Francisco Rebolo vestiu o manto alvinegro na época da conquista do Paulista de 1922
O ranking de escudos mais bonitos do futebol brasileiro inclui o nome do Corinthians. Em 2017, foi realizada uma pesquisa com estrangeiros (sem clubismo) que dentre 53 escudos, elegeram o do Timão em primeiro lugar. O mérito dessa conquista, muito se deve a um homem que completaria hoje seus 118 anos.
Francisco Rebolo Gonsalez nasceu no dia 22 de agosto de 1902, na cidade de São Paulo. Era filho de pai e mãe espanhóis. Foi um grande pintor, artista plástico e futebolista hispano-brasileiro. Sua vida permeou intensamente entre duas trajetórias. Ambas deixaram e continuarão a deixar um legado ao longo dos anos.
Desde a infância, Rebolo era amante das artes. Começou como ajudante de pintor, antes dos 10 anos de idade, fazendo cuidadosos adornos nas paredes de casarões e salões do centro paulistano, principalmente em bairros como Mooca, Brás e Barra Funda. O primeiro emprego como pintor foi em 1915, como aprendiz de decorador.
Seu talento não se restringia somente a arte, ele também tinha dom para o esporte. Começou a jogar na adolescência, aos 14 anos de idade, entre os reservas do Argentinos, equipe de Várzea de São Paulo. Em 1917, iniciou a carreira como jogador semi-profissional na Associação Atlética São Bento.
Quatro anos depois, a paixão pela arte o levou ao seu time do coração, o Sport Club Corinthians Paulista. Ainda jogando no São Bento, ele foi convidado por Neco (primeiro ídolo corinthiano) para pintar uma das paredes do Parque São Jorge. Neco, insatisfeito com o fato do artista ganhar dinheiro do Corinthians sendo jogador do São Bento, o convidou também a fazer parte do elenco alvinegro.
Uma nova fase
Ele defendeu o Corinthians entre os anos de 1921 e 1927. Ainda que no segundo quadro (como se fosse um time reserva), viu o clube ser campeão paulista de 1922, no centenário da independência do Brasil. Posteriormente, chegou a jogar pelo Ypiranga, também da cidade de São Paulo.
A carreira como jogador se encerrou na década de 30, quando passou a dedicar-se integralmente à arte. Nesta mesma época, já começando a ser reconhecido como importante artista plástico, criou o escudo corinthiano, com os dois remos, a corda e a âncora em volta da parte circular, fazendo menção às importantes conquistas que o clube estava alcançando no remo e esportes náuticos.
Como artista, foi membro fundador do Grupo Santa Helena, nome do edifício que dividia as antigas praça da Sé e Clóvis, onde iniciou seu ateliê. Lá, reuniu artistas de diferentes estilos, mas que tinham a mesma paixão pela arte. Além de Rebolo, o grupo reunia pintores como Fulvio Pennacchi, Aldo Bonadei, Humberto Rosa, Manuel Martins, Clóvis Graciano, Mario Zanini, Alfredo Volpi e Alfredo Rizzotti.
Francisco Rebolo era visto como um “artista proletário”, de obras com diferentes referências, do naturalismo ao modernismo. Também se enquadra ao conceito de artista “naif”, por não se basear em técnicas específicas, mas em uma linguagem pessoal e original de expressão. Um dos mais importantes paisagistas da pintura brasileira.
Em 1922, ele participou de um importante movimento artístico, conhecido como a Semana de Arte Moderna, ao lado de outros grandes artistas como Anita Malfati e Di Cavalcanti. Teve sua obra à mostra em diversas exposições importantes como a Bienal de São Paulo (1951 e 1953) e recebeu pequena medalha de ouro no Salão Paulista de Belas Artes em 1936. Em 1954, ganhou o prêmio de viagem à Europa no Salão. E foi assim, sob muitas conquistas e reconhecimentos que seguiu até o fim de sua vida.
O legado que ultrapassa gerações
Francisco Rebolo morreu no dia 10 de julho de 1980, vítima de infarto, em sua casa no bairro Morumbi, em São Paulo. Deixou três filhos e oito netos. Ironicamente, dois deles são palmeirenses. Já Lisbeth Rebollo é uma continuação do legado do pai. Professora de História da Arte na Universidade de São Paulo (USP) foi a primeira mulher da América Latina a alcançar o mais alto cargo voltado à arte no Brasil, como Diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e Presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte. O genro de Rebolo, Antônio, é presidente do “Instituto Rebolo”, em homenagem ao artista. O instituto nasceu há seis anos, para preservar as mais de três mil obras produzidas por Rebolo. Lígia Rocha, coordena as redes sociais do Instituto Rebolo. Sergio Rebollo, neto, ajuda a família a manter o acervo.
A vida e obra de Francisco Rebolo ainda deixa lembranças no Pacaembu. Lá, existe uma um salão nobre batizado com seu nome. A família ainda busca homenageá-lo por meio de um busto dentro do Parque São Jorge, ao lado de craques como Neco, Baltazar e Luizinho. O projeto está de pé, já liberado pelo clube. Para isto acontecer, devem ser vendidas 24 obras do artista, por 2.500 reais, cada uma.
Por Amanda Koiv | Redação Central do Timão
Os comentários estão fechados.
2019 @ Central do Timão - Todos os direitos reservados
É muito bom conhecer mais sobre a história do Coringão! Excelente conteúdo, parabéns!!!
Rebolo era um gênio. Esse resgate do passado é fundamental para ir contando a história do Corinthians e corinthianos para os mais novos. Parabéns pela preocupação com nossa história.
Texto maravilhoso
Parabéns pela matéria! Sem palavras! ??️??️??️???????????????
Se não for o mais bonito, é uns dele.???
A matéria é completa e enriquece a história do Corinthians. O símbolo do Timão é uma verdadeira obra de arte, criado por um artista renomado.