segundos levou desde eu chutar e bater nas costas do Diego Souza até a defesa do Cássio, mas parece que foi uma eternidade. Parecia que eu estava preso no campo, amarrado, sem sair do lugar. A gente tentava diminuir a distância e não conseguia, então tinha que rezar, esperar. O estádio ficou em silêncio. O torcedor ficou tenso, preocupado sobre como a equipe se comportaria. Eu também, porque um lance individual como esse te faz errar tudo. Tive que me concentrar novamente para seguir na partida, mas foi pesado”, revelou o ex-jogador em entrevista ao canal Resenha Delas.
Alessandro revela que a tensão não passou, mesmo após o jogo, principalmente pela ‘culpa’ por conta do lance.
“Rolou uma tensão, eu era o único que não falava nada. No vestiário eu fiquei mudo. Não consegui dormir, em choque. Toda hora pensando? Você liga a TV, estão falando da conquista e lembrando do lance”, confessou o ex-capitão do Corinthians.
Apesar de não participar ativamente do lance, o goleiro do outro lado, Fernando Prass, acompanhou tudo de camarote. Em entrevista recente, Prass detalha um pouco mais do momento.
“Eu vi, até porque a jogada começou comigo. Cobraram uma falta pra área, eu tirei de soco e acho que caiu no pé do Alessandro a bola. Ele foi chutar e explodiu no Diego Souza. Aí, ele saiu sozinho com a bola e parece que todo mundo parou. Eu continuei caminhando e todo mundo ficou parado, parece que congelou naquele momento. O campo inteiro parece que parou para acompanhar o lance, porque não tinha o que fazer. Tenho tudo muito claro na minha cabeça”, revelou o goleiro do Vasco à época.
Um dos protagonistas do lance icônico, Diego Souza teve a carreira marcada pelo ‘erro’. Em piadas veiculadas na internet, os torcedores chegam a entregar a faixa de campeão ao jogador, em alusão à sua ‘participação’ no título corinthiano. Porém, o atleta já se revelou bem seguro com o que fez na jogada.
“Eu pego uma bola que eu proporcionei. Eu pressiono (o Alessandro), eu ganho. Eu saio correndo 70 metros e venho pensando no que vou fazer: vou tirar do goleiro. Pode ver que eu diminuo a velocidade. Tirei, mas ele foi feliz”, disse Diego em entrevista ao Esporte Espetacular, da TV Globo.
Herói ou santo; o torcedor pode chamar do que quiser. Fato é que Cássio protagonizou uma das maiores defesas da história do Corinthians. Logo após o jogo, o goleiro já comentou o feito.
“Eu fiquei bem tranquilo no lance. Esperei ele definir o canto para conseguir defender. Foi um lance que ajudou muito a equipe”, disse em entrevista à TV Globo.
Em entrevista ao Uol, em 2018, poucos antes de ‘reencontrar’ Diego pelo Paulistão, Cássio explica mais sobre a defesa.
“Eu esperei e olhei para os dois lados para ver se estava bem posicionado. Esperei, esperei e consegui usar toda a minha explosão, minha altura para tirar com a ponta dos dedos a bola do gol”, declarou Cássio.
De acordo com o atleta, um gol àquela altura em uma partida tão difícil, poderia culminar na eliminação do time.
“Parecia um gol, a torcida vibrou bastante quando eu defendi. Foi num momento crucial, se tivesse tomado o gol naquele momento, de repente a gente não teria força para reverter o resultado. A gente não ia alcançar o sonho de ganhar a Libertadores”, disse Cássio na mesma entrevista ao Uol, em 2018.
Ao jornal O Globo, Cássio expressou o que a defesa no dia 23 de maio de 2012 representa para sua carreira.
“No futuro, quando falarem de Cássio, vão lembrar dessa defesa”, declarou o goleiro.
Estamos no futuro e falando dessa defesa. Parece que o Cássio acertou em cheio.
Por Gabriel Gonçalves / Redação da Central do Timão
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