Na última quinta-feira, 27, o Conselho Deliberativo do Corinthians recebeu duas representações contra Romeu Tuma Júnior, presidente do órgão. Os documentos, endereçados a Roberson de Medeiros, presidente da Comissão de Ética e Disciplina, possuem listas diferentes de signatários: um afirma conter 75 assinaturas de conselheiros e o outro declara contar com o apoio de 1.817 associados do clube.
A Central do Timão teve acesso à cópia da representação assinada pelos conselheiros. O documento, com sete páginas, contesta diversas atitudes de Romeu Tuma Júnior, alegando que elas têm prejudicado o clube, e apresenta uma série de argumentos para justificar o pedido de seu afastamento da presidência do Conselho Deliberativo e seu posterior desligamento do quadro de associados do Corinthians.
“Condutas reprovadas”
A representação se inicia alegando que os conselheiros signatários têm convivido com “arbitrariedades e acusações” de Romeu Tuma Júnior, que, segundo o texto, vêm causando “repercussões negativas ao nome do Corinthians” e um “evidente desgaste ao Conselho Deliberativo”.
O texto acusa o dirigente de fazer afirmações e acusações sem provas em suas manifestações públicas, desrespeitando seus pares e agindo sem imparcialidade. Segundo os conselheiros, o objetivo de Tuma com essas atitudes seria “obter um mandato aos seus aliados, contrariando o entendimento dessa respeitada Comissão de Ética e Disciplina”, em uma clara referência à sua atuação na condução do processo de impeachment do presidente do Corinthians, Augusto Melo.
Em seguida, o documento aborda a reunião do Conselho Deliberativo realizada em 20 de janeiro, quando teve início a votação sobre o afastamento de Augusto Melo e os conselheiros aprovaram a admissibilidade do pedido contra o presidente. Segundo os signatários do requerimento, a condução da sessão por Romeu Tuma Júnior foi inapropriada.
A principal reclamação tem como objeto o uso inicial da votação simbólica para deliberar sobre a admissibilidade do pedido de impeachment do presidente corinthiano. Para os conselheiros, o uso de tal método seria uma “prática autoritária”, usando como justificativa o fato de a diferença de 12 votos, aferida após a realização da votação nominal, ter sido mínima.
Além disso, o pedido critica a mudança de posicionamento de Romeu Tuma Júnior em relação à existência de corrupção no Corinthians. Em junho de 2024, o presidente do Conselho Deliberativo afirmou em entrevista à Rádio Bandeirantes que não via corrupção no clube. No entanto, em janeiro deste ano, Tuma declarou o oposto ao mesmo veículo, dizendo que “a corrupção dentro do Corinthians é caso de polícia”.
Por fim, o documento encerra a contextualização do caso ao interpelar Tuma sobre sua afirmação de que os Gaviões da Fiel estariam sendo beneficiados, questionando diretamente: “Quem paga? Quanto paga? Para quem paga?”. O trecho faz referência a uma declaração do dirigente na mesma entrevista à Rádio Bandeirantes, na qual mencionou que “algumas alas da torcida” estariam recebendo benefícios da atual gestão. Na ocasião, Tuma declarou:
“Benefícios, benefícios com ingressos, com várias coisas. Se você beneficia de alguma forma, é sempre financeiro, é claro. Se você dá ingresso, se você dá espaço, se você dá autonomia em algumas coisas, é sempre financeiro. Então, assim, vamos lá, são pessoas, parte, não estou generalizando porque eu não gosto, odeio generalização. Eu também, às vezes, sou vítima de generalização. Então, nós precisamos muito esclarecer a opinião pública das coisas.”
Afastamento e desligamento
A representação, então, segue para a fundamentação legal, citando o Artigo 31 do Estatuto Social do Corinthians como base para a apresentação do pedido. O artigo estabelece que “as propostas de aplicação de penalidades poderão ser apresentadas por qualquer associado à Comissão de Ética e Disciplina.“
Além disso, também apela à garantia constitucional do direito de manifestação para afirmar que as ações do presidente do CD, segundo os conselheiros signatários do pedido, restringem a liberdade de expressão de
Com base nisso, o requerimento invoca o Artigo 28 do estatuto corinthiano, que lista as irregularidades cometidas por associados que podem resultar em seu desligamento do quadro social. Dois incisos são destacados: D (“cometer ato grave contra a moral social desportiva ou contra dirigente em função de seu cargo”) e E (“denegrir a imagem do Clube”). Em seguida, é solicitado que o presidente do CD seja suspenso liminarmente enquanto o processo disciplinar contra ele tramita no CED.
Estratégia arriscada
Segundo fontes ligadas ao Corinthians ouvidas pela Central do Timão, a abordagem técnica adotada no pedido é considerada arriscada, pois busca afastar Romeu Tuma Júnior da presidência do Conselho Deliberativo denunciando-o como associado, e não como conselheiro. Isso porque a previsão de suspensão liminar durante a tramitação de processos no CED é aplicável apenas a denúncias contra associados do clube.
Segundo apurado, a estratégia pode encontrar dificuldades para ser aplicada devido a um ponto simples: o estatuto do clube prevê um rito específico para conselheiros responderem a denúncias, descrito no Artigo 89. Esse é o mesmo procedimento utilizado no trâmite do processo de impeachment contra Augusto Melo.
Na descrição do rito de processos disciplinares contra diretores e conselheiros do clube, não há previsão para a suspensão liminar enquanto o investigado estiver respondendo às acusações. É justamente por esse motivo que Augusto Melo permanece no cargo de presidente do Corinthians enquanto luta contra seu afastamento.
