Médico e jornalista, saudoso Osmar de Oliveira permanece vivo na memória e no coração dos que conviveram ao seu lado e o acompanharam nas rádios e TVs brasileiras
Há vários nomes que podem ser citados quando o assunto é ser ídolo da torcida corinthiana. Desde ex-jogadores a pessoas que contribuíram para o desenvolvimento do clube, no que podemos chamar de “bastidores”. Osmar de Oliveira, no entanto, sagrou-se como ídolo não apenas por ser um dos maiores comentaristas de futebol no país, mas também por entrar para a história ao dedicar sua vida ajudando atletas de várias modalidades do esporte.
Osmar Pereira Soares de Oliveira, mais conhecido como Doutor Osmar, nasceu no dia 20 de junho de 1943, em Sorocaba, município do interior paulista.
A vida de Osmar era dividida entre duas paixões: a medicina e o jornalismo. Aos 26 anos, fez sua primeira graduação, na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e se especializou na medicina esportiva, atuando como médico do Corinthians (1969 a 1977) do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e da seleção brasileira de basquete.
Paralelamente, fez a sua segunda graduação, na Cásper Libero, também em São Paulo. Começou no rádio, mas como jornalista atuou em todas as grandes emissoras de TV da cidade – Rede Globo, Record, SBT e Band – como narrador e comentarista.
Corinthiano fanático, doutor Osmar não escondia o amor genuíno pelo alvinegro. Por meio de frases marcantes, comentários incisivos e muitas vezes épicos, acabou se tornando um dos maiores representantes do clube na imprensa brasileira.
“Corinthiano não nasce, ele é concebido”, dizia.
Ele conseguia, ao mesmo tempo em que era torcedor fanático pelo Timão, ser referência no ofício do jornalismo esportivo, demonstrando coerência e razoabilidade em suas análises.
Como narrador, comandou a transmissão da vitória histórica do basquete masculino nos jogos pan-americanos de Indianápolis, em 1987, ano em que o Brasil conquistou o ouro em cima dos Estados Unidos. Ao todo, participou da cobertura de nove Copas do Mundo, oito Olimpíadas e seis Jogos Pan-Americanos, além de vários campeonatos mundiais de diversas modalidades
Doutor Osmar teve três passagens pela rede Bandeirantes, na última permaneceu desde o ano de 2007, participando do programa “Jogo Aberto”, comandado por Renata Fan, e do “Terceiro Tempo”, de Milton Neves. Gostava de provocar os rivais, mas não disfarçava a indignação quando o Corinthians não ia bem.
Amigo de longas datas, Milton Neves afirma que Doutor Osmar é uma das melhores pessoas que ele já conheceu na vida. “Profissional dedicado e com amplo conhecimento em sua área de atuação”, disse o jornalista.
Parte da veneração que Doutor Osmar conquistou ao longo de sua vida, muito se deu por uma de suas características mais marcantes: a de torcedor apaixonado.
“Era craque como médico e muito coerente como analista esportivo. Agora, quando se tratava de Corinthians ele se transformava. Era mais um louco do Parque São Jorge. Sinto muita falta dele”, completou Milton.
Como médico, Dr. Osmar criou na década de 1980 o Instituto Osmar de Oliveira, uma clínica especializada em ortopedia, reabilitação e medicina esportiva, com unidades em Perdizes, zona oeste de São Paulo e em Itaquera, zona leste, onde fica também a “casa do povo”, o estádio do Corinthians.
Jamais negou um atendimento médico quando necessário, ainda que fosse nos corredores das emissoras por onde passou. Conquistou o carinho e a amizade de muitos profissionais que trabalharam ao seu lado e, sobretudo, a admiração da Fiel Torcida.
“O Doutor Osmar sempre foi um amigo leal. Quando cheguei para jogar no Corinthians, ele já não era mais o médico. De qualquer forma, deixou um legado importante no clube”, conta o craque Neto, ex-jogador do Corinthians e apresentador do programa Donos da Bola, da Band.
Neto conheceu melhor o Doutor Osmar quando parou de jogar e virou comentarista, primeiro na TV Record e depois na Band.
“Tivemos um convívio interessante principalmente no Jogo Aberto, em que dividimos o estúdio durante longos anos. Fizemos uma parceria e demos muitas risadas. Ele deixou saudades. Foi um cara extremamente leal. Amigo dos amigos”, completou.
Joaquim Grava, que deu nome ao Centro de Treinamento alvinegro, é até hoje uma espécie de discípulo de Doutor Osmar. Também foram grandes amigos e dividiram experiências.
Doutor Joaquim Grava conta que eles trabalharam juntos na Rua dos Ingleses, no bairro Bela Vista, no centro de São Paulo.
“Aprendi muito com ele. Ele me ensinava a trabalhar. Só consegue saber trabalhar com futebol aquele que já trabalha com futebol”, afirma o atual médico do Corinthians.
Doutor Joaquim relembrou ainda que o amigo, com quem teve uma relação de confiabilidade, foi um dos pioneiros na área da medicina a realizar no Brasil o antidoping, exame que previne o uso de substâncias ilícitas e trapaças na prática esportiva.
Perguntei a ele se Doutor Osmar era de fato um homem teimoso, como algumas pessoas o viam, com base em suas opiniões categóricas. Joaquim negou, com uma única exceção. Oito dias antes do falecimento de Doutor Osmar, ele lhe fez um pedido:
“Falei pra ele esperar a Copa pra operar e ele não quis. Se ele não tivesse operado, não teria ido embora” desabafou Doutor Joaquim Grava, com a voz embargada.
Doutor Osmar deixou uma marca na vida de muitas pessoas. Basílio, um dos grandes ídolos do Corinthians, também foi uma delas.
“Teve um jogo pelo Corinthians no Pacaembu que eu levei uma pancada muito forte na cabeça… a minha língua começou a enrolar” relembrou o ídolo.
Rapidamente chamaram o Doutor Osmar. Graças à sua habilidade médica, a vida do ídolo alvinegro foi salva. O episódio aconteceu no ano de 1975.
“É uma pessoa que faz falta para todos. Qualquer pessoa com quem você comente ou converse a respeito do Corinthians vai te confirmar isso”, completou Basílio.
No parque São Jorge, foi inaugurado em 2018 um centro de preparação e reabilitação de atletas, que leva o nome de Osmar de Oliveira (CEPROO – Centro de Preparação e Reabilitação Osmar de Oliveira). A prefeitura de São Paulo inaugurou ainda a praça Osmar de Oliveira, na Barra Funda.
Doutor Osmar morreu aos 71 anos, em 14 de julho de 2014, vítima de parada cardíaca. Ficou internado em São Paulo, na UTI do Hospital AC Camarco, desde o dia 13 de maio daquele ano, quando se submeteu à cirurgia para retirada de um tumor na próstata.
Três dias após sua morte, foi homenageado pelo Corinthians e sua torcida, em uma partida contra o Internacional, na Arena em Itaquera. Os jogadores entraram em campo com uma das frases de Osmar. Nas arquibancadas, a torcida levou dois bandeirões que faziam menção ao ídolo.
Deixa o irmão, a esposa, dois filhos e uma nação de mais de 30 milhões de fãs.
Por Amanda Koiv/Redação Central do Timão
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Grande matéria Amanda, parabéns pelo texto jornalístico impecável!
Sensacional!!! Parabéns pela matéria ??
Excelente a matéria.
Muito bom!
Linda homenagem ao Dr.Osmar.Parabéns