Corinthians comemora nesta sexta, 54 anos de um título dividido em quatro; conheça essa história

Dar o título de campeão a quatro times diferentes, não foi o único entrave daquela acidentada competição, que sofreu com enchentes e adiamentos, sendo inclusive ameaçada de cancelamento

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Nesta sexta-feira (27), o Corinthians comemora 54 anos do seu quarto título do Torneio Rio-São Paulo de 1966, o último da chamada “fase clássica” da competição. Santos, Vasco da Gama e Botafogo também foram considerados campeões. 

Como se comemora um título dividido por quatro? Foi nessa insólita situação que se encontraram botafoguenses, corintianos, santistas e vascaínos, após a rodada que decidiu o campeão – ou os campeões – do Torneio Rio-São Paulo de 1966. Com os quatro empatados em pontos na liderança e sem a perspectiva de realização de um quadrangular de desempate, já que a antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD) exigiu a liberação dos convocados para a extensa fase de preparação para a Copa do Mundo da Inglaterra, o quarteto alvinegro foi proclamado campeão por suas respectivas federações estaduais, as organizadoras do certame.

Mas a história daquela acidentada competição também sofreu com uma série de outros problemas, ficando inclusive ameaçada de cancelamento. Conheça um pouco a história do conturbado Torneio Rio-SP de 1966.

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O primeiro grande obstáculo à realização do Rio-São Paulo veio da natureza. Em meados de janeiro de 1966, o Rio de Janeiro foi castigado pela pior enchente do século XX na cidade, deixando 250 mortos e mais de 50 mil desabrigados. Nos dias que se seguiram, muitos desses desamparados foram levados para o Maracanã, o que levou à interdição do estádio por tempo indeterminado.

Depois de adiadas várias partidas agendadas para a cidade nas primeiras rodadas, a solução foi levar alguns confrontos para o estádio de São Januário – contrariando a vontade dos clubes cariocas, que temiam públicos menores e prejuízos financeiros ao mandarem seus jogos na casa do Vasco, o que se confirmou.

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Entretanto, o torneio tinha lá suas atrações. A maior delas era, sem dúvida, a contratação de Garrincha, então com 32 anos, pelo Corinthians.

Após as três primeiras partidas em São Januário, o Carnaval chegou ao Rio e de novo tudo foi paralisado. Enquanto isso, a bola rolava em São Paulo, com a Portuguesa já tendo disputado quatro de suas nove partidas, o Corinthians já com três vitórias era o líder isolado, e o Palmeiras sequer havia estreado.

Na quarta-feira, 2 de março, no Pacaembu, o Corinthians estreou Garrincha, voltando de uma inatividade de seis meses, diante de mais de 44 mil torcedores, mas o Vasco estragou a festa, vencendo por categóricos 3 a 0. Enquanto isso, no Maracanã, o Botafogo, ex-clube de Mané, perdia de virada para o Flamengo por 2 a 1. Três dias depois, os cruzmaltinos alcançavam a liderança, ao lado de corinthianos e são paulinos.

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No domingo seguinte, dia 6 de março, foi a vez de São Paulo sofrer com a chuva e enchentes. Com a transferência do Mercado Municipal para a praça Charles Miller, nas imediações do Pacaembu, o estádio foi fechado, impedindo a realização do clássico entre Corinthians e Palmeiras. Na quinta-feira, dia 10, acontecia o esperado reencontro de Garrincha com o Botafogo, também no Maracanã. E o Corinthians voltaria a sofrer, goleado por 5 a 1.

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Nessas alturas o Vasco era o líder disparado. O Timão se recuperaria e embolaria a competição ao vencer o São Paulo, que era o vice-líder, por 2 a 0, com atuação extraordinária de Garrincha, autor de um dos gols. E no domingo, enquanto o Flamengo goleava o Fluminense por 4 a 1 no Rio, o líder Vasco apanhava de 5 a 2 diante do Santos no Pacaembu.

Herói contra o São Paulo, Garrincha voltou a decepcionar no jogo seguinte, o adiado clássico contra o Palmeiras, realizado na segunda-feira, 21. Aos 43 minutos do segundo tempo, o ponta perdeu a chance de empatar o jogo e colocar o Corinthians na liderança junto com o Vasco ao desperdiçar um pênalti, chutando fraco para a defesa de Valdir.

