Relato de um torcedor que vibrou e se emocionou com o maior piloto de automobilismo de todos os tempos
O ano era 1984. Um jovem piloto paulistano e corinthiano, como muitos dos que lêem essa história, e que já encantava o mundo com audácia e perícia em categorias menores, estreava na principal categoria do automobilismo mundial, a Fórmula 1. Em uma equipe pequena, sem maiores aspirações chamada Toleman/Hart.
Porém, já mostrando a que veio, na sexta etapa do calendário, desafiou a forte chuva, o traçado difícil, carros melhores e campeões mundiais, como Nick Lauda, para um improvável segundo lugar no tradicional circuito de Mônaco, isso porque o diretor de prova, Jack Icks, interrompeu a corrida quando faltavam 44 voltas para o final, momento esse em que o novato já ultrapassava o francês Alain Prost e sua potente McLaren.
Nascia ali uma lenda das pistas, o “Rei de Mônaco”… E uma rivalidade.
Após o nono lugar em 1984, assina contrato com a Lotus/Renault. Ahhh, aquele carro preto e dourado (lembra alguma coisa a você, Fiel?)… Com um equipamento melhor, a primeira pole e primeira vitória viriam na segunda prova de 1985, debaixo de muita chuva em Portugal. Estava consolidado ali que aquele jovem veio para ficar.
A partir de 1986 passei a acompanhar de verdade o esporte em geral e minhas lembranças se tornaram mais evidentes. A partir daquele ano me tornei realmente um torcedor. Ano de Copa do mundo. Muita fé na Seleção Brasileira e a França no caminho do tetra.
Senna como todo bom brasileiro, ficou triste com a eliminação e virou alvo da zoeira dos mecânicos franceses da Renault. Ele não teve dúvidas, no dia seguinte, guardou uma bandeira brasileira no carro e após vencer o GP de Detroit, a tirou e exibiu por toda pista, mostrando para o mundo o orgulho de ser brasileiro. Surgia outra de suas marcas registradas.
Vendo aquela corrida não tive dúvidas para quem eu iria torcer de agora em diante.
Em 1987 começava a parceria vitoriosa com a japonesa Honda que era a nova fornecedora de motores da equipe. Lembro que nesse ano a Brinquedos Estrela lançou os autoramas de Senna e Piquet. Piquet um bicampeão do mundo, futuro tri naquele ano, reverenciado no país, um piloto sensacional. As crianças queriam o seu autorama. Eu não, eu queria o do carro amarelo (a equipe mudou de patrocinador naquela temporada e consequentemente as cores do carro), a Lotus de Senna. Uma pena que eu tenha ficado só na vontade…
Nesse ano veio a primeira de suas seis vitórias em Mônaco, até hoje um recorde na principal corrida da Fórmula 1 e um inédito terceiro lugar no Mundial de pilotos. Em 1988 assina contrato com a McLaren/Honda. É aí que a magia acontece durante seis temporadas.
Se junta a um consagrado e tricampeão Alain Prost. Começava para valer a maior rivalidade, beirando a irresponsabilidade, da história da categoria. Entre ultrapassagens, batidas, polêmicas, reclamações e ameaças de agressão, um novo Brasil x França seria jogado, dessa vez nas pistas. Dessa vez com vitória do Brasil. Não tinha uma manhã de domingo que não estivesse ligado na TV.
Nas corridas à tarde antes do futebol era torcida dupla. O despertador passou a ser peça fundamental para as corridas na madrugada. Era quase que uma torcida pelo Brasil. Não, na verdade era a torcida pelo Brasil. Eu me sentia representado. E veio o primeiro título, com muita determinação, após problema na largada e ser obrigado a ultrapassar 18 concorrentes, incluindo Prost que liderava, para vencer e se sagrar campeão. Lembro que fiquei ali, acordado, esperançoso que o título viria. E veio… Como valeu a pena aos 11 anos de idade ter ficado ali firme e forte, superando o sono.
Nas temporadas seguintes mais demonstrações de superação e garra como sua primeira vitória no Brasil em 1991 quando a vontade de vencer superou a dor, o desgaste e a pressão de Ricardo Patrese e sua Williams/Renault após terminar a corrida apenas com a sexta marcha (lembrando que naquele tempo era alavanca, como nos nossos carros, tinha nada de câmbio borboleta não).
