A gestão Augusto Melo teve início em janeiro, e desde então seu mandato vem sendo marcado por instabilidade política e muitas trocas de comando nas diretorias e empresas prestadoras de serviço. E uma das áreas que mais vem sofrendo com essa situação é a segurança, conforme mostrou reportagem de Tiago Salazar, da Gazeta Esportiva, publicada neste sábado, 26.
De acordo com a apuração, o Corinthians já contou com os serviços de nada menos que 14 empresas de segurança patrimonial, de vigilância ou semelhantes, com despesas que já superam R$ 10 milhões em sua totalidade. No entanto, um detalhe preocupa: destas, apenas três estão regularizadas pela Polícia Federal e aptas a realizar os serviços que prestaram, ou ainda prestam, ao clube.
Para piorar, das 11 empresas consideradas não-regulares, cinco sequer foram reconhecidas pela plataforma de controle da PF. Pode-se afirmar, portanto, que pelo menos seis prestadoras de serviço de segurança atuaram no Corinthians estando clandestinas perante a lei. Tal fato tem gerado preocupações nos bastidores do Parque São Jorge para as implicações que essa prática pode causar ao clube.
Um exemplo de implicação possível é a interdição do local (ou locais) onde alguma empresa irregular esteja prestando serviços de segurança ao Corinthians. Em tese, isso poderia ocorrer em qualquer equipamento do clube, da sede à Neo Química Arena, e a qualquer momento, inclusive em dias de jogos, o que geraria considerável transtorno e desgaste à imagem do Alvinegro.
Trocas polêmicas
Duas empresas chamam atenção nesse grupo, por terem estabelecido um vínculo fixo com o Corinthians: a Verssat, a Workserv e a Kiara. Há pontos polêmicos envolvendo o relacionamento do clube com todas as três, a começar pela primeira, a Verssat, que já prestava serviços no Timão antes da chegada de Augusto Melo à presidência – e continuou após sua posse, mas deixando de receber do clube por isso.
A situação durou cinco meses, quando o clube optou por rescindir com a empresa, e ainda assim não a pagou. O caso foi judicializado, e a dívida já chega a mais de R$ 3 milhões.
Ainda durante a vigência do contrato com a Verssat, o clube buscou os serviços da Workserv, ao custo mensal de cerca de R$ 350 mil – praticamente o dobro do que era cobrado à outra empresa. A nova empresa de segurança causou atritos por, de acordo com o dono da Verssat, Anderson Dantas, assediar seus funcionários durante a transição dos trabalhos. E as polêmicas não pararam por aí.
Isso pois a contratação da empresa não seguiu os trâmites adequados – em momento algum Corinthians e Workserv assinaram um contrato de prestação de serviços, com a empresa recebendo apenas através da emissão de notas fiscais. Além disso, um episódio envolvendo a Polícia Federal em 26 de junho acabou por encerrar a passagem da empresa no clube.
Na data em questão, a PF foi à sede do Corinthians para fiscalizar a Workserv e apurar uma denúncia de que a mesma estava fazendo a segurança patrimonial do clube, trabalho que a mesma não tinha autorização para cumprir. Após a visita, o Alvinegro publicou nota afirmando que a situação estava regular, mas hoje sabe-se que, na verdade, a Workserv foi flagrada atuando de maneira clandestina, em atividade diferente da estabelecida em seu CNAE.
O clube foi orientado pela Polícia Federal a encerrar seu vínculo com a empresa, o que ocorreu no dia seguinte. Pouco mais de três meses depois, em 7 de outubro, as partes assinaram um termo de distrato, mesmo sem ter assinado qualquer contrato anteriormente. Ao todo, o Corinthians gastou R$ 2,1 milhões com a Workser, contratando em seu lugar a empresa Kiara – mas não igualmente sem gerar controvérsias.
Isso pois, embora Corinthians e Kiara tenham firmado um contrato de prestação de serviços, há indícios de que a contratação não tenha seguido os termos do estatuto do clube. Explica-se: o documento exige que o clube busque ao menos três orçamentos para contratar uma empresa, e a escolha da empresa ocorreu em 27 de junho, exatamente o mesmo dia em que a mesma enviou seu orçamento. Os outros dois da suposta concorrência foram recebidos apenas em 2 e 15 de julho, e o contrato, assinado somente em 2 de outubro, com validade retroativa.
Além disso, embora o objeto do contrato determine que a Kiara realize, entre outros, atividade de segurança pessoal, apenas em 25 de setembro a empresa foi autorizada a fazê-lo legalmente. Ou seja, é possível inferir que durante mais de três meses, a empresa também atuou de maneira irregular no clube, assim como ocorreu com sua antecessora Workserv.
Por fim, mas não menos grave, está o fato de nenhum dos 24 profissionais listados pela empresa para prestar serviços ao clube estarem regularizados como seguranças junto à PF, portanto, não poderiam exercer a função prometida pela Kiara.
Os custos com a empresa chegam a R$ 358 mil mensais, e o contrato prevê vínculo com o clube até junho de 2026, tendo sido assinado sem o aval do compliance do clube, que listou seis red flags, como a ausência de funcionários regulares, o baixo capital social da empresa, a sede em local residencial. Chama a atenção que o pedido de análise do órgão foi feito pelo diretor administrativo do Corinthians Marcelo Mariano, através de seu e-mail pessoal – e não do e-mail corporativo do clube, cujo conteúdo é controlado pelo servidor.
Conselho Deliberativo investiga casos
A quantidade de idas e vindas do Corinthians em relação às empresas de seguranças e as diversas polêmicas em torno da contratação e dispensa das mesmas acendeu um alerta nos órgãos de fiscalização do clube. O assunto já foi abordado em reunião do Conselho Deliberativo, cujo presidente Romeu Tuma Júnior foi ouvido pela Gazeta.
Embora o dirigente não tenha se manifestado concretamente sobre as situações citadas na matéria, ele se posicionou em nota lamentando o vazamento das informações e confirmou que o CD está tratando do assunto internamente:
“É lamentável que vazamentos e informações como essas que você me traz, continuem ocorrendo sem que a atual gestão tome qualquer tipo de providência para que não ocorram mais. E é ainda mais lamentável o tipo de informação em si, pois além de bastante graves, deveriam ser confidenciais, como estão sendo tratadas no âmbito do Conselho Deliberativo, tecnicamente e conforme nosso estatuto.”
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