Outro ponto sensível guarda relação com o número de assinaturas dos pedidos. Embora expressivas, elas ficaram abaixo do esperado pela base de apoio a Augusto Melo. Os signatários do pedido representam apenas 23% do Conselho Deliberativo, o que indica uma chance considerável de, ao ser votado, o pedido não ser acatado. Isso porque a aprovação requer maioria entre os conselheiros presentes no dia da votação.
Para efeito de comparação, o número de signatários é inferior ao total de votos que Augusto Melo recebeu na votação sobre a admissibilidade de seu impeachment, realizada em 20 de janeiro. Na ocasião, dos 240 conselheiros presentes, 114 votaram a favor do mandatário, enquanto 126 apoiaram a continuidade do processo, que acabou sendo aprovada. A reunião do CD, que está suspensa, só será retomada quando houver garantias de segurança para os conselheiros e para o patrimônio do clube, conforme determinação do presidente do órgão.
Nomes conhecidos e polêmicas na coleta
A lista de assinaturas pela destituição de Romeu Tuma Júnior reúne alguns nomes influentes da política corinthiana, como Dilermando Queiroz, delegado e sócio de Augusto Melo, o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, Rodrigo Martinez, proprietário da loja do Parque São Jorge, Cleidmilson Alves, irmão do diretor da base Claudinei Alves, e Débora Cristina di Macedo Jorge, esposa do novo diretor administrativo do clube, Ricardo Jorge. Além deles, a relação inclui integrantes das chapas que apoiam Augusto Melo, membros da Chapa 10 – Renovação & Transparência e representantes da família Dualib, como o filho e o neto do ex-presidente.
Entre os conselheiros vitalícios, apenas quatro assinaram a representação: Paulo Pinhal, que também assinou o pedido de impeachment de Augusto Melo, Edson e Cyro Dualib, além de William Sesso, pai da diretora de futebol feminino, Íris Sesso, e assessor da Presidência.
O processo de coleta de assinaturas entre os sócios também gerou polêmica no Parque São Jorge. Segundo relatos internos, a diretoria passou três meses colhendo assinaturas e houve reclamações de que alguns associados teriam sido pressionados a assinar o documento sob risco de perder benefícios, como cargos de assessoria, por exemplo.
Outro ponto de questionamento é a falta de transparência na verificação da legitimidade das assinaturas. O clube conta atualmente com mais de 35 mil associados cadastrados, e os 1.817 signatários representam menos de 5% do total. Além disso, há suspeitas de que algumas assinaturas possam ter sido colhidas de pessoas que não são sócias efetivas ou não atendem aos critérios estatutários para participação no processo, como o tempo mínimo de cinco anos de associação.
Romeu Tuma Júnior, que está no centro da disputa, defende que a atual gestão do Conselho tem cobrado da diretoria medidas como recadastramento obrigatório dos sócios, implantação de reconhecimento facial, cobrança de mensalidade online e controle de acesso para evitar fraudes eleitorais. Entretanto, segundo ele, a diretoria resiste à implementação dessas medidas, o que manteria brechas para possíveis irregularidades nas eleições internas do clube.
Outro fator que gerou críticas foi a contratação de uma empresa terceirizada para gerenciar os cadastros dos sócios, medida que, segundo relatos, pode comprometer a transparência e aumentar a influência da diretoria sobre o processo.
Movimentações políticas nos bastidores
Nos bastidores, o movimento pela destituição do presidente do Conselho Deliberativo é visto como uma tentativa de desmoralizar suas ações, especialmente o processo de impeachment do presidente Augusto Melo, que tramita no órgão desde agosto de 2024.
Apoiadores de Augusto Melo defendem que o afastamento de Romeu Tuma Júnior é imprescindível para que o presidente do Corinthians tenha “paz para governar”. Além disso, há indícios de um reagrupamento de forças políticas dentro do clube, com nomes como Antônio Jacinto Ribeiro, o Jaça, conselheiro influente há mais de três décadas na base do Corinthians e padrinho político do ex-presidente Andrés Sanchez, e Osvaldo Neto, ex-diretor das categorias de base na gestão Duilio Monteiro Alves, alinhando-se à base de apoio da atual diretoria.
Resposta do presidente do Conselho Deliberativo
Em nota à imprensa, Romeu Tuma Júnior reconheceu a legitimidade das manifestações pelo seu afastamento, destacando que são “cabíveis dentro do ambiente democrático do clube”, e afirmou ter a “consciência tranquila” de que, como presidente do Conselho Deliberativo, cumpriu o estatuto do Corinthians. No entanto, repudiou as acusações e a “utilização da estrutura do clube para coagir sócios e conselheiros” a assinarem documentos que, segundo ele, consistem em “mentiras vazias”. O presidente do CD ainda não foi convocado pela CED e, até o momento, não há previsão para o andamento do processo de destituição.
“Tomei conhecimento pela mídia de duas manifestações – uma de sócios, outra de conselheiros – que pedem meu afastamento.
Trata-se de manifestação cabível dentro do ambiente democrático do clube, e tenho a consciência tranquila de quem, como Presidente do Conselho Deliberativo, trabalha pela manutenção deste ambiente, sempre fazendo cumprir o estatuto, doa a quem doer.
Mantenho minhas convicções de que o Corinthians, com seus procedimentos estatutários em pleno funcionamento, é um espaço de livre manifestação e amplo direito de defesa.
Repudio, no entanto, as acusações infundadas e, sobretudo, a utilização da estrutura do clube para coagir sócios e conselheiros a assinarem essas peças narrativas de imensa má-fé e mentiras vazias, num simulacro de acusação que merece a fonte Comic Sans em que foram impressas.”
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