Ela é como filho, só quem é mãe/pai pode falar mal, portanto me sinto no direito de tomá-la emprestada e contar seu único defeito: por que não tens o nome de Corinthians? Por mais de cem anos ela foi a nossa casa, pois nascemos em um bairro, crescemos com o povo, já tivemos uma “Fazendinha” e já nos apropriamos de seu estádio para que o gramado de uma cor não muito agradável fosse nosso palco de exibições históricas, de muitas lágrimas e de “causos” que nem o melhor escritor seria capaz de pensar.
Ela se tornou pequena para a quantidade de loucos que se espalharam pelos outros cantos do país, também ficou pequena para a explosão de alegria ao sermos libertados e ganharmos o mundo, quem diria.
Mas ela ainda reservava a maior surpresa, foi escolhida para abrir uma Copa do Mundo e eis que o time que ousou fazer de todos os seus cantos a sua casa, ganharia finalmente um lar para chamar de seu. E ganhou. Contra tudo e contra todos, na zona mais popular e populosa um gigante da arquitetura cresceu.
Aqueles que não entendem chamaram de impressora, de entulho de um outro estádio e de nomes pejorativos achando que de alguma forma nos deixariam chateados. Coitados!
Nós, que sempre tivemos na cidade a nossa casa, agora podemos ter um local único para chamar de nosso, para finalmente falar: Bem vindos ao nosso Lar!
De carro por ruas novas, de metrô ou trem que levam o nosso nome ou de ônibus conseguimos chegar até ela. Quis que em uma sexta-feira radiante eu pudesse conhecer o que poucos no mundo conhecem: a sua alma.
Em dias de jogos ela ferve, ela pulsa, mas são vários corações vibrando ao mesmo tempo em um ritmo alucinado que tomam um pouco dela para si. Eu queria mais, eu queria ouvir o seu silêncio. Eu queria que suas paredes contassem o que ninguém saberia falar. Eu queria que de alguma forma o seu silêncio conversasse comigo.
Aquele sol nada comum fazia com que seu escudo suntuoso brilhasse como nunca, até a Natureza da selva de pedras tira um tempo para reverenciá-la. Do mármore ao chão batido das arquibancadas, tudo tem história. Tudo fala. Tudo pulsa.
Éramos um grupo, mas era como se não existisse mais ninguém além de nós duas: eu e a Arena, a Arena e eu. Ela me mostrou que os tempos mudaram e que não foi feita somente para o futebol, ela tem espaços para esportes não tão comuns, como também espaços para receber empresas com seus grandes eventos. Também me mostrou que com a evolução do futebol a nossa torcida não estava formada somente de operários, mas também de pessoas que colocam o futebol como grande evento e precisam de um lugar para tal.
Sendo para todos, ela me mostrou que pode receber aquele que quer pular e cantar durante os 90 minutos de jogo, como também o que quer conforto e comodidade, mas todos com uma única certeza: que ali é o nosso lar.
Ela me levou para uma visita ao passado na sala de imprensa, parece loucura, mas sabia que a partir dali as paredes falam? Elas contam histórias que eu não vivi, me mostram o quão certo meu avô estava em ter escolhido aquele time para amar. Com as conversas de suas paredes a caminho do seu canto sagrado, pude observar que não escolhemos amar esse time, somos escolhidos. Um pai que não pertencia aquele bando, mas que estendia a mão direita para seu filho que usava uma camisa maior que ele e que não conseguia se conter de alegria e ao mesmo tempo dava seu braço esquerdo para que seu pai pudesse usar de apoio para andar e continuar o passeio passando a mão nas paredes que falam e com os olhos marejados.
Era como se ele respondesse com suas lágrimas: “eu sei, eu sei de todas essas histórias e hoje eu faço parte de você”. Três gerações na minha frente e eu só conseguia pensar na maior corinthiana que conheço e que de alguma forma meu avô também estava ali presente.
Então percebi que ele estava sim, na verdade ao entrar no vestiário e ver o nosso São Jorge ao centro, as paredes me contaram que elas carregam não somente histórias do time, mas também as histórias de todo e qualquer coração que já pulsou ao ritmo de um “Vai Corinthians”. Ouvi não mais somente as paredes, mas também gols que marcaram a nossa caminhada e mais causos que fazem aquele canto tão especial. Relatos que marcaram outras vidas, que naquele momento senti como se também fossem um pouco meus.
A poucos segundos de subir o túnel que nos levaria ao solo sagrado, um turbilhão de emoções tomava conta de mim e ah querido Julio de Oliveira, como eu queria estar segurando em suas mãos que aos 90 anos ainda agarravam o rádio de pilha para ouvir o seu grande amor. Como eu queria que o senhor pudesse entrar nesse campo comigo e mesmo assim eu entendi um pouco melhor porque esse time foi a sua última alegria na vida. Mas será que o senhor não estava ali comigo? Será que quando minha mãe olhou para o gramado com as mãos levantadas aos céus o senhor não estendeu as suas e disse: “estou com vocês minhas pequenas corinthianas”.
E naquele gramado que a cor ainda não agrada muito o passeio terminava, com a nossa taça da libertação e a reunião de todo o grupo. Ali não tinha mais paredes para conversarem comigo, mas havia um palco para me mostrar que hoje somos do mundo, que somos gigantes, que somos para todos e que sempre teremos alguma nova peça para ser colocada, um novo coração para bater, um novo grito da arquibancada, um silêncio que por minutos foi ensurdecedor.
Nessa cidade, na Zona Leste, temos um Lar. A nossa casa, a nossa Arena Corinthians.
O Tour do Povo acontece todos os dias e tem preços super acessíveis. Conta com monitores que respiram o Corinthians e respeitam cada ser que ali passa. Torcedores ou não, de São Paulo ou de Nárnia, ali é a Casa do Povo, a casa de todos, a nossa casa!
Se você quer entender um pouco melhor o que descrevi e mostrei em fotos, é só acessar http://www.arenacorinthians.com.br/tour/ e garantir a sua vaga. Me contem depois o que sentiram e o que as paredes te contaram, acredito que novas histórias nunca serão demais.
Obrigada, Mari. pelo convite mais que especial, obrigada Butti e Marcelo por serem os monitores mais legais do mundo e conseguirem não apenas passar histórias, mas passar a emoção de fazer parte. Eu senti o que vocês sentem e tenho certeza que vocês também sentiram o que eu senti.
Obrigada vô onde quer que o senhor esteja e obrigada rainha mãe por ter me apresentado os dois maiores amores da minha vida: você e o Timão!
Vai Corinthians!
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