Já tricampeão do mundo e com a tecnologia dominando a Fórmula 1, principalmente nos carros da Williams/Renault, em 1993 já sem o mesmo equipamento em mãos porém com o mesmo coração, Senna vence novamente no Brasil debaixo de chuva e sai carregado pelo povo em êxtase. O que eu gritei aquele dia.
E o que dizer da melhor primeira volta da história, em Donington Park, na Inglaterra, que rendeu até uma placa tal qual um golaço? Senna, que largou em quarto, caiu para quinto na largada, não se intimidou e antes da primeira volta acabar ultrapassou a todos, incluindo Prost que terminou em terceiro e na coletiva reclamou do seu tecnológico equipamento. Senna, ironicamente, perguntou: “Quer trocar comigo?” E assim foi em 1994.
Prost se aposentou com o título pela Williams/Renault e Senna ocupou seu lugar. Lembro que a expectativa era grande. O melhor piloto com o melhor carro não daria outra. O tetra era questão de pouco tempo. Mas algumas mudanças na regra para a temporada, como a tirada da suspensão ativa, deixaram os potentes carros mais perigosos. E vieram as duas primeiras corridas e uma quebra no Brasil, uma batida no Japão.
Dias antes do GP de San Marino, assisti a um jogo na França entre a Seleção Brasileira que se preparava para a Copa do Mundo e um combinado francês. Senna foi ao campo para o pontapé inicial. A torcida de seu grande rival o aplaudiu efusivamente, parecendo até uma despedida. E lá foi ele para Imola e sua a chance da redenção na temporada.
Na sexta-feira o acidente feio de Rubinho Barrichello, no sábado a morte do austríaco Ratzemberger. Mas Senna teria que superar tudo para vencer. E no domingo 1º de maio, lá foi ele para a pista.
Na frente da TV minha mãe comentou: “Esse rapaz não tá com a cara boa. Parece que tá indo correr para a morte”. Na hora dei um pulo e falei: “Sai pra lá. Ele vai ganhar e partir para o tetra.“
A corrida começa e um acidente logo na largada. Safety car na pista e como eu morava perto de um campo de futebol fui ver um pouco do jogo. Voltei pouco depois e assim que cheguei vi o carro todo espatifado e Senna dentro dele.
Minha mãe disse: “Te falei. Não era pra ele ter corrido hoje”. Respondi: “Olha lá, mexeu a cabeça. Já já sai do carro”. Não saiu. Era o último suspiro de um campeão.
E o helicóptero sai. E as notícias que chegam não são animadoras. Senna morreu.
Eu não conseguia entender e aceitar. “Como um ás do volante foi morrer assim?” Não lembro um sofrimento tão grande do povo brasileiro. Um ente querido de cada um tinha partido. Estádios gritaram seu nome. Todas as torcidas abraçaram aquele corinthiano que com muito amor e a boa e velha raça corinthiana levou o nome do Brasil ao lugar mais alto do pódio inúmeras vezes.
A superação, a obstinação, o orgulho, a garra, a vontade de vencer a qualquer custo…
Estamos falando de Senna ou do Corinthians? A simbiose é perfeita! E como muitos falam, heróis são imortais e seus feitos eternos.
E hoje, 26 anos após sua ida, eu e a Central do Timão, só temos que lhe agradecer.
Muito obrigado por tudo, grande Ayrton Senna do… Corinthians.
Por Marcelino Rocha / Redação da Central do Timão
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parabéns pela matéria!
a fórmula 1 nunca mais foi a mesma!
olê olê olê olá
SENNA SENNA!!!!!!!
Em 1984 foi a estreia dele , naquele ano como de costume estava em Jacarepaguá para torcer por Piquet , quando Senna passou em frente às arquibancadas comentamos , esse menino têm futuro !!! E olhem só quem foi esse menino ?
O melhor piloto de todos os tempos até aqui !
Saudades do menino!
No mínimo seria pentacampeão do mundo.
No mínimo seria pentacampeão do mundo fácil fácil!! 🇧🇷🇧🇷🇧🇷