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O Palmeiras se tornou líder, mas não teria vida longa. Jogando sua quarta partida em oito dias, mostrou cansaço e perdeu por 3 a 2 para o Santos no Pacaembu, e a vitória alçou o Peixe à liderança provisória do torneio, com 10 pontos. O Botafogo começava seu sprint final, batendo o Bangu por 3 a 1. Em seguida, o Vasco ganharia uma sobrevida, retomando a liderança ao derrotar a Portuguesa – que encerrava sua participação – por 1 a 0 no Maracanã mesmo jogando mal e sendo vaiado pela própria torcida. O Corinthians seguia vivo após bater o Flamengo por 3 a 1, acabando com as chances rubro-negras de conquistar o título.

Às vésperas da última rodada, já era aventada nos jornais a possibilidade do título dividido, no caso de uma específica combinação de resultados. Aliás, comentava-se inclusive a chance de um empate quíntuplo na liderança, já que o Palmeiras também poderia terminar com 11 pontos caso vencesse o São Paulo no sábado, 26 de março – mas o Alviverde viu suas expectativas morrerem ao perder por 4 a 2 para o Tricolor.

Assim, no dia 27, os quatro postulantes ao título entraram em campo nas seguintes condições: o Vasco era o líder com 11 pontos, seguido por Santos e Corinthians, ambos com 10, ao lado do São Paulo, que já havia encerrado sua participação. O Botafogo (que só tinha chance em caso de empate quádruplo) vinha mais atrás, com nove, mesma soma do já eliminado Palmeiras. E, curiosamente, os alvinegros se enfrentariam.

No Pacaembu, em jogo bastante tumultuado, corintianos e santistas ficaram no 0 a 0, mas não faltou polêmica e emoção. Coutinho e Mengálvio foram expulsos ainda no primeiro tempo, e o Corinthians teve a chance da vitória em pênalti de Zito em Garrincha, mas Laércio defendeu a cobrança de Flávio.

Empatados na tabela, os rivais paulistas aguardaram notícias do Maracanã, onde Vasco e Botafogo entraram em campo um pouco mais tarde, já que a partida entre Fluminense e Bangu, que seria jogada na véspera, havia sido cancelada em virtude de um temporal (mais um) e transferida para a preliminar do outro clássico, em rodada dupla.

Assim, os cruzmaltinos precisavam de um empate para levantarem o título sozinhos, mas perderam para o Botafogo por 3 a 0.

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No balanço final, embora tenha sido uma competição de tiro bem curto, o Rio-São Paulo teve quatro campeões com trajetórias bem sinuosas até o título. O Vasco, enquanto teve fôlego, começou arrasadoramente, graças a um retrancado sistema defensivo e quando “virou o fio”, somou apenas os pontos suficientes para não perder o título. Já o Botafogo, hesitante no começo, valeu-se da arrancada final, correndo por fora, para alcançar a liderança.

Do lado paulista, o Corinthians de Oswaldo Brandão acumulou pontos importantes bem no início do campeonato, rateou nos primeiros jogos com Garrincha, mas logo voltou a se mostrar competitivo. Já o Santos, mesmo desfalcado, mostrou a força de seu elenco. Os quatro times alvinegros se tornariam campeões: Corinthians, Vasco, Botafogo e Santos.

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Para completar, o desfecho do torneio acabou ofuscado por dois outros fatos, ambos relativos à Copa do Mundo que viria. Da lista dos convocados pela Seleção Brasileira, 41 atletas atuavam por clubes que disputaram o Rio-São Paulo, sendo quatro do Corinthians. O segundo fato a ganhar destaque era o fim do dramático episódio do roubo da taça Jules Rimet em Londres, encontrada pelo cãozinho Pickles num terreno baldio embrulhada em um jornal.

O regulamento do Torneio Rio-São Paulo de 1966 não previa qualquer critério de desempate. Havia várias possibilidades de desempate, caso algum critério fosse previsto no regulamento. O Corinthians e o Vasco, por exemplo, venceram mais jogos.

O Timão fez nove jogos, sendo cinco vitórias, um empate e três derrotas:

13/02 – Fluminense 0 x 2 Corinthians

17/02 – Corinthians 1 x 0 Bangu

24/02 – Corinthians 5 x 4 Portuguesa

02/03 – Corinthians 0 x 3 Vasco

10/03 – Botafogo 5 x 1 Corinthians

19/03 – Corinthians 2 x 0 São Paulo

21/03 – Palmeiras 2 x 1 Corinthians

24/03 – Corinthians 3 x 1 Flamengo

27/03 – Corinthians 0 x 0 Santos

Por Redação da Central do Timão

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