Carlos Cristiano esteve em Piracicaba a trabalho, e aproveitou para visitar Dalmir e “resgatar” seu tesouro
No último mês de abril, Dalmir, um torcedor do Corinthians, morador de Piracibada/SP, encontrou, no sótão de sua casa uma mala com dezenas de camisas e adereços históricos relacionados à história do Timão e da Gaviões da Fiel. Sem pistas sobre o verdadeiro dono da ‘relíquia’, ele fotografou e postou em grupos de corinthianos nas redes sociais, procurando o verdadeiro proprietário para entregar os objetos. Com ajuda dos amigos não foi difícil chegar a Carlos Cristiano, em São Bernardo do Campo/SP.
Recentemente eles se encontraram e Dalmir fez a entrega. Em contato com a redação da Central do Timão, Carlos Cristiano contou sobre sua emoção ao rever o tesouro que julgava perdido e exaltou a atitude honesta do novo amigo.
“Foi sem palavras o meu reencontro com o Dalmir. Acho que a gente já se conhecia de outras épocas, começamos a conversar sobre as loucuras que já fizemos pra ir ver os jogos do Corinthians, muitas vezes só com o dinheiro do ingresso. Pena que foi pouco o tempo que passamos juntos, porque estava corrido pra mim e pra ele, porque ele também estava no horário de trabalho. Mas foi gratificante saber que existem pessoas hoje como o Dalmir. Se fosse outra pessoa isso ia se esvair, eu não ia recuperar minhas camisas. Ele levou ao pé da letra o que é o LHP (Lealdade, Humildade, Procedimento) dos Gaviões. Ele foi leal, foi humilde e teve procedimento. Eu até dei uma camisa pra ele com esses dizeres, porque ele foi o verdadeiro Gavião“.
“Na hora que eu vi as camisas foi muito emocionante, não consegui conter as lágrimas, agradeci muito a atitude dele de me procurar sem nem ter pistas, na hora eu pus a camisa que meu pai sempre usava, pra tirar foto com ele. Quando acabar a pandemia vamos nos encontrar mais vezes, pra por em dia novas velhas histórias da nossa caminhada”, finalizou Carlos.
Quando comprou o imóvel em Piracicaba, interior de São Paulo, Dalmir Rodrigues da Silva, corinthiano, 47 anos, sócio dos Gaviões da Fiel, jamais imaginava que a casa guardava um verdadeiro tesouro.
No mês de abril, Dalmir e sua esposa Noemi resolveram verificar se o sótão precisava de uma limpeza. A surpresa veio ao encontrarem uma mala cheia de camisas com os símbolos do Corinthians e dos Gaviões da Fiel. Eram dezenas de camisas, faixas de campeão, bonés… Verdadeiras relíquias, como faixas do bicampeonato Brasileiro de 98 e do tri de 1999, campeão Mundial de 2000 entre outras. Camisas eram mais de 50, variadas.
“Minha reação foi de espanto, de surpresa. Minha esposa diz que eu parecia bobo vendo aquelas peças. Cada peça que eu tirava da mala e estendia no chão, eu vivia uma emoção diferente, falava uma frase diferente, eu tentava imaginar que história que o verdadeiro dono teria vivido com elas no corpo”, relatou Dalmir.
Dalmir só conseguia pensar que precisava encontrar o verdadeiro dono das relíquias.
“Jamais pensaria em ficar com elas. Elas contam histórias de outra pessoa, outro corinthiano, outro Gavião.”
Tirou fotos, publicou em um grupo de amigos corinthianos e logo chegaram ao verdadeiro dono daquele tesouro. Enquanto isso, Noemi lavou tudo com muito carinho.
Há cerca de sete anos, ainda quando morava em Piracicaba, o também corinthiano Carlos Cristiano Mascari, 47 anos, técnico de manutenção numa empresa que fabrica equipamentos hospitalares, sentiu falta de algumas camisas de seu uso cotidiano e camisas, faixas e bonés que eram de seu pai, já falecido. Em 2017, quando terminou seu casamento, a ex-esposa não soube dizer onde estavam. Na verdade, ela havia escondido a mala no sótão da casa de uma tia, exatamente a casa que Dalmir compraria mais tarde.
“Coisas de ex magoada”, diz Carlos.
Dadas como perdidas, Carlos se mudou para São Bernardo do Campo e reconstituiu sua vida.
À redação da Central do Timão, Carlos contou que foi acordado pelo telefonema de um amigo de Santo André, também membro dos Gaviões.
“Sim! São minhas! São as camisas do meu pai!“.
“Quando vi aquela foto, vi meu pai dentro da camisa que ele usava constantemente. Faz 14 anos que ele faleceu. O sentimento de saudade muito forte. Eu chorei, eu ri, eu não sabia o que fazer e o que dizer, porque essas camisas são o significado da relação de um corinthiano que aprendeu a ser corinthiano com seu pai desde a infância”, disse Carlos.
“Inclusive a camisa da ala dos convidados, que foi a primeira vez que desfilei na escola dos Gaviões, guardava com muito carinho.”
Sócio dos Gaviões desde 1989, com cerca de 14 anos, Carlos Cristiano ainda guarda sua primeira carteirinha.
“Foi uma troca de emoções muito grande, foi muito intenso. Eu sou Corinthians, ou estou com uma camisa do Corinthians, ou com uma bermuda, eu tenho tatuagem do Corinthians, é uma paixão que tenho desde a infância e tudo isso reviveu muito intensamente a presença do meu pai junto de mim.”
Frequentador assíduo da Arena Corinthians, Carlos espera ansioso para encontrar seu novo amigo, após a quarentena, e receber de volta seu tesouro. Muitas novas e antigas histórias serão contadas.
Quando perguntamos às pessoas o que elas fariam se encontrassem um tesouro, a maioria responde que “depende… como iria procurar o dono de um tesouro perdido?” Por isso, conforta o coração saber que ainda existem pessoas como Dalmir, que não precisam ficar com um tesouro ‘achado’, porque carregam consigo um tesouro maior: a honestidade e a empatia.
“Fosse qualquer outra pessoa que não soubesse o valor de ser Corinthians e Gavião, jamais essas camisas voltariam para o meu dia a dia“, afirmou Carlos, com a certeza de que ganhou um amigo que também é um verdadeiro tesouro.
Matéria relacionada:
2019 @ Central do Timão - Todos os direitos reservados