Coletânea conta histórias de quem participou ativamente na construção da ‘Casa do Povo’; veja e se emocione
Segunda-feira, 30 de maio de 2011, 8 horas e 14 minutos: momento exato em que as primeiras máquinas foram ligadas na obra que viria a se tornar na Arena Corinthians. De lá para cá, nove anos de história, 200 jogos oficiais do Timão e milhões de ‘convidados’, entre partidas de campeonatos, tours e visitas.
O jornalista hispano-brasileiro, Tadeo Sánchez Oller, em 2014, publicou o livro ‘Arena Corinthians – a nossa casa’. Nele, o autor apresenta uma série de depoimentos de pessoas ligadas diretamente à construção do estádio. São declarações que ajudam a entender um pouco mais dessa história tão emblemática para os corinthianos.
Desde a década de 1970, o tempo foi passando e os projetos de estádio do Corinthians nunca saíram do papel. No máximo uma pedra fundamental foi colocada no local, com o intuito de garantir a posse do terreno. Porém, a recusa por parte da Fifa do uso do Morumbi para a Copa de 2014 foi o estopim para a casa do Timão virar realidade.
A possibilidade de sediar uma abertura de Copa deu um fôlego a mais para que as tratativas do estádio do Corinthians finalmente avançassem. Em 1º de setembro de 2010, nas comemorações dos 100 anos do clube, o projeto para a obra é confirmado para a Fiel. Daí para frente, foi necessária uma série de articulações entre poder público, construtoras e bancos para que, de fato, os planos saíssem do papel.
O design da Arena Corinthians foi assinado pelo arquiteto carioca Aníbal Coutinho, que declara:
“A filosofia do projeto foi a de ter uma acessibilidade muito boa, em poucos minutos, tanto para a entrada como para a saída. No nosso caso, o cálculo é de oito minutos. Além do tempo, outro diferencial é a plataforma de chegada, que permite contemplar todo o estádio. Logo que se entra começa o espetáculo. Quem chega já está dentro, antes mesmo de subir qualquer escada ou rampa”, cita Aníbal.
O marco oficial para o início das obras foi o dia 30 de maio de 2011. O próprio Corinthians reconhece a data como o start da construção da Arena. Para contar a história, nada melhor do que os fragmentos de depoimentos dos agentes responsáveis por transformar o sonho do corinthiano em realidade.
“No dia marcado, às 6:30h, vim de metrô do apartamento onde morei durante toda a obra, em Santa Cecília. Todo mundo madrugou e às 7:30h foi dado o start. Entre os equipamentos, usamos tratores para abrir os primeiros caminhos, retirar materiais orgânicos e ainda remover o mato rasteiro. Logo cedo apareceram mais de 30 repórteres. Por volta das 8h tive que enfrentar a minha primeira entrevista coletiva. Foi uma situação difícil. porque eu tinha pouca experiência em lidar com a imprensa. Nunca havia tido delegação da empresa para isso. Hoje me orgulho desta superação, mesmo porque, ali, naquele dia, tudo estava diferente, com muita festa, e não poderia haver falhas.” Frederico Barbosa, engenheiro responsável pela construção.
“Na segunda-feira, 30 de maio, cheguei cedo como sempre, antes das 6h, e por volta das 8:15h da manhã me reuni com os 22 operários mobilizados para a obra. Formamos um círculo e, com as mãos estendidas, puxei um Pai Nosso e pedi força, proteção e sorte para todos na nova empreitada. Em seguida demos o pontapé inicial: descemos no terreno junto com o técnico de segurança Almir Fontenele e orientamos os movimentos do primeiro trator.” Francisco das Chagas Lopes Souza, o ‘Mestre Pará’.
“Entrei no dia 28 de junho, e naquela época, os campos do CT ainda estavam presentes. Participei de toda a parte da construção civil. Desde o começo percebi que era uma obra grandiosa. Chegamos a ter 150 equipamentos sendo usados ao mesmo tempo. Só de caminhões eram uns cem, e a torcida sempre estava presente. Alguns torcedores pegaram até rabeira na primeira máquina trazida pra cá”, Mestre Gilson.
