Os Shanenawa habitam a região centro-norte do Acre, à margem esquerda do rio Envira, no Município de Feijó, que fica a 3.856 km de São Paulo. Mesmo tão distante da capital paulista, berço do Corinthians, um grupo de jogadores indígenas apaixonados pelo Timão criou um time de futebol amador para homenagear o clube alvinegro. A Central do Timão conversou com o zagueiro da equipe, Nashimar Huni Kuin, de 26 anos, que contou um pouco sobre a história e o cotidiano do Corinthians Shanenawa.
Segundo o zagueiro, a ideia para o nome do time surgiu há mais de dez anos, quando Anderson Shanenawa, um torcedor fanático pelo Corinthians, sugeriu a homenagem. Contudo, a equipe passou a ter maior visibilidade na região a partir de 2017, ano em que despontou como favorita nos principais torneios indígenas do extremo Acre.
Desde então, o Corinthians Shanenawa se tornou imbatível nas competições e até já foi notado pelo clube paulista. O superintendente de Marketing, Comunicação e Inovação do Timão, José Colagrossi Neto, entrou em contato com o time e publicou um vídeo nas redes sociais.
Nashimar garante que todos os jogadores da equipe são corinthianos, e que o grande sonho deles é conhecer o estádio do Corinthians, em São Paulo. Enquanto isso não acontece, o time indígena da Aldeia Morada Nova, inspirado na força e na raça mosqueteira, joga para vencer em todos os campeonatos que consegue disputar.
Atualmente, eles lideram a Copa Indígena e estão invictos há cinco jogos na competição, apesar da dificuldade para chegar ao local do torneio, disputado na Aldeia Paroá (Terra Indígena Katukina/Kaxinawá), que fica a três horas de barco do maior núcleo habitacional dos Shanenawa.
Eles ainda participam do Campeonato Shanenawa, este disputado na própria Aldeia Morada Nova, com 11 equipes postulantes ao título, e já foram campeões 28 vezes. Além de jogar futebol, também costumam assistir aos jogos do clube paulista. Quando uma partida não é transmitida em TV aberta para o estado, os jogadores corinthianos recorrem a um aplicativo de celular para não perder nenhum lance do Timão.
O zagueiro da equipe Shanenawa acredita que o time de Vítor Pereira pode vencer a Libertadores, o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil deste ano, embora tenha adversários “muito fortes” pela frente. Os maiores ídolos do atual elenco alvinegro na aldeia são o goleiro Cássio e os laterais Fagner e Fábio Santos.
Sem patrocínio, os jogadores e a comissão técnica do Corinthians Shanenawa pagaram do próprio bolso pelos uniformes da equipe, que levam o distintivo do Timão. Eles também costumam alugar um batelão (espécie de embarcação própria para operação próxima às margens de rios) para chegar ao campo onde a Copa Indígena é disputada. Tudo é custeado pelo próprio time, mas as adversidades não superam a vontade de vencer do aguerrido Corinthians indígena.
“É a força do Timão, a gente tem raça! Todos nós torcemos pelo Corinthians e, quando a gente tá dentro de campo, jogamos futebol e damos a vida pelo Corinthians. Temos um bom atacante, meio de campo, zagueiros, dois goleiros que dão conta do trabalho… Também temos técnico, auxiliar técnico, massagista e um bombeiro”, afirmou Nashimar à Central do Timão.
“Graças a Deus, está dando tudo certo, mas nós precisamos de muito apoio e de patrocínio para podermos nos organizar melhor. Os uniformes, meiões e chuteiras nós mandamos fazer com o nosso dinheiro, pelo nosso esforço, nós somos uma equipe bem organizada na raça”, concluiu o zagueiro.
Os próximos jogos do Corinthians Shanenawa acontecem neste fim de semana. No sábado (04), os corinthianos viajam à Aldeia Paroá para disputar a Copa Indígena, e no domingo (05), jogam pelo Campeonato Shanenawa, em casa, onde nunca perderam.
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