Difícil explicar com palavras o que foi aquela semana que antecedeu a final da Libertadores com o Boca Juniors no Pacaembu em 2012. A cidade de São Paulo se vestiu de preto e branco, bandeiras e camisas faziam parte da paisagem, não se falava em outra coisa. Os “antis” demonstravam flagrante desespero. Era uma força descomunal da Fiel que contagiava até aqueles que não ligavam muito para futebol.
O titulo invicto veio no Dia da Independência americana. O Corinthians fez história e ganhou com maestria. Faltaria agora apenas uma figurinha para complementar o álbum: o campeonato mundial oficial da FIFA a ser disputado em dezembro no Japão. A possibilidade de ver o time do povo no seu lugar de direito: O panteão dos maiores do mundo.
Imbuídos desse espírito apareceu uma vontade incontrolável de cruzar os continentes e acompanhar o Corinthians até o final do mundo. Eram incontáveis as tardes de domingo que estive ao seu lado no Pacaembu e agora queria estar junto em Yokohama. Mas a realidade era dura.
A verdade é que não tinha dinheiro. Havia investido tudo num negócio e não possuía a quantia necessária para realizar essa custosa viagem. Nessa hora, minha esposa, que nem é tão fanática quanto eu, teve uma importância decisiva. Disse que fôssemos mesmo assim, que pagaríamos lá na frente. Parcelei em 24 prestações a la “Casas Bahia”. A Arena Corinthians seria inaugurada e eu ainda estaria no carnê.
Depois desse arroubo, tivemos que providenciar a documentação de viagem. Uma série de exigências burocráticas do consulado Japonês. Tinha feito muitas viagens pelo mundo e não imaginava tamanha dificuldade. Afinal, estávamos indo ao Japão gastar o nosso dinheiro, deveríamos ser recebidos com o tapete vermelho e não com empecilhos.
O auge foi receber uma cartilha de comportamento. Um livrinho didático próprio da educação infantil. Um apanhado de regras do que podíamos e do que não podíamos fazer. Me senti ultrajado. Aquela era uma demonstração inequívoca de preconceito e de total desconhecimento das pessoas que iriam naquela viagem. Fiquei sem entender o motivo de tudo aquilo até os últimos dias no retorno ao Brasil.
O primeiro dado é que haviam sido concedidos 22 mil vistos turísticos a Brasileiros para o período do torneio. Isso se somava aos que já tinham visto de viagem, aos que não necessitavam de visto, a residentes no exterior e a Corinthianos residentes no Japão. Só a “Gaviões da Fiel Japão” tinha mais de sete mil sócios, mais os torcedores de outros grêmios, tudo isso somado aos amigos deles que também queriam estar presentes davam a real medida da multidão que iria se acumular.
As autoridades ficaram assustadas. Eram inéditos os números daquela invasão Corinthiana. Nunca antes presenciados nem lá nem em lugar nenhum. Seria o maior deslocamento intercontinental de pessoas em tempos de paz. E conhecendo o povo japonês durante os dias do mundial, ficou claro que não fariam nada sem três fatores: organização, estudo e planejamento. Que povo espetacular!
Nos relatos das reuniões dos envolvidos na organização, os torcedores do Corinthians tinham sido qualificados como uns bagunceiros e arruaceiros, pessoas sem modos, nem estudo. Que podiam causar grandes danos ao patrimônio e que podiam cometer vários delitos. Daí a necessidade daquela infame cartilha, de medidas restritivas e de policiamento auxiliar.
Na realidade ocorreu tudo o contrário. A torcida Corinthiana deu um show de simpatia, alegria, amor e educação. Natural que nós brasileiros temos nossa cultura e nossos costumes, somos expansivos, barulhentos e comunicativos, mas isso foi sinal de encantamento do povo japonês. Um povo doce e educado, que soube receber como nenhum outro os que lá estiveram para o Mundial de clubes.
Na minha excursão, a guia era uma japonesa filha de um budista que havia ido ao Brasil para implementação de atividades da religião e por esse motivo sabia falar português. Peço desculpas por não ter guardado o nome, mas era ininteligível para nós ocidentais. Foi ela que me confidenciou todos estes fatos e todas as realizações aqui descritas. Esses detalhes que são essenciais para entender o porquê das atitudes das autoridades japonesas.
Porém, no final da viagem, após o emocionante título do Mundial de Clubes da FIFA do Corinthians sobre o Chelsea, ela fez questão de fazer um discurso despedida. Naquelas palavras tocantes relatou que depois de tantos treinamentos e de tantas recomendações achou que nossa torcida era composta de selvagens. Mas que naqueles maravilhosos dias de convivência pode compreender e conhecer melhor nosso povo. Que nunca tinha visto gente tão respeitosa, divertida, alegre, educada, humana e amorosa. E terminou dizendo que estava de idade, mas como última viagem gostaria de ir ao Brasil ver um jogo do Corinthians e entender esse amor incondicional e essa devoção inequívoca da torcida Fiel. Que lição.
Saudações Alvinegras e Saravá São Jorge Fiel!
Vai Corinthians!
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Que textão maravilhoso , com tanta riqueza de detalhes que me vi no Japão por meio dele, fantástico, Corinthinas meu amor♡
Lindo texto amigo fiél! #VaiCorinthians
Que lindo relato de sua viagem e incontestável felicidade! Parabéns RafaGil👏👏👏👏
Texto lindo e emocionando do Rafa mais uma vez parabéns mano. E Vai Corinthians!!
Textão. Espetacular!!!
Nossa me emocionei lendo. Que viagem fantástica e ainda voltar campeão do mundo. Foi sensacional!!!