“Jamais vou esquecer o dia da inauguração oficial da obra, 30 de maio, porque foi a primeira e única vez na minha vida que o meu TDT (Treinamento Diário de Trabalho) matinal foi filmado e transmitido ao vivo pela TV. Tenho até uma foto em que estou descendo na frente, afastando os jornalistas com o trator logo atrás e eu abrindo caminho. Foi assim que coloquei a primeira máquina dentro do terreno” Almir Fontenele, técnico em segurança do trabalho.
“Em uma sexta-feira, 27 de maio, obtivemos autorização da Subprefeitura de Itaquera para intervir no canteiro. Esperávamos somente a publicação do alvará de execução para iniciarmos a obra. Adiantamos a chegada das máquinas, o que foi muito legal, porque as carretas chegaram bem cedo, fazendo muito ‘auê’, chamando a atenção do público e da imprensa. Por isso, o dia comemorativo do início da obra para mim deveria ser o sábado, 28 de maio, quando as máquinas chegaram”, Joel Ferreira de Santos, engenheiro civil.
A torcida acompanhou as obras de perto. Não era incomum pessoas saírem de lugares distante apenas pra verem a construção. Alguns personagens contam as histórias:
“Houve momentos em que foi duro segurar a emoção. Sei que há muita gente que veio aqui e jogou as cinzas de seus parentes falecidos. Eu mesmo sou testemunha, porque um conselheiro do time me pediu e jogou aqui no estádio as cinzas de seu filho. Não autorizávamos nem proibíamos. Como vamos opinar em uma decisão tão pessoal? Até porque se quisessem jogariam do mesmo jeito, sem ninguém saber”, Rodrigo da Silva Prado, responsável administrativo.
“Um numeroso grupo de pessoas veio de diferentes lugares do Brasil. Eram todos fiéis torcedores corinthianos. Tinham abandonado o emprego, largado tudo. Diziam ter vindo para construir o estádio do Timão, quase como uma missão sagrada. Na obra eles trabalharam com um zelo fora do comum. Na fase final diziam que sua missão estava cumprida e que agora poderiam voltar para as suas vidas normais”, Cibele Soares Santos Borali, assistente social.
“Aqui no estádio estive presente desde a abertura da obra, desde o minuto zero, com minha habitual vestimenta de mosqueteira. E mesmo morando longe, quase na contramão, tendo de pegar duas conduções, acordei cedo naquele dia e fui passo a passo desde a Avenida Radial com sal grosso na mão avançando pelo matagal, o terreno e os campos lançando sal grosso e água benta, abastecida na mesma fonte com a qual sempre abençoei o Pacaembu”, Vaquíria Dionísio de Jesus, torcedora, a ‘tia da Fiel’.
“Vieram mais jornalistas me conhecer e quase todas as emissoras de TV, até mesmo emissoras do exterior. Vieram repórteres da China, Itália, França e Espanha. Inclusive veio um jornalista primo do lateral-esquerdo Jordi Alba, do Barça. Depois começaram a chegar pessoas que não eram jornalistas, mas que queriam ver de onde a gente fazia as imagens. Veio até gente do Rio Grande do Norte só para conhecer o local”, Pedrinho, dono do “arenatimaoaovivo”, portal on-line que publicava imagens da construção em tempo real.
“Na noite em que soube que começariam as obras, criei uma comunidade no Orkut e coloquei o nome ’30 de maio de 2011 o começo de tudo’. Segunda-feira de manhã, meu dia de folga, eu estava lá. Fazia um pouco de frio e fiquei dado voltas pelo entorno. Logo vi máquinas e caminhões na Radial Leste. Aquilo foi fortalecendo a sensação de que agora era sério mesmo”, Amadeu Carvalho, o ‘Fiscal da Fiel’, perfil na internet que ficou famoso por acompanhar as obras de perto.
Todos os depoimentos foram extraídos do livro ‘Arena Corinthians – a nossa casa’, de Tadeo Sánchez Oller, lançado em 2014.
Por: Gabriel Gonçalves / Redação Central do Timão
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