O início:
Nasci no final dos anos 70, em Fortaleza, capital do meu Ceará. No início dos anos 80, era um garoto normal, como a maioria de uma época onde não existia internet e nem jogos eletrônicos. O maior passatempo era correr atrás de bola e brincar de polícia e ladrão (naquela época ninguém queria ser o ladrão). Neto de um delegado de polícia, tinha dois fascínios quando criança: ser policial ou jogador de futebol. A primeira opção, logo desencorajada pela família, já a segunda, bem, digamos que não deu…
Como nasceu essa paixão?
Como nasceu essa paixão
Era muito comum (acho que quase obrigação), os nordestinos torcerem por três times: um de seu estado (aqui Ceará, Fortaleza ou Ferroviário), outro do Rio e mais um de São Paulo. A explicação para isso, é que jogos do eixo Rio/São Paulo eram transmitidos ao vivo para todo Nordeste, já os do próprio estado, só no rádio ou nas arquibancadas.
Com isso, meu pai e meu avô torciam para Flamengo e Corinthians (muito mais Flamengo), e acabei influenciado por eles. Ganhei camisas do Flamengo, meu nome seria Zico, minha mãe não aceitou (meu filho não vai ter nome de passarinho), e fui aos poucos ficando apaixonado por futebol. Meu pai conta que, já de muito pequeno, eu grudava na TV para assistir toda e qualquer partida de futebol que estivesse passando.
Sim, mas e a paixão pelo Corinthians? Pois é, imaginem vocês, como não torcer Flamengo com tanta influência né? E estou falando do Flamengo de Zico, Junior, Renato Gaúcho, Bebeto… Mas, em 1990, agora com 12 anos, acabei me apaixonando por um time que não era tão bom, mas que transpirava sangue para vencer as partidas. De um gordo genial à um goleiro maluco, me encantei com tanta raça, com tanta entrega. Se lá na frente o camisa 10 Neto enchia os olhos com seus golaços e sua comemoração tradicional (tenho cicatrizes nos joelhos de tentar imitar), lá atrás, um goleiro maluco, que provocava os adversários, saía jogando com os pés quando precisava e “comia o juízo” da defesa quando se fazia necessário. Pronto, esse time ganhou o BR90, e ali nascia de verdade, mais um Corinthiano, maloqueiro, sofredor, graças a Deus…
Como torcer de tão longe?
Imagine você, com aquela paixão toda, sem TV a cabo e sem internet, torcendo para um time de outro estado. Era complicado. A primeira torcida nem era pelo gol, era bem antes do dia do jogo, torcia para saber a programação da TV pra ver se o Timão seria transmitido, e quase nunca era. O que eu fazia? Grudava ouvido no radinho para ouvir jogos do Ceará, porque ali sempre passavam a informação dos gols. Ainda lembro bem, a voz de Paulo Rodrigues: “Pacaembu, Viola de cabeça, Corinthians 1, “adversário qualquer” 0. À noite, cambaleando de sono, esperava os gols do Fantástico, sempre com a voz marcante de Léo Batista. Era o mais próximo que conseguia chegar do “Meu Timão”.
O primeiro encontro:
O primeiro encontro
1995, a notícia que há tantos anos esperava, o Ceará enfrentaria o Corinthians no Castelão pela taça CONMEBOL. A cidade inteira só falava do jogo, era a primeira competição internacional que o Ceará disputava (havia sido vice campeão da Copa do Brasil de 1994), e o adversário foi exatamente o Corinthians. Por ser cearense, e frequentar estádios com meu pai, torcia pelo Ceará (sim, eu era um misto). O Vozão era minha segunda paixão, isso porque na minha cabeça, Ceará e Corinthians eram de planetas diferentes, jogavam esportes diferentes, e jamais se encontrariam. Mas, aí o primeiro choque de realidade, foi quando o coração me avisou que “AQUI É CORINTHIANS”, e eu só pensava em ver Marcelinho Carioca de perto. Fui pro estádio, mas como adolescente, não poderia ir só, então imagina, estava eu, no meio da torcida do Ceará, torcendo pelo Corinthians, reprimindo minhas emoções, isso foi muito louco. Falta para o Corinthians próximo da área, o silêncio no estádio foi tão grande, que mesmo com mais de 50, 60 mil pessoas lá dentro, deu pra ouvir o barulho da bola no travessão.
O jogo terminou 1 x 1.
O Mundial de 2000:
Por questões de interesses, todo mundo sabe, a Rede Globo ficou fora e não transmitiu o Mundial de clubes da FIFA. Essa missão ficou a cargo da TV Bandeirantes, que misteriosamente, perdia o sinal próximo aos horários dos jogos. Lá ia eu pro radinho de novo. Consegui ver Corinthians x Real Madrid, simplesmente épico. Na final, um amigo vascaíno (também fanático), me convidou para ir ver na casa dele. Aposta feita, convite aceito e lá vamos nós. Eis que, na metade do 2° tempo, sumiu o sinal da TV novamente. O desespero era grande para encontrar um rádio de pilha. Dois marmanjos, entre gelas e petiscos, quase grudados no radinho para ouvir as cobranças de pênaltis. Já ouviu jogo pelo rádio? É mais ou menos como ler um livro, só que com emoção.
O maior cronista esportivo de rádio do estado, o Gomes Farias, tinha um jeito diferente. Quando a bola entrava, ao invés de gol, ele gritava “meteeeeeeu” (meteu esticado rsrsr). Quando Edmundo chutou pra fora, o Gomes Farias gritou “perdeu”, meu amigo escutou “meteu”, ficamos eu e ele pulando, eu estava certo, ele foi chorar depois, quando ouviu o hino do Corinthians.
A queda:
Pula essa vai…
Globalização:
Com o advento da internet e a popularização da TV a cabo, hoje fica mais fácil “viver essa paixão” de perto. Cresceu bastante o número de garotos que hoje torcem apenas para o Corinthians, e inclusive, já se veem torcedores do United, Barcelona, Real etc que sequer torcem pra times do Brasil.
Esse ano, no dia da Final do Paulistão, fui à feira livre no Domingo de manhã com a camisa do Corinthians. Eis que no meio da multidão, ouço um grito alto de “VAI CORINTHIANS!”. Do outro lado da rua, um senhor de cabelos brancos, camisa do Timão, tatuagem do Corinthians no braço. Ele sorria pra mim, enquadro dizia “é hoje”. Simultâneo à aquele grito, para nossa surpresa, ouvimos mais dois “VAI CORINTHIANS!” vindos de direções diferentes. Então eram só ali, QUATRO CORINTHIANOS que se manifestaram, a milhares de quilômetros de Itaquera, eu via que como eu, existem vários outros vivendo a mesma paixão.
Você, que é de São Paulo, quando ao Nordeste for, ou quando receber na sua capital algum Nordestino com a camisa do Corinthians, principalmente de tiver mais de 40 anos, não os trate como se fosse menos torcedor por causa da distância. Você não faz ideia do que ele passou para hoje poder gritar VAI CORINTHIANS!
Espero que tenham gostado da história, estamos juntos, torcemos juntos pelo Sport Clube Corinthians do Mundo.
Você me encontra também no Twitter: @mosqueteirosin1
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Como me identifiquei com seu texto, Flávio. Tbm sou nascido em Fortaleza. Cheguei à Brasília em 87, com 9 anos e já saí daí corinthiano. É inexplicável. Gomes Farias… Ouvi muito jogo com ele qdo criança. Realmente ninguém imagina o q nós torcedores de uma paixão distante tivemos q passar para acompanhar essa paixão. Texto maravilhoso. Grande abraço.
Fala Marcelino!
O Corinthians é uma coisa incrível.
Hoje está até fácil torcer.
Jogos ao vivo para o Brasil inteiro.
Títulos praticamente todos os anos.
Mas anos atrás, tinha que ter paixão e resiliência.
Forte abraço!
Vai Corinthians!
Totalmente identificada. Conheci o Corinthians através do rádio de pilha, no interior de Goiás, divisa com Mato Grosso. Sei tudo o q vc passou para poder gritar VAI CORINTHIANS!!! Parabéns!
Que bom que não estou sozinho nessa!
Na verdade nunca estive.
O Corinthians é uma nação.
Vai Corinthians!
Meu nobre amigo, e o mundial de 2012? e tantas libertadores no seu sofa? São muitas historias umas felizes e outras esplêndidas, pois nem na derrota torcer Corinthians é triste.
Heheheheh
O dia do Mundial foi louco demais.
Inesquecível!
Você descreveu exatamente o que imagino que se passa nos Estados mais distantes de SP. Lindo texto! Parabéns
Obrigado Rita!
Vai Corinthians!
Parabéns, bjs
Parabéns Flávio por sua história e sua superação! Isso é Corinthians meu amigo! texto sensacional, com muito amor envolvido!
Obrigado Polly!
Aqui eu realmente me encontro.
Vai Corinthians!
Admiro vcs fiéis que são de longe do Parque São Jorge, eu sou um previlegiado por ter nascido e morar perto do maior clube do